Essa carta não tem nada a ver com paiN,
ou com qualquer outro time,
Somente a RED Canids.
Não foram cinco dias, cinco semanas ou cinco meses.
A RED foi a minha casa durante cinco anos da minha carreira e da minha vida, então é impossível dar adeus à minha casa sem pensar em falar com vocês, torcedores da RED, com todos os jogadores e staff que fizeram parte dessa história, JP e Corradini.
Aqui, passei alguns dos melhores momentos da minha vida.
Esqueça o que te falaram sobre amor à primeira vista. Na época que eu entrei na RED, não acho que realmente houvesse pessoas que tinham o sonho de jogar pela RED.
Apesar de entrar para o cenário na KaBuM, ser rebaixado, ganhar o Circuito Desafiante em 2017 e ser bicampeão brasileiro em 2018, a verdade é que na época não me sentia muito bem na organização.
Entrei para a RED me propondo um desafio. A organização estava no Circuito Desafiante e eu já era um dos principais jogadores do país. Sabia que seria um passo para trás na minha carreira, mas com a expectativa que desse dois para frente depois.
E logo antes de começar o baque de ficar muito tempo no Desafiante, a RED já havia me conquistado com uma simplicidade que é fácil notar, mas difícil de fazer: o sentimento de família.
A RED me cativou.
E me cativou através dos pequenos detalhes. Das pequenas ações dentro da organização, a proximidade do JP e do Corradini com os jogadores, a maneira de se portar, de criar um ambiente confortável em um mundo cheio de pressão por resultados. A transparência de ambos com os jogadores e também com a torcida, como foi quando o próprio Corradini postou no Twitter sobre a minha saída.
A felicidade e o sentimento de pertencimento batiam na minha cabeça tão forte quanto o medo, e eu tive muito medo de jogar minha carreira fora.
Medo, e não arrependimento.
Imagina você ser um dos melhores Atiradores do país e tomar a decisão de ir para uma organização no Circuito Desafiante?
Estava desconfortável na KaBuM, mas não imaginava que o que me aguardava era dar quatro passos para trás. Com a equipe que tínhamos minha expectativa era ganhar rápido o Circuitão, dar o título para a RED e falar para eles: “Agora vamos continuar ganhando”.
No final, e foi algo que o JP sempre falou muito comigo, a grama do vizinho sempre é mais verde. Quem está em uma equipe não sabe os problemas que as outras passam, então para mim o objetivo era simples, mas virou um bixo de sete cabeças a cada campeonato que perdíamos.
O que me salvou foram realmente as pessoas.
Eu saí muito cedo de casa para apostar todas as minhas fichas como player. E foi apenas na RED que eu verdadeiramente comecei a me conectar com as pessoas.
Desafios não fazem pessoas fortes, desafios motivam. Pessoas fazem pessoas fortes.
Hoje, JP e Corradini são como pais para mim. Da mesma forma, Revolta e Wender me salvaram muitas vezes de becos sem saída e de alguns dos piores pensamentos que já tive.
Quando você é novo, talentoso e começa a carreira vencendo tudo, nenhum problema parece estar à sua altura. Tudo parece ao seu alcance, parece que tem uma receita de bolo para o sucesso, mas a vida te prova o contrário.
A jornada na RED me ensinou duramente que talento não é tudo se você não tem ao seu redor pessoas dispostas a fazer de tudo para que todos vençam. E muitos dos que me ensinaram isso chegaram de mansinho, sem avisar.
Aegis, Grevthar, Avenger, Guigo, Woodboy, Jojo, Cabu… Muitos desses caras viviam uma realidade muito diferente da minha, sempre entre o Tier 3, o Academy e o Desafiante. Quando eu me abri para entender o quanto eles eram importantes para a minha jornada como profissional e como pessoa, aprendi realmente o valor de uma equipe.
Cada jogador que passou pela RED me marcou de alguma forma para construir essa história.
Talvez hoje sendo bicampeão do CBLOL com a RED seja fácil falar de um final feliz. Não sei o quanto a minha jornada estaria completa sem os títulos. No começo, eu fiz de tudo para que a gente conseguisse levantar taças, mas esse ano…
Esse ano, mesmo sem vencer o CBLOL, foi um dos que mais tive a sensação de dever cumprido.
Ajudei todo mundo que eu precisava ajudar, dei o meu melhor mesmo não sendo o suficiente pro momento, mas para mim era mais do que só ganhar. Estava com as pessoas que eu amava e queria mostrar para eles que no final de tudo, por mais que não tivéssemos sido campeões, eu estava ali com eles e por eles.
É muito foda quanto você atinge esse sentimento. Quando você entende os verdadeiros valores, e que sabe que mesmo sem um título, as pessoas sabem que você tentou o seu máximo e deu o seu melhor, respeitou e tentou ajudar a todos, que você estava disposto a tudo para vencer. Que o que mais importava para você era ver elas vencendo também.
O meu sonho era me aposentar na RED Canids. Eu queria o meu futuro aqui, mesmo sem ganhar metade do que eu ganho. Não tem valor maior do que o meu sentimento pela organização. Isso não se paga. Deixei isso claro para o JP e o Corradini, chorei muitas vezes… mas respeito a decisão deles. Na RED, deixei tudo de mim, como pessoa e como profissional. Agora, preciso crescer de outra forma, encontrar outra razão, encontrar outra motivação para vencer. Não sei quando vou achar isso, mas vou tentar.
É muito cedo para falar que estou na reta final da minha carreira, mas os valores mudam. Hoje sei o meu valor como pessoa e jogador, e também que tenho um filho para criar e cuidar. Não sei até quando aguento jogar League of Legends, mas tudo é parte de um processo, se eu ganhar, se as coisas derem certo, se eu me reencontrar…
Enquanto minha paixão pelo jogo, meu fogo pela competição e minha vontade de vencer estiverem comigo, como estão, eu continuarei. Parar não passa pela minha cabeça.
E quando eu parar, a minha única certeza é que não vou ter nenhum arrependimento.
Enfrentar a RED vai ser estranho. É a minha casa. Todos me conhecem por gritar muito e provocar durante os jogos, então mesmo que isso aconteça, saibam que mesmo assim o respeito e amor são muito grandes.
E quanto à torcida…
Vocês estavam com a gente em todos os momentos. Tem muitos torcedores, muitos nicks no chat, @s nas redes sociais, rostos na arquibancada que, tenham certeza, nós nos lembramos. Eu me lembro.
Pessoas que estão com a gente e pessoas que já não estão mais entre nós.
Sempre tentei estar o mais próximo possível de vocês, seja interagindo nas redes sociais, fazendo lives, autografando camisas, copos, cadernos, conhecendo em eventos e dias de partidas, por mais cansado que estivesse.
Dei a cara a tapa em momentos difíceis e que parecia que não tinham respostas, fiquei puto como vocês quando jogávamos mal e não conseguimos vencer ou conquistar títulos, comemorei com vocês quando ganhamos e levantamos taças. Por vocês e pela RED Canids.
Eu sei que muitos torcem para a RED por minha causa, mas também sei que mesmo sem eu, muitos vão ficar, porque a RED é essa casa que cativa e que abraça, que acolhe e que ama.
Eu sei disso.
Eu sei disso muito bem há cinco anos, e tenho certeza que pelo resto da minha vida.
Mas agora, o futuro aguarda um novo TitaN.
E quando ele chegar, estarei pronto.
Texto e Edição: LeonButcher
Ilustração: Lucas David
Desenvolvimento: Guilherme Sousa