Overwatch acabou de completar um ano de lançamento, mas a seleção brasileira que vai representar o país na Copa Mundial já se conhece há muito mais que isso. A line-up se conheceu no Team Fortress 2, no modo de jogo bball, em torno de 2009. Todos jogavam no mesmo servidor portanto acabaram virando amigos com o passar do tempo. Apesar de terem se conhecido naquela época, raramente acontecia de todos jogarem no mesmo time — geralmente as equipes eram formadas por Rodrigo “kolero” Kröber, Felipe “liko” Lebrao, Eduardo “dudu” Macedo e outras pessoas enquanto Vitor “KREPSKER” Krespsky, Renan “alemao” Moretto e Mateus “neil” Kröber jogavam em outros grupos.
Os campeonatos de Team Fortress 2 se resumiam em vitórias da MONSTER Gaming, que passou a ser conhecida como Keep Gaming no Overwatch depois do Corujão MAX5, torneio realizado em maio de 2016. A organização, apesar das alterações de roster, costuma disputar as finais de Overwatch com a Brasil Gaming House, motivo por qual Keep vs BGH se tornou um clássico do cenário brasileiro do jogo.
Quando Overwatch foi anunciado, em 2014, a comunidade quase inteira de Team Fortress 2 se interessou pelo jogo. Em um certo momento, dudu, que tinha ficado sabendo do jogo por meio do KREPSKER, disse no TeamSpeak do grupo de amigos “e aí galera, vamos comprar esse jogo? Parece ser bom”, lembrou kolero. A partir daí, a migração de jogadores tomou forma e quem antes fazia parte da comunidade de TF2, passou para a de Overwatch, mesmo tendo ficado a princípio ‘pé atrás’ com o preço do FPS.
A migração de Team Fortress 2 para Overwatch ficou ainda mais forte após o lançamento, quando os torneios brasileiros começaram a se estabilizar e os jogadores que ainda não tinham adquirido Overwatch começaram a criar confiança no jogo. A adaptação não era algo tão preocupante assim, já que o jogo anterior era similar ao atual, com personagens de jogabilidade parecida, e o maior problema seria quase exclusivamente o formato do jogo, já que Overwatch depende muito mais de trabalho em equipe enquanto Team Fortress 2 podia ter uma pessoa se destacando e ‘carregando’ o time.
A line-up da Copa não era do jeito que é hoje: eles começaram o trajeto sob o nome de based, com wanka ocupando um lugar de suporte ao lado do alemao. Nem tudo era um ‘mar de rosas’, e wanka deixou de jogar Overwatch, abrindo uma vaga para ZacEfron. Foi essa roster, com Zac, que representou a Black Dragons, organização que apostou em Overwatch, se destacou e obteve primeiro lugar nos campeonatos nacionais, como o Rei do Abate e GTX Nvidia Challenge, realizado na Brasil Gaming Show, em São Paulo, o segundo presencial brasileiro.
Após a BGS, a equipe decidiu trocar de suporte mais uma vez. Foi aí que kolero — que tinha uma pool de heróis maior — entrou. O jogador já havia jogado em outras equipes, mas foi na Black Dragons onde cresceu e se adaptou melhor. Foi apenas após a Old Spice Tournament, campeonato que teve R$ 50 mil como premiação, quando a line-up sofreu outra alteração. KREPSKER teve que sair da equipe por motivos pessoais e André “Lee” entrou como manager enquanto Murillo “murizzz” Tuchtenhagen, que havia disputado no torneio sob o nome da também finalista WS Esports, completou a roster.
Quando murizzz entrou na line-up, os jogadores já não representavam mais a Black Dragons. A equipe optou por dar adeus à antiga organização que os acolhera e aceitar a proposta de um homem que apostava neles e no jogo, Filipe ”PiBR” Cardili, dono da Brasil Gaming House, organização a qual a roster defende atualmente. Desde então, a Brasil Gaming House vêm acumulando vitórias — como os torneios da Brasil Game Cup e Última Arena — no histórico.
A Brasil Gaming House também adquiriu Yuri “insanityz” Ribeiro, jogador participante da Copa de 2016, como técnico para trabalhar ao lado de Felipe “baba1u” Soares, que atua com a equipe desde o início.
Cenário internacional
No anúncio da Copa, em abril, a equipe toda começou a criar expectativas sobre a line-up. A princípio a maior preocupação eram os membros do Comitê, que selecionaria os jogadores para representar o Brasil. Quando os membros do comitê foram definidos, Cooruja, pOkiz e baba1u, treinador da BGH, e a line-up completa da Brasil Gaming House foi anunciada como a seleção brasileira, iniciou-se a correria para obter o visto norte-americano e garantir a ida aos Estados Unidos, destino do grupo G, onde o time Brasil se encontra.
É a primeira vez que os jogadores vão disputar no exterior, com exceção de murizzz, que era jogador de Heroes of the Storm antes de entrar no universo de Overwatch. A equipe vai viajar em agosto em direção à Burbank, Califórnia, onde vai enfrentar presencialmente as equipes dos Estados Unidos, Taipé Chinesa e Nova Zelândia para tentar garantir uma vaga na final da BlizzCon, dias 3 e 4 de novembro em Anaheim, Califórnia.
Apesar de ser a primeira vez competindo contra jogadores internacionais, a BGH já jogou contra times norte-americanos e coreanos no Alienware Monthly Melee, onde tiveram jogos disputados contra a Fnatic, FaZe Clan e RunAway — equipe coreana a qual levaram a vitória — e perderam de 2-0 para a Rogue, time vencedor do APAC Premier 2016. O ping alto, especialmente no servidor west coast, pode ter influenciado os resultados.
Interferência de família e amigos
A princípio foi difícil para todos os integrantes convencerem os pais sobre o investimento no Overwatch. É relativamente difícil convencer alguém que não tem contato com esportes eletrônicos que isso pode ser uma profissão. “No início era meio esquisito, mas quando viram que comecei a ter um salario e ganhar dinheiro ficou de boa e até hoje torcem por mim. Minha namorada e amigos acham legal”, revelou kolero. “A princípio foi um pouco difícil com os pais porque eles não entendiam muito bem que poderia ser uma profissão, mas quando eu expliquei a situação e eles viram que eu comecei a ter sucesso dentro do jogo a família inteira começou a me apoiar”, adicionou dudu.
Com neil a situação foi um pouco diferente: a mãe apoiou, mas o pai ficou cético no início. Já em questão de apoio de amigos, neil conheceu sua namorada, que queria aprender a jogar de tank e buscou ajuda com ele, por meio do Overwatch.
O jogador mais novo, murizzz largou a escola para se dedicar aos esports. Ganhou o apoio dos pais e se dedicou ao Heroes of the Storm, onde começou sua carreira e viajou para jogar presencialmente em lugares como Suécia, Coréia do Sul e Estados Unidos antes de decidir investir em Overwatch.