Após um ano de alto investimento no Circuito Desafiante 2025, a LOS não conseguiu a sonhada vaga para o Tier 1.
A equipe contou com uma line-up que mesclava jogadores já renomados, como Netuno e, posteriormente, Aegis, a imports coreanos, e chegou a realizar um bootcamp de mais de dois meses na Coreia. Ainda assim, acabou ficando de fora do Torneio de Promoção contra a Isurus, que manteve sua vaga no CBLOL 2026.
Segundo Buzz, Chief Operating Officer (COO) da LOS, é equivocado acreditar que investimento, por si só, garante resultados. O executivo da Onda Laranja afirmou, em entrevista exclusiva ao Mais Esports, que a visão da comunidade sobre o tema precisa ser repensada:
Já passei por organizações grandes e pequenas, e algo que eu sempre fiz questão de deixar muito claro é: se investimento garantisse vaga, os milionários e bilionários seriam donos de todas as principais equipes e teriam todas as vagas do mundo. Esse é um paradigma que a galera precisa começar a quebrar.
O investimento não é para “comprar” um título. Ele serve para construir uma história, um time, uma modalidade, um setor. A gente gosta muito de fazer esse tipo de investimento quando ele é viável. Quando não é, a gente entra nas modalidades ou nos campeonatos com um time mais enxuto, com mais atletas de categoria de base, o que também fazemos com tranquilidade.
Buzz, por sua vez, segue confiante de que os resultados virão, ainda mais após a aquisição do MIBR pela EZOR, vertical da Spun Mídia que também opera a LOS. Segundo ele, o movimento traz tranquilidade interna e demonstra força ao mercado:
Eu, particularmente, enxergo isso como uma força muito maior do que o cenário tem hoje. Vamos ter duas pontas, praticamente duas equipes montadas pensando juntas, se ajudando e evoluindo dentro dos aspectos competitivos. Isso gera um valor muito forte para nós internamente.
Pelo menos para mim, à frente das coisas agora, isso traz uma segurança muito grande, porque eu tenho respaldo, tenho onde tirar dúvidas, com quem debater e conversar. As operações vão continuar distintas, separadas.
Confira, abaixo, o bate-papo completo com Buzz.
Como a LOS adaptou sua estratégia após ficar fora das franquias? Qual foi a principal mudança de visão da organização após deixar o CBLOL?
Assim, é óbvio que essas mudanças repentinas sempre vêm de uma maneira inesperada. A gente nunca está preparado para esse tipo de situação. Quando nós aplicamos para a franquia, tínhamos certa confiança no processo que estava sendo feito ali.
Sabíamos que éramos fortes candidatos a estar na franquia, mas, infelizmente, não aconteceu e vida que segue. Como tudo que a gente faz aqui dentro, nós sempre temos um plano B.
O que mudou na gestão do nosso time é que a gente não teria uma recompensa direta disso. Não estaríamos na principal liga, estaríamos brigando, o que gera uma pressão a mais de ter que subir, de ter que se classificar e tudo mais.
Mas, na elencagem, por exemplo, isso não fez tanta diferença, porque viemos com um time muito forte de qualquer maneira. Apesar de ter sido uma equipe que não entregou o resultado esperado, ainda assim montamos um elenco muito forte, e é assim que a gente trabalha, faz parte do nosso DNA.
A gente não gosta de entrar em uma modalidade ou colocar o pé na água de forma muito tímida. Tentamos realmente colocar nas nossas elencagens muito do nosso DNA competitivo, essa coisa de sempre estar apto a ser campeão, de ser uma surpresa e tudo mais. E não foi diferente neste split, apesar de tudo o que aconteceu.
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Vocês investiram mais que organizações do Tier 1. Isso traz algum sentimento de remorso, por assim dizer?
Eu não diria que é um sentimento de remorso. Eu acho que, em termos de projeto ambicioso, ele é, com certeza, mais ambicioso do que o de alguns times do Tier 1. Não é questão de ego, é muito mais uma questão de autoeficiência.
