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Quero um coreano no meu time: A estrutura necessária para trazê-los ao Brasil

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Sky em sua primeira série pela Red Canids, contra a ProGaming Esports (Foto: Riot Games Brasil)

Há pouco mais de um mês e meio, a Red Canids Corinthians anunciou para sua escalação de League Of Legends os coreanos Kim “Sky” Ha-neul, ex-SKT T1 e reserva do melhor jogador do mundo, Faker; e Park “Winged” Tae Jin, velho conhecido dos fãs brasileiros por ter jogado na Vivo Keyd quando esta ainda respondia por Keyd Stars, em 2014. 

Além deles, mais coreanos integram o Campeonato Brasileiro de LOL em 2018: o técnico Lee “Icarus” In-Cheol, também pela matilha; o atirador Han “Lactea” Gi-hyeon, que passou pela Pain Gaming em 2014 e agora faz parte da Team One, atual campeã brasileira; e o topo Park “Jisu” Jin-cheol, que disputará o circuito desafiante pelo Flamengo eSports.

A Coreia do Sul é a maior potência mundial no esport, sendo berço de 5 dos 7 times campeões mundiais na história do League of Legends — e ter tantos profissionais que começaram sua carreira lá jogando no Brasil atualmente traz uma série de questões e novidades ao nosso cenário.

Pensando nisso, conversamos com a equipe pioneira na contratação de coreanos para jogar o CBLOL — a Vivo Keyd, que escalou Winged e An “SuNo” Sun-ho em 2014. Eles nos esclareceram dúvidas frequentes quando se fala de trazer estrangeiros ao Brasil, e deixaram bem claro que deve haver muito planejamento, preparação e estrutura na organização para que o jogador atue em seu desempenho máximo, sem preocupações ou baixas no rendimento.

Winged e Suno em sua passagem pela Keyd Stars em 2014

O início do legado de Winged e Suno

De acordo com o diretor financeiro da Vivo Keyd, Eduardo Kim, a vinda dos coreanos não foi a primeira opção da equipe. “Em 2014, o nosso intuito era montar um “dream team” de League of Legends com jogadores brasileiros. Mas, com a impossibilidade de alguns players nacionais na época, fomos impelidos a voltar o nosso olhar para outros países”, conta.

Devido à relevância que a Coreia do Sul sempre teve no LOL mundial, os jogadores de lá acabaram se tornando a alternativa mais atraente ao executivo, o que fez com que Kim negociasse daqui as contratações de Winged e Suno. Assim, a Keyd Stars da época se tornou pioneira em trazer asiáticos ao Brasil para os esports, conquistando o troféu da primeira etapa do CBLOL 2014 e caindo para a Kabum E-Sports na segunda.

Qual o diferencial entre jogadores coreanos e os melhores brasileiros?

Kim não tem dúvidas ao responder que a disciplina é o maior diferencial nesse caso. “Os players coreanos vêm de uma cultura bastante disciplinada. Esta particularidade deles, na minha opinião, é a mais notória na comparação com cyber-atletas de diversos outros países, incluindo, claro, os do Brasil”, diz. O CEO do time, Caique Henriques, acrescenta outro ponto importante: o amplo conhecimento de jogo e a visão diferenciada, provadas com a quantidade de campeonatos mundiais conquistados pela Coreia. “Aprender como pensam, como eles enxergam o jogo, são algumas das razões que nos motivam a trazê-los para cá”, revela.

Emperor, Loop e Daydream no estúdio do CBLOL em sua passagem pelo país (Foto: Riot Games Brasil)

O que uma equipe deve ter para recebê-los bem?

O CFO crava que é imprescindível que, em uma gaming-house com moradores coreanos, 3 pessoas são necessárias: um tradutor, caso o atleta não fale inglês; um companheiro da mesma nacionalidade, seja ele um treinador ou outro jogador; e um cozinheiro que faça comida coreana. “Pode soar trivial, mas não é. As culinárias brasileira e coreana são muito diferentes. Contar com esse profissional contribui imensamente para amenizar o choque cultural que os jogadores coreanos, naturalmente, enfrentam quando se mudam para o Brasil”, afirma.

Kim conta ainda que a mudança mais marcante em sua experiência pessoal ao trazer os primeiros coreanos foi ter de fazer parte do dia-a-dia da equipe, por sua fluência em coreano. Com esses fatores respeitados, a adaptação dos coreanos ao Brasil e à Keyd foi tranquila, apesar de um pouco lenta. “A convivência era muito boa entre todos os membros. Mesmo sendo de outra nacionalidade, todos estavam na mesma sintonia. Tinham o mesmo propósito, que era serem campeões”, lembra.

Qual a motivação dos coreanos para vir jogar no Brasil?

