No último sábado (12), o projeto AfroGames comemorou dois anos de vida e abriu seu terceiro ano letivo com o anúncio de mais dois centros na cidade do Rio de Janeiro, estes no complexo da Maré, nas favelas da Nova Holanda e Vila do João. Com as duas novas unidades, o AfroGames contará com aproximadamente 350 alunos, todos jovens das comunidades.
Terceiro ano do AfroGames, chegando a 350 jovens de favela sendo atendidos com aulas de inglês, com aulas de programação, com aulas de jogos é mais do que esperávamos. Estamos muito felizes em conseguir ampliar para três sedes e poder levar o mundo bilionário dos games pra dentro da favela. O projeto se consolida como modelo de integração digital e social para o Brasil e para o Mundo, mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos na pandemia.
A frase acima é do cofundador do projeto, Ricardo Chantilly, que agradeceu o apoio de todos os patrocinadores e também da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, que também esteve presente no evento de aniversário no último sábado.

Em entrevista ao Mais Esports, o empresário falou também do sentimento de expandir o projeto, depois do difícil ano de 2020, quando o AfroGames parou devido ao início da pandemia.
“É muita felicidade, porque no momento que vemos a realidade do Brasil, de fechamento de escolas por dois anos, aumento do analfabetismo, índices piorando por causa da pandemia, nós num projeto paralelo conseguir manter e ainda ampliar, é realmente uma felicidade extrema”, desabafa Chantilly.
Graças a uma parceria com uma empresa ainda a ser revelada, o AfroGames conseguiu possibilitar a abertura de mais duas unidades no Complexo da Maré, ainda no Rio de Janeiro. O empresário declarou que, mesmo sendo menores do que o núcleo em Vigário Geral, as novas unidades contarão com cursos de programação de jogos, aulas de inglês, e também um jogo Mobile, não revelado.
“Se não fosse o AfroGames, meu filho estaria morto”
Além da inclusão de jovens de comunidade no meio de Esports e em toda a sociedade, Ricardo também explicou como o projeto pode, literalmente, salvar vidas. Tanto na entrevista ao Mais Esports, como no momento do anúncio, o empresário compartilhou o que ele considera como uma das histórias mais incríveis e que mostram o motivo de projetos como esse serem fundamentais.
Um dia nós estávamos aqui e recebemos três mães de alunos. Quando eu perguntei a elas o quão importante tinha sido o projeto para os filhos e para elas, uma das mães começou a chorar. Ela disse que, se não fosse o AfroGames, o filho dela estaria morto, pois todos os amigos dele estavam mortos.
Chantilly conta que o relato da mãe comoveu a todos do projeto, inclusive a ele mesmo que declarou, em lágrimas, que aquela história deu um “boost” de ânimo para mais dez anos de iniciativa.

O empresário admite que já houveram momentos onde ele pensou em desistir, mas diante de histórias como essa, ele enxerga que não pode simplesmente abrir mão da iniciativa. “Por vezes fazemos 18 reuniões, com 18 empresas diferentes, e somente uma fecha conosco. Tem que ter muita resiliência, muita paciência. Nós mostramos os vídeos e todos gostam, mas esquece isso, vem aqui ver, sentir a energia que esse lugar emana.”
Jovens que são uma, até a única, fonte de renda da família
Dentro do AfroGames, conhecemos histórias dos primeiros times do projeto, times oficiais, que recebem o auxílio Bolsa Atleta do Governo e conseguem ajudar suas famílias. Uma das jogadoras é a Gabi, suporte do time de League of Legends do projeto. Inspirada por Baiano e seu estilo agressivo, ela sonha em atuar no CBLOL.

“Antes de conhecer o projeto, eu era estagiária, mas agora sonho com a carreira de pro player. É o que eu quero fazer, desde que assisti à Final do CBLOL aqui no Rio, vi o Flamengo ser campeão, eu quero ir para São Paulo e ser profissional”, declara a empolgada jogadora.
Eu assistia muito o esA antes mesmo dele ser suporte, mas o Baiano eu sempre curti muito de ver porque ele era agressivo, jogava para cima e eu gosto muito disso. Claro que também erro muito, sou bastante punida, mas aprendo bastante assistindo ele.
Ela conta ainda que quer servir de exemplo e de inspiração, não só para meninas, mas também para todos que possuem uma origem humilde e moram em favelas, assim como ela. “Quero mostrar para todos que é possível, se eu consigo, todos podem também.”
Além das duas novas unidades, que serão inauguradas em Abril, Ricardo Chantilly também prometeu que um terceiro novo centro chegará em Niterói, mas que no futuro, o objetivo do AfroGames é ir até São Paulo.
Ainda no primeiro semestre, também vamos reformar e reativar todo o nosso estúdio de áudio, vamos lançar a nossa gravadora, nosso selo, para criar trilhas sonoras para games. Queremos abrir em outros lugares, temos um local no Morro Cantagalo, tenho o sonho de ir pra lá, construir uma Arena Gamer, ainda não consegui a verba, mas desistir não é uma opção. Com isso, quem sabe, vamos para São Paulo no ano que vem. Talvez seja o objetivo, mas para este ano, queremos abrir esses novos lugares, além de empregabilidade. Queremos mostrar que o jovem pode ganhar dinheiro aqui dentro, jogando, stremando, sendo um participante do AfroGames.
Quando conversou com o Mais Esports há quase três anos, Chantilly chegou a declarar que os Esports tradicionais só se tornaram grandes depois da entrada de pessoas negras. Agora em 2022, ele declara que, na elite dos Esportes Eletrônicos, ainda não enxerga uma diferença grande em relação depois desse tempo.
“Porém, eu vejo uma melhora. Na elite ainda não enxergo, mas nesses anos de projeto, criamos caminhos”, conclui.
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