Nós sabemos do nosso potencial, sabemos onde queremos estar nos próximos anos, e isso não vai acontecer por sorte, mas por muito trabalho duro e investimento. É parte do processo, e estamos dispostos a trilhar esse caminho.
A gente não gosta muito dessa comparação de que existem times que fazem menos ou mais. Olhamos muito para dentro de casa, para o nosso próprio balaio. Se não subimos, se não demos conta, entendemos que foi erro nosso, incapacidade nossa naquele momento, ou algo que não conseguimos controlar e que precisamos ajustar para o próximo ano.
Vamos muito naquela de água mole em pedra dura. Estaremos lá, vamos chegar na principal divisão, isso é um fato, do jeito que as coisas estão.
Estamos dispostos a trilhar esse caminho e não existe sentimento de remorso. Pelo contrário, gostamos muito da Riot, somos muito próximos dos outros times que estão na franquia. Sabemos que é um cenário que só tende a crescer, que sempre vai gerar mais espaço, mais oportunidades, e estamos sempre preparados para elas.
O que faltou para o alto investimento feito no Circuitão se traduzir em resultado?
Olha, eu acho que isso é muito um paradigma que se criou dentro do cenário de esports, onde investimento seria garantia de alguma coisa. Eu estou nisso desde 2012 oficialmente e, não oficialmente, desde 2007. Então já faz bastante tempo que estou dentro dessa área.
(…) Sempre soubemos que investir não era garantia de vaga. É claro que, a partir do momento em que você traz peças com mais bagagem, responsabilidade e experiência, você começa a aumentar, de forma escalonada, as suas probabilidades. Mas, como eu sempre falo em esportes, o jogo é jogado.
Claramente, este não foi um split para nós. Diferente de outros momentos, não foi aquela coisa de “perdemos para nós mesmos”. Não, nós fomos superados, e isso faz parte do jogo. Um time ganha, o outro perde, e a vida segue.
Assim como nós já ganhamos de todo mundo, inclusive com o time mais barato da Série B, em 2017. Saímos da Série B até o Mundial direto, em um cenário em que ninguém acreditava, então isso é parte do game.
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A gente consegue investir até a página dois. Quem realmente senta, joga e vive o dia a dia são os atletas. Cabe a nós investir para capacitá-los ao máximo para esses dias de jogo. É óbvio que o formato da competição, por não ter um volume de jogos tão alto, pode ser prejudicial.
Ele é bem mais punitivo para times e grupos que ainda estão se desenvolvendo, e foi justamente o nosso caso.
Quando trouxemos o bootcamp com os coreanos, foi um investimento muito mais voltado para o grupo do que estratégico em si. É claro que você evolui na parte mecânica, macro e micro, mas o foco foi desenvolvimento de grupo: transformar o time numa equipe de verdade, quase como uma família.
Foi menos sobre fazer um bootcamp “para os caras melhorarem e estarem prontos para brigar aqui no Brasil” e mais sobre fortalecer o coletivo.
Lembro de uma fala do Kakavel em que ele comentou que ainda acredita nos bootcamps e nesse intercâmbio de culturas. Essa visão segue se mantendo?
Sim, sim. A gente vem muito do esporte convencional, do “mundo convencional”. Acreditamos em vivência, em 12 mil horas de trabalho bem feito para se tornar um perfeccionista e tudo mais. E, queira ou não, ir para esses bootcamps e ser sparring de times que são muito mais fortes que a gente traz experiência, traz bagagem.
É óbvio que você não pode fazer um bootcamp de qualquer jeito. Precisa ser uma estrutura bem pensada, em que realmente valha a pena cada minuto passado lá fora. Além de ser custoso, também é uma experiência que pode ser frustrante.
Então é preciso estar muito bem preparado para que isso agregue ao grupo de alguma maneira, para que eles realmente tirem proveito dessa experiência, dessa oportunidade, e não seja apenas uma viagem de fim de ano.
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O que motivou a troca pelo Aegis durante o Split, que é um cara mais experiente e com perfil diferente do Stiner?
Acho que, como você falou, foi uma oportunidade pelo fato de ele ser um cara experiente e já estar livre no mercado. Então meio que casou a oportunidade com o momento que a gente tinha ali.
