Em agosto do ano passado, a Apple realizou uma movimentação comercial que até hoje não foi resolvida nos tribunais norte-americanos: a gigante tecnológica removeu o Fortnite da sua loja de aplicativos, manobra que depois foi copiada pelo Google contra a Epic Games.
A justificativa das duas empresas foi a estratégia da Epic de começar a vender V-Bucks, a moeda oficial do Fortnite, dentro do próprio jogo. Fazendo isso, a Epic contornava o sistema da Apple e do Google de cobrarem uma taxa dos aplicativos que comercializam compras dentro dos apps. Até aquele momento, toda compra feita no Fortnite gerava uma taxa de 30% para a Apple. Com o novo esquema, a Epic ficava com todo o lucro das vendas das V-Bucks, sem a necessidade de repassar valores para Apple e Google.
Assim que as companhias tiraram o Fortnite de suas lojas de aplicativos, a Epic entrou com um processo contra ambas e iniciou a campanha #FreeFortnite. Foi aí o início da saga que, mais de um ano depois, não tem data para acabar.
#FreeFortnite
A primeira estratégia utilizada pela Epic foi conseguir o apoio de seus jogadores e fãs. Por isso, no dia 20 de agosto, lançou um curta-metragem em seu Youtube. O vídeo, estrelado por um personagem com cabeça de maçã e trajes corporativos, faz alusão ao livro 1984, de George Orwell.
O texto que passa no final do curta explica que a Epic desafiou o sistema da Apple e que, por isso, precisava do suporte de seus jogadores para evitar que a fabricante dos iPhones se tornasse um monopólio.
Logo em seguida, o processo judicial começou. Nos documentos, com centenas de páginas, os advogados da Epic alegam que a estratégia da empresa não beneficiaria apenas eles, mas milhares de desenvolvedores de apps que tinham que sacrificar 30% de seu lucro para pagar a taxa da Apple.
O Google foi o próximo a ser processado depois de tirar o Fortnite da Play Store, com a Epic usando os mesmos argumentos sobre as taxas abusivas dos apps.
A treta na justiça
Em maio de 2021, a briga judicial começou oficialmente nos tribunais norte-americanos. O que era para ser uma disputa sobre taxas cobradas em aplicativos, virou uma verdadeira festa de dados. A Apple, o Google e a Epic Games revelaram diversos números de suas empresas.
Um dos dados mais expressivos a serem revelados foi a quantidade de grana que o Fortnite fez entre 2018 e 2019: mais de US$ 9 bilhões em apenas dois anos.
Outras informações foram trazidas à tona com a revelação de e-mails entre Tim Sweeney, CEO da Epic, e executivos do Xbox, Ubisoft e também da própria Apple. O resumo dessas comunicações é que, basicamente, Sweeney estava buscando aliados na sua luta contra a Apple. E, com a Apple, os e-mails se resumem em discussões que, como já sabemos, não levaram a nenhuma resolução.
Sobrou até para a Microsoft: durante o julgamento, um dos documentos mostrava que a empresa estava estudando diminuir a taxa cobrada na loja do Xbox de 30% para 12%.
Ou seja: em maio os dias de tribunal foram definidos por muita confusão, com os times da Epic e Apple atirando para todos os lados e revelando um monte de coisa que, sinceramente, não fazia diferença nenhuma para o caso.
Até o Embananado…
Em um dos momentos mais bizarros de toda essa treta, o time de advogados da Apple trouxe à tona o Embananado. Sim, a skin de banana do Fortnite. A discussão foi em torno da seguinte pergunta: estaria Embananado, na verdade, pelado? Sim, parece absurdo, mas de fato aconteceu.
Um dos argumentos da Apple é que a Epic tinha conteúdo inapropriado para crianças em sua loja e, como exemplo, citou o fato de o Embananado ter ganhado traje social numa versão posterior do personagem. O que, para a Apple, indicava que a skin original estava, então, pelada.
Em setembro, um juiz teve que se meter nessa confusão toda e determinou que o Embananado não era uma alusão a um homem pelado, mas apenas uma skin de… banana.
Toda essa situação ganhou cobertura extensiva da imprensa internacional, que não poupou nenhuma das empresas de piadas com o personagem.
Parecia o fim, mas não foi
Ainda em setembro, um juiz bateu o martelo e decidiu: a Apple não poderia mais obrigar os desenvolvedores de apps a utilizarem o sistema de pagamento do iOS, indicando, assim, que se o Fortnite voltasse à App Store, a Epic poderia comercializar as V-Bucks do jeito que sempre quiseram.
O problema é que nessa mesma decisão, o juiz também disse que a Apple não era obrigada a colocar o Fortnite de volta na loja de aplicativos e, portanto, a decisão dependeria de um acordo entre a empresa e a Epic Games (que até agora não aconteceu). Sweeney, por sua vez, comemorou o avanço para todos os desenvolvedores.
Today’s ruling isn’t a win for developers or for consumers. Epic is fighting for fair competition among in-app payment methods and app stores for a billion consumers. https://t.co/cGTBxThnsP
— Tim Sweeney (@TimSweeneyEpic) September 10, 2021
E se parecia que esse era o fim da saga, fomos enganados. Além da treta nos Estados Unidos, Apple e Epic levaram a briga também para a Austrália, mas por lá o julgamento só deve ocorrer em novembro do ano que vem.
Epic x Google
Toda a situação do Fortnite teve como muito foco a briga entre Epic e Apple, mas o Google não ficou para trás. A empresa também processa a Epic por ter tentado burlar as regras de sua loja de aplicativos, mas a situação judicial desse processo não é nem de perto tão caótica quanto a luta da Apple.
Por enquanto, o que se sabe é que o Google busca reparações monetárias da Epic e que a desenvolvedora luta contra esse pedido.
Veja também: Loja do Fortnite: como comprar skins e outros itens