Kim arrisca que o maior combustível para que esses jogadores deixem seus países para jogar em uma região “Wildcard” é a “facilidade” de obter uma vaga no Campeonato Mundial. “Na Coreia, a competição é muito disputada, tornando a ida ao mundial mais complicada. Penso que eles acreditam que, por serem melhores no jogo, atingiriam o objetivo de chegar ao mundial vindo jogar no Brasil. Teoricamente, na avaliação deles, seria mais “fácil” conquistar a vaga. É a minha hipótese”, completa Caique Henriques, CEO da equipe.

Isso também justificaria a curta passagem no Brasil de Winged e Suno, além de Lactea, Olleh e a dupla Emperor e Daydream, de 2015. “Talvez, o que fez com que eles fossem embora após a disputa de um split fosse a decepção de não ter conseguido a vaga, que era o maior objetivo de todos”, especula o CFO.

Olleh foi suporte da Pain Gaming e, após a passagem pelo Brasil, jogou a LCS NA pela Immortals, estando atualmente na Team Liquid (Foto: Riot Games)

O impacto dos jogadores coreanos no cenário brasileiro

Muitos jogadores apontam a vinda de Winged e Suno como um fator decisivo em sua evolução como jogador profissional. É inegável que os coreanos que jogaram no Brasil mudaram a maneira dos brasileiros enxergarem o jogo e colocarem em prática suas táticas, mas como? Foi o que perguntamos aos dirigentes da Keyd, que foram cirúrgicos na explicação.

De acordo com Eduardo Kim, existia um vão muito grande entre as habilidades em jogo dos primeiros coreanos que vieram ao Brasil (Winged, SuNo, Olleh e Lactea) e os profissionais nativos da época — e, por isso, eles mudaram completamente o modo como os brasileiros passaram a jogar, entender e aprender o jogo. “Um bom exemplo é o Felipe “brTT”: na minha opinião, ele teve uma das melhores fases da sua carreira jogando contra o “Lactea”, no bot, porque queria vencer”, crava.

“Na segunda vinda dos coreanos (“Emperor” e “Daydream”), esse gap de habilidades in-games entre brasileiros já não era mais tão grande (e/ou, em alguns casos, não havia). A partir dali, os únicos diferenciais dos coreanos era a disciplina, e, claro o alto nível constante de game-play. Havia alguns jogadores brasileiros muito bons naquela época, mas acho que o que pesava em certas horas era a inconsistência deles em alguns jogos”, afirma Kim.

Caique Henriques complementa a fala do CFO voltando ao fator da visão de jogo dos coreanos ser diferenciada. “Toda vez em que eles vêm, a gente sempre absorve mais um pouco da visão deles”, diz. Henriques diz ainda que a maior experiência agregada pelos coreanos ao fim do contrato e da estadia foi sem dúvidas a disciplina, além da vontade e capacidade de melhorar constantemente.

A nova leva de coreanos e o que eles podem agregar ao cenário

“Acho que eles [Winged e Sky] vieram para o Brasil na hora certa”, expõe Kim. Ele cita as regiões LAS e LAN, que antes eram consideradas muito aquém ao nível do CBLOL, mas que têm diminuído o vão de habilidade e nível de jogo com os brasileiros. “Com essa vinda recente dos coreanos, tenho certeza que o nível de todos os jogadores profissionais brasileiros irá aumentar. Vai crescer mais rápido que antes porque agora nós sabemos como aprender”, alega.

Caique concorda. “Eu acredito que, agora, o Brasil está mais maduro para aprender com eles. Penso que, das outras vezes em que vieram, somando ao nosso próprio desenvolvimento, nós formamos uma base sólida de conhecimento do jogo, disseminada entre todos os times brasileiros. Então, aposto que, dessa vez, vai ser quando realmente vamos conseguir melhorar o nosso desempenho internacional”, finaliza.

O campeão mundial Crown em sua passagem pelo Brasil, quando respondia por Shadow (Foto: Agência X5)

Apesar da Vivo Keyd ter iniciado a cultura de contratar coreanos para o CBLOL, outras equipes contaram com esse reforço na época de Winged e SuNo: o suporte Olleh conquistou a torcida da Pain Gaming com seu carisma, ao lado do atual Team One Lactea; e o time B da KAbum em 2014, Kabum Black, teve em sua escalação o caçador Reset e o meio Shadow — que viria a mudar seu nome para Crown e destronar a SKT T1 de Faker no campeonato mundial de 2017. Sim, o mid laner campeão mundial também passou por terras brasileiras!

A volta de Winged e Lactea e a estreia de Sky e Icarus podem ser uma grande alavanca nos resultados do Brasil em torneios internacionais, seja nas mãos da própria Red Canids, caso se classifique para o Mid-Season Invitational, ou da equipe vencedora do CBLOL 2018. Seja quem for o representante brasileiro nas próximas disputas entre regiões, é fato que os jogadores tem muito potencial a ser aproveitado por todo o cenário, e não apenas pelo seu próprio time. Quem sabe eles não são a ajuda que precisamos para ter um bom desempenho internacionalmente?

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Evelyn Mackus

por Evelyn Mackus

Publicado em 26 de janeiro de 2018 • Editado há quase 7 anos

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