A paiN Gaming venceu a Vivo Keyd Stars (VKS) na grande final do CBLOL 2024 2° split e o Mais Esports conseguiu entrevistar, de maneira exclusiva, o Cariok, o único remanescente da line campeã de 2021, mas que representa muito mais que League of Legends.
“Com o tempo, entendi sobre representatividade”, diz paiN Cariok
Entrevistas costumam ter início, meio e fim, das perguntas até sua produção, mas esta entrevista com o Cariok foi especial e vai começar pelo fim. Perguntei ao Cacá o que ele diria para o pequeno Cariokinha do passado, o menino sonhador da Baixada, depois de ter vivido a glória entre muitas dificuldades. Confira a resposta:
Ah, (diria) para ele seguir em frente, ele sempre sonhou bastante, então, sempre pensou que podia alcançar e ele conseguiu. Acho que eu não faria nada diferente na minha vida, não tenho muito arrependimento, sempre busquei alcançar meus objetivos e eu sempre tive pensamento positivo para isso.
Não é todo mundo que tem uma cabeça boa, que consegue ter a tranquilidade em saber que sua hora vai chegar e eu fico muito feliz de ser inspiração para o pessoal da Baixada Fluminense, em ser inspiração pessoal que é preto, que veio de lugares humildes. Fico muito feliz de poder representar, porque foi com o tempo que entendi o que era representatividade e o quanto significava.
Fico muito feliz de poder mostrar que é possível, então, se você estiver tendo um momento difícil, se você achar que sua hora não vai chegar, mano, vai chegar sim, não desiste, tudo tem o seu tempo e Deus sabe de tudo.
E como um redator carioca, talvez valha a pena contextualizar o quanto “vir da Baixada Fluminense” representa. Segundo dados do Censo 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a Baixada tem 69% da sua população se considerando preta ou parda, e, com certeza, não vemos esta representatividade nos palcos do CBLOL.
Além de um representante do povo preto e carioca, Cacá é um sobrevivente. A Baixada, que abriga 13 municípios cariocas, foi alvo de 3.605 operações policiais nos últimos três anos, que resultaram em 209 mortos e 339 pessoas feridas ou baleadas, é uma verdadeira zona de guerra! No entanto, as estatísticas não impediram o sonho do Cariok e de sua irmã, Jubs
A alegria de ver a irmã ser resiliente e ser campeã no VALORANT
Jubs também vive a intensidade da competição: jogadora do MIBR no VALORANT Game Changers, a atleta também sabe o que é enfrentar uma dinastia. A Team Liquid é quem domina a região, e só em 2024, foram três vice-campeonatos (dois classificatórios e o primeiro split) do MIBR para o time favorito.
Só que na segunda etapa, como boa carioca que é, ela manteve a resiliência com sua equipe e conseguiu despachar o bicho-papão da Liquid para a Chave Inferior e ganhou da LOUD na Grande Final. O irmão foi pelo mesmo caminho: após quatro finais seguidas contra a LOUD, ele e sua equipe jogaram o carrasco para a Chave Inferior e foi campeão no fim da competição.
Apesar do retrato do Rio ser um tanto mórbido, os filhos do seu Marcos e da dona Fernanda são símbolos vivos do que o povo brasileiro, não só carioca, tem de mais sagrado: a resiliência e a fé. E o campeão Cacá exaltou isso de sua irmã campeã, Jubs. Confira a fala do jogador:
Cara, eu fiquei muito feliz, eu fiquei muito feliz com o título dela. Eu estava assistindo ao jogo e estava igual um torcedor ali, eu estava nervoso, estava aflito.
E ela conseguiu ser campeã e eu tenho muito orgulho dela. Ela foi para o jogo 5 e eu sei, enquanto competidor, que o jogo 5 não é fácil: você tem que ser bastante resiliente, bastante centrado e ela conseguiu. E ela tinha falado para mim que eu ia conseguir também, que era o momento, e eu consegui, então eu fico muito feliz.
O sentimento de voltar para o palco internacional
Cacá também comentou como é voltar para o palco internacional, e agora não é sendo considerado um jovem promissor, mas sim um líder e referência dentro da sua organização. Confira:
Fico muito feliz, é algo que esperei por muito tempo. Depois de um tempo, eu até parei de pensar tanto lá fora, só queria muito ganhar o CBLOL para ter a chance também de jogar lá fora. Estou muito feliz de ter outra oportunidade, porque a primeira vez que fui eu consegui aprender muita coisa, eu consegui sentir a energia e eu sempre quis ter aquilo de novo e não vinha.
Agora é o momento e eu já falei para o meu time, acho que todo mundo tem o mesmo pensamento: queremos chegar lá fora e jogar bem, a gente quer bater de frente mesmo. Sei que o histórico recente do Brasil não tem sido um dos melhores, mas a gente sabe que a gente tem um elenco muito bom, sabemos que é uma chance ótima de representar bem o Brasil e vamos fazer de tudo por isso. Vai mudar bastante coisa de patch, mas a gente vai buscar esse bom resultado, eu estou muito feliz e ansioso.
Esta entrevista foi finalizada às 19h, no mesmo dia da Grande Final (07/09), mas o que tem de especial nisso? No momento em que desliguei o gravador, o Cariok abriu um sorriso e falou: “agora me dá um abraço”, e particularmente fiquei incrédulo. Mesmo após quatro horas de exaustão, cansaço, comprometimento e glória… Cacá em minutos conseguiu tirar um sorriso deste redator, fazendo valer o nick: não há nada mais Cario(k)a que isso!