O Stiner era um ótimo jogador, mas ainda é um jogador que precisa vivenciar um pouco mais, precisa de um pouco mais de bagagem. Chegamos a um ponto em que o grupo realmente estava começando a se frustrar com os resultados, começando a se frustrar com o próprio grupo.
Depois do scout, após a equipe técnica entender que era uma peça que faria sentido, nós aprovamos uma possível substituição e fomos atrás do Aegis para entender se ele poderia ser essa virada de chave para o grupo.
A ideia era que ele agregasse um pouco mais, trouxesse mais postura, liderança, uma energia diferente para aquilo que a gente precisava naquele momento. E, de fato, ele foi isso. Ele chegou totalmente renovado, com uma vibe muito diferente, e isso trouxe um ambiente novo para o grupo, uma espécie de renovação diária, vamos dizer assim.
Aquele sentimento de frustração pelas derrotas ou pelos resultados que não vinham acabou se acalmando bastante. Mas, ainda assim, como eu falo, é muito difícil.
Conforme o campeonato vai passando e o resultado não vem, você vai se vendo se afastar da tabela, se colocar para fora da disputa.
Acho que pesava muito também a sensação dos próprios jogadores de que não estavam conseguindo dar o melhor deles. Eles sabiam que poderiam entregar muito mais. Alguns estavam entregando tudo o que podiam, mas, ainda assim, as coisas não aconteciam.
Então foi meio que um conjunto de fatores: apareceu a oportunidade de trazê-lo, a nossa comissão técnica entendeu que poderia fazer sentido, e aí você coloca tudo na balança. Dentro do projeto, mais uma tentativa era válida para tentar salvar a campanha, para tentar buscar a melhor classificação possível.
Vocês chegaram a ter Nero, Kaze, Duduhh e Konseki no seu tier 3. Nenhum deles teve chance na equipe principal. Como é trabalhar esses jogadores mais jovens enquanto vocês lidam com a pressão de buscar a vaga no Tier 1?
Essa é uma linha bem tênue. A gente até tenta “barganhar” um pouco com a torcida, porque muitas vezes ela pensa que estamos perdendo tempo ou gastando energia com algo que não precisava.
Mas eu sempre vou reiterar: isso faz parte do nosso DNA. Em outras modalidades, inclusive, nós somos a organização que mais revela talentos, e vamos continuar fazendo isso, porque está muito dentro da nossa cultura.
A LOS, a Team One, todo mundo que está aqui dentro veio para criar oportunidades e transformar pessoas em pessoas melhores.
Queira ou não, ter essa molecada do Academy podendo se desenvolver aqui dentro é parte do que a gente gosta de fazer, e vamos seguir fazendo sempre, independentemente de o cenário estar bombando ou não. Vamos continuar formando essas peças.
Não à toa o Duduhh está com a gente. Ele foi um achado incrível lá atrás: colocamos o cara para fazer inglês, para fazer psicologia, demos oportunidade e isso está começando a se pagar agora.
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Faz parte do que fazemos, e não vamos deixar de fazer só porque, para alguns, pode parecer que não estamos indo pelo caminho correto ou que isso não está trazendo resultado imediato.
Falando de como equilibrar isso numa balança em que a pressão para subir não pese tanto, acho que é tudo questão de mindset. Estamos muito bem organizados e temos tudo muito bem definido. Temos equipe técnica para cuidar dos dois setores, temos pessoas para dar atenção a ambos.
Em vários momentos, esses elencos se ajudam bastante com as peças do Tier 1. Quando não temos treino marcado ou queremos treinar algo fechado, esses jogadores se completam na preparação uns dos outros. Então, para nós, é muito tranquilo esse aspecto de “gera ou não gera pressão” para subir enquanto seguimos trabalhando com eles.
O que fica para todo mundo é que isso faz parte da nossa história, da nossa cultura, e vai continuar acontecendo. E voltando ao ponto que você citou sobre essas peças que saíram e não chegaram a ser tão aproveitadas aqui dentro: a gente tem uma filosofia muito clara de sempre tentar oferecer a melhor oportunidade para o atleta, seja ela aqui ou não.
Você nunca vai ver a LOS segurando um jogador exclusivamente porque não quer que ele vá para outro time.
Se o atleta entende que aquela é a melhor oportunidade para ele e nós não somos capazes de chegar perto dessa mesma oportunidade aqui dentro, cabe a nós liberar esse jogador para viver o que ele quer, para correr atrás do sonho dele.
Somos bem tranquilos em relação a isso. Não à toa, já vimos atletas nossos despontando em várias modalidades e em vários cenários diferentes.
Vocês pretendem alterar algo na filosofia do time visando a vaga no Tier 1?
Eu acredito que mudar não. Eu acredito que nós vamos incorporar novas filosofias. Agora, com a aquisição do MIBR, com mais pessoas e mais experiência dentro da empresa, a gente vai agregando tudo o que funciona para ambos os lados e moldando isso dentro da nossa realidade hoje.
Então, possivelmente, vão aparecer outras filosofias e outras coisas que façam sentido para nós, que vamos ter que incrementar no dia a dia, trazer para o nosso convívio. E tudo bem.
Isso não muda o nosso planejamento, pelo contrário, só fortalece e dá um pouco mais de segurança em relação ao que estamos fazendo. Não é à toa que a gente está crescendo do jeito que está crescendo.
Então, por mais que o resultado no papel ainda não esteja acontecendo, tem alguém de fora olhando e dando muito valor para o que a gente está construindo aqui há tanto tempo. Isso só traz mais motivação, mais vontade de continuar fazendo isso acontecer.
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O nosso planejamento vai ser sempre o mais voltado para título, o mais voltado para resultado, mas também sempre prezando pela sanidade mental, sanidade financeira, saúde.
A gente nunca vai dar passos maiores do que a perna, porque sabemos os problemas que isso pode trazer, assim como já trouxe no ano passado. Então não muda, não muda a nossa filosofia. Pelo contrário, agrega, agrega bastante. Nós temos peças muito boas que podem somar à nossa forma de trabalhar, e a ideia é sempre melhorar.
Chegando agora no fim do ano e começo do próximo, a gente faz um review de tudo o que aconteceu, entende o que precisa ser melhorado, o que precisa ser substituído, o que precisa ser refeito. Essa é parte do nosso processo: estar sempre andando para frente, nunca andando para trás.
Como funcionará essa gestão de duas equipes, LOS e MIBR, sob o mesmo “guarda-chuva” dentro da EZOR?
Aqui dentro não vai ser diferente. Possivelmente só não estaremos nas mesmas modalidades, mas ambas as empresas vão continuar competindo nas suas respectivas frentes.
Como falei, apesar de serem empresas irmãs e estarem debaixo do mesmo guarda-chuva, não entendemos que seja necessária uma fusão completa ou troca de nomes, etc.
A LOS tem sua história, o MIBR também tem muita história. Ambas ainda precisam conquistar mais títulos, construir mais capítulos, e vemos muito valor nessas duas marcas.
Hoje, nos sentimos muito capazes, junto da EZOR, de gerir as duas com excelência naquilo que elas fazem.
Tem um recado final para a torcida da LOS?
Primeiro, agradecer pelo espaço e pela oportunidade de falar. O recado é sempre aquela positividade boa que vocês já estão acostumados.
Eu acredito que, por mais que às vezes pareça que a gente está parado ou que não dá ouvidos às torcidas de MIBR e LOS, a grande verdade é que estamos sempre aqui dentro dando o nosso máximo, fazendo as coisas acontecerem.
Mesmo que isso nem sempre transpareça da forma como vocês gostariam, estamos o tempo todo em busca do melhor resultado, do melhor desempenho e das melhores colocações.
A perspectiva para 2026, para ambas as marcas, é de muita vitória e muito sucesso. Cabe a nós, no dia a dia, trazer essa força e esse trabalho duro para dentro, e mostrar para vocês como esse ano tem tudo para ser muito bom para as duas organizações.
Obrigado à galera que acompanha, que torce. E estou sempre aberto para conversar, discutir e, claro, para as brincadeiras, sempre que necessário.





