O League of Legends proporciona muitos momentos de empolgação no decorrer de uma temporada. Para uns, o Mid Season Invitational é o ápice do ano porque conta com o melhor time de cada região. Isso, na teoria, faz com que o torneio seja o mais competitivo possível. Em 2017, especialmente, ele ocorreu no Brasil de forma inédita, então trouxe ainda mais euforia para o público. Já para outros, uma final de League Champions Korea pode ser ainda mais atraente: é a melhor região, com os melhores times, então consequentemente essa melhor de cinco terá mais jogadas de efeito. E é claro que o Mundial é inesquecível para o espectador, seja pelo show de abertura, as viradas espetaculares ou pelo grande vencedor.
Mas há uma época do ano que é única e deixa todos os fãs e analistas ao redor do mundo na expectativa: a janela de transferências de fim de season. Quem nunca fez contagem regressiva para abertura desse período, ansioso pra ver se logo de início já haveria alguma movimentação? Quem nunca foi nos confins do Inven e usou o tradutor para ver se algum time coreano mudou sua line-up? E agora com a imprensa não-endêmica adentrando o cenário é cada vez mais comum ler sobre movimentações vazadas por “fontes”.
Para 2018, a North America League Championship Series contará com o sistema de franquias, no qual cada time terá uma vaga permanente na liga. Foi feito um processo seletivo extenso e empresas de fora do espaço investiram milhões de dólares em organizações. Com o dinheiro, cada time deve investir em infraestrutura, um time de base, mídia e, como não poderia faltar, jogadores.
Essas são cinco transferências da América do Norte e Europa que deveriam ter sido, mas não foram.
Ssumday pra Cloud9
A Cloud9 teve um desempenho impressionante no Mundial de 2017. Melhor do que ano passado, e indubitavelmente superior ao retrasado. Os garotos de azul eram tidos como o pior time vindo da América do Norte – principalmente por terem perdido nas quartas-de-final da liga nacional para Dignitas – e não eram cogitados para passar do grupo com SK Telecom, EDward Gaming e ahq. Ainda que por pouco, avançaram com vitórias sólidas sobre as equipes da China e Taiwan. Nas quartas-de-final, bateram de frente com o Team WE e por pouco não se tornaram o primeiro time americano a chegar nas semis.
Mesmo com o resultado positivo, muitos fãs especularam se Jung “Impact” Eon-yeong sairia do time, tendo em vista que era o único cujo contrato se encerraria após o Mundial. Por esse motivo, em cada debate sobre formações um nome foi mais repetido: o de Kim “Ssumday” Chan-ho, visto por último no uniforme preto e dourado da Dignitas.
Antes de ir pra América do Norte, Ssumday fez parte da então vice-campeã coreana kt Rolster e era discutivelmente o segundo melhor top laner do mundo. A expectativa pela estréia em solo americano era alta e ele automaticamente entrou na discussão para MVP do torneio.
Mais tarde, deu pra perceber que o time montado pela Dignitas não daria certo como pensado. O meta do topo rodou em volta de tanques como Nautilus, Maokai e Shen, então era impossível ver Ssumday no potencial máximo. Em lane ele foi impecável, no entanto, e ficou claro que era o pilar que mantinha o time funcionando. Ele se mostrou versátil ao longo da temporada 2017, podendo tanto receber o máximo de recursos do time quanto o mínimo.
Isso seria ótimo para a C9, que com Impact se desvencilhava de campeões carregadores como Fiora e Camille. Havia um motivo para ele ser conhecido como “o escudo” da equipe. Ssumday proporcionaria outra estratégia além da “Jensen carry” e haveria outra winning lane para Juan “Contractz” Garcia explorar. Seu nível de inglês avança rapidamente e seria a contratação mais segura para a rota. Mas fica pra próxima.
Licorice pra Clutch Gaming
Com Ssumday na Cloud9 e a vaga de top laner do time já preenchida, Eric “Licorice” Ritchie seria consequentemente um free agent. Ao mesmo tempo, a Clutch Gaming – time bancado pelo Houston Rockets e recém admitido na NALCS – se recheou de analistas que repetidamente exaltam as habilidades em treinos do novato. Seria uma combinação perfeita.
Licorice apareceu há pouco tempo no cenário competitivo, primeiro na Cloud9 Challenger e por último na Challenger Series americana pela eUnited. Ele é um caso curioso porque, mesmo ao lado de veteranos na forma de Erberk “ Gilius” Demir e Hampus “Fox” Myhre, e depois Choi “DanDy” In-kyu e Lee “GBM” Chang-seok, foi um dos destaques do time com ótima lane phase e aproveitamento de XP.
Nos bastidores, personalidades como Ram “Brokenshard” Djemal e Naser “Empyre” Al-Naqi foram vocais sobre como o jovem topo se deu bem individualmente em treinos contra coreanos. O próprio Nicolaj “Jensen” Jensen revelou em entrevista que Licorice derrotava Impact – conhecido por ser uma rocha – com frequência no um-contra-um. E ele também é famoso por uma ética de trabalho imaculada, atingindo a posição máxima na fila ranqueada diversas vezes e indo treinar sozinho na Coréia do Sul.
E por mais que Colin “Solo” Earnest, atual topo da CG, seja prestável e acima de tudo um rookie, ele é velho para os padrões do jogo. 24 anos é uma idade extrema se comparada aos 18 de Licorice e é raro ouvir falar do potencial do jogador. Se contratassem o topo vigente da C9, a vasta comissão técnica poderia mostrar a que veio, desenvolvendo o garoto e fazendo do trio com Nam “LirA” Tae-yoo e Fabian “Febiven” Diepstraten amedrontador.
Contractz pro 100 Thieves
Quando saiu a notícia de que Contractz estava fora da Cloud9 e a caminho do Golden Guardians, o cenário norte-americano inteiro franziu a testa em confusão. Era difícil achar um motivo para o pequeno caçador sair do velho time e até hoje não houve uma explicação vinda de nenhuma das partes.
Ele acabara de vir de um ano de estréia como profissional no qual foi nomeado Novato do Split, chegou em uma final de LCS e nas quartas-de-final do Mundial. Neste último, por sinal, flexionou os músculos com campeões carry como Graves e Ezreal