A vitória da Luminosity no último final de semana colocou o Brasil novamente no topo do esport mundial e reascendeu um velho debate, que por muito tempo esteve dormente dentro da comunidade brasileira: a preferência da Riot Games por circuitos fechados, que não permitem que as grandes equipes do competitivo mundial participem de torneios criados por outras empresas (Com a IEM como única exceção, e mesmo essa com pesadas restrições).
Tendo isso em mente, o presente artigo se propõe a debater as principais vantagens e desvantagens de cada uma das formas de estruturação do calendário, ao mesmo tempo que faz uma recapitulação histórica e lembra a todos os motivos pelos quais temos um circuito fechado atualmente.
A opção pelo fechado: Um retorno a Season 2!
A ideia de circuitos fechados para cada região é uma ideia consolidada hoje, uma construção que se iniciou no League of Legends apenas na terceira temporada, quando a Riot Games decidiu lançar as League Championship Series na Europa e na América do Norte.
A adoção de um circuito fechado foi MUITO comemorada na época, por alguns motivos muito simples: a segunda temporada havia apresentado ótimos campeonatos internacionais, contudo eles tinham um período de tempo curto e na maior parte do tempo não existiam eventos.
Como não existia um calendário com muitas datas, a exposição das equipes era muito menor, o que dificultava a aquisição de patrocínios ao mesmo tempo que promovia constantes mudanças de equipes por regiões na busca por novos torneios (CLG.EU e Fnatic disputando a OGN Champions, por exemplo).
Apesar de não existir tanto tempo decorrido desde a segunda temporada, a estrutura do esporte eletrônico cresceu em níveis absurdos: enquanto antigamente a existência de uma gaming house era um luxo que pouquíssimas organizações no mundo podiam oferecer, hoje é impensável que equipes de alto nível, independente da região, não tenham acesso a esse tipo de suporte diário.
Essa expansão só foi possível graças aos esforços da Riot em providenciar uma plataforma consistente e com um calendário amplo para que patrocinadores tivessem interesse em divulgar sua marca, sabendo que em nenhum momento a equipe patrocinada deixaria de jogar por tempo indeterminado.
Passados muitos campeonatos com esse modelo, muitos reconhecem que apesar de suas vantagens, existem problemas muito grandes com ele, como a falta de grandes torneios internacionais (apenas dois anualmente entre as grandes regiões) e a manutenção das regiões wildcards como concorrentes fracos devido as escassas possibilidade de treinamento dessas equipes contra a elite do League of Legends mundial.
Aos críticos do circuito fechado, uma nova opção se abre: o Circuito aberto!
CIRCUITO ABERTO | ||
Competitividade | Premiações | Nivelamento Internacional |
Popular em jogos como Counter Strike: Global Offensive, o Circuito Aberto tem três grandes vantagens: competitividade, o dinheiro das premiações, e a internacionalização das disputas.
A expansão em competitividade provocada por um circuito aberto é inegável: quando equipes de alto nível podem treinar diariamente e se enfrentar constantemente existe uma expansão colossal do nível de jogo, e o próprio league of legends também é uma prova disso, visto que os jogos da primeira semana de mundial são de um nível técnico mais baixo que os jogos da segunda semana e dos playoffs. Dessa forma o circuito aberto possibilita jogos melhores, mas por ter um número de equipes muito menor, acaba também sacrificando o máximo de equipes suportados nessa estrutura: Enquanto o MLG columbos teve 16 equipes no torneio principal e 16 no qualifier, os splits regulares de LOL de primeira divisão pelo mundo contam com 106 times que recebem apoio regular da Riot Games.
As premiações maiores, outro diferencial do circuito aberto, são um grande atrativo em uma primeira análise, mas é sempre importante ressaltar: apenas as grandes vencedoras tem acesso a grandes premiações, o que dificulta equipes menores de se manterem jogando por muito tempo caso não consigam bons resultados durante um semestre.
A maior vantagem do circuito aberto, pelo menos do ponto de vista das regiões menores do LoL competitivo, é a possibilidade de equipes de outra regiões interagirem mais frequentemente com os grandes competidores do cenário mundial, o que ocasionaria uma diversidade nos campeões e aproximaria o nível das regiões.
Esse nivelamento internacional é uma verdade difícil de ser contestada, pois mesmo nos poucos momentos em que as equipes brasileiras tiveram condições de treinar com outras regiões por pouco tempos, mostramos um rápido avanço (KaBuM e Pain se saíram consideravelmente melhor em sua segunda semana do mundial). É importante ressaltar, contudo, que provavelmente teríamos um distanciamento ainda maior em nível nacional, visto que as poucas equipes da região que tivessem acesso a esses torneios massacrariam os oponentes nacionais, e pela forma de distribuição por regiões seria impossível que todas equipes brasileiras tivessem acesso aos melhores torneios em um circuito aberto.
Demonstradas as vantagens do circuito aberto, é hora de comentar sobre as vantagens do modelo atual, o circuito fechado.
CIRCUITO FECHADO | ||
Estabilidade | Salários | Nivelamento Nacional |
Maior Número de Profissionais |
Estruturação atual do competitivo de League of Legends, o circuito fechado sacrifica a emoção no curto prazo por um modelo que cresce lentamente, mas oferece mais segurança e é consideravelmente maior, tendo como principais pontos a estabilidade, a presença de salários, um nivelamento nacional e principalmente a acomodação de um número consideravelmente maior de profissionais.
A estabilidade deriva do fato de que existem compromissos semanais, que garantem visibilidade para patrocinadores e dinheiro para as organizações, além de garantir uma estrutura do torneio que permita um calendário com confrontos delimitados anteriormente, que possibilitam uma preparação antecipada para grandes jogos e um calendário equilibrado para os jogadores.
Os salários são outro ponto favorável do cenário fechado: não faz sentido que atletas de elite tenham de ser campeões regularmente para ter uma estabilidade financeira, visto que muitas organizações não pagam salários compatíveis com o esforço e os horários diários de um profissional, que não teriam como se manter na carreira sem o adicional oferecido pela Riot Games pela participação no torneio.
O circuito fechado, em oposição ao aberto, se propõe a criar um nivelamento nacional, fazendo com que existam um maior número de boas equipes dentro de uma região, diminuindo assim as possibilidade de sempre existir uma mesma equipe vitoriosa dentro do circuito fechado e aumentando as possibilidades de novos talentos surgirem e interagirem com as melhores equipes. Esse é um ponto contestável com as constantes finais TSM X C9 e os 5 títulos da Fnatic em 6 splits europeus, mas ele se mantém defensável nas regiões menores e essa sequência de acontecimentos não representou também uma superioridade colossal dessas famosas organizações em diversos casos.
A maior defesa do circuito fechado, sem dúvida nenhuma, é a quantidade massiva de pessoas envolvidas. Apenas considerando jogadores de alto nível, que recebem os benefícios regionais da Riot por disputarem a primeira divisão de sua região, temos mais de 550 pro-players. Somam-se a isso diversos analistas, técnicos, managers, reservas, publicitários das organizações e muitas outras pessoas que sobrevivem do competitivo em circuito fechado, pessoas que provavelmente não manteriam seu emprega caso a estrutura fosse alterada para um circuito fechado, que é ainda mais excludente e cruel com a equipe mediana que a estrutural atual.
E o Futuro?
É evidente que os dois modelos tem suas vantagens, e talvez seja possível conciliar eles, mas é inegável que o modelo atual beneficia uma escala muito maior de pessoas, o que indica que qualquer mudança deve ser feita com muito cuidado.
E você, qual modelo prefere?
Deixo como sugestão: A realização de um Split maior por ano, ao invés dos dois que temos hoje, com o resto do ano aberto para outros torneios aparece como uma boa sugestão, mas parte da estabilidade se perde de qualquer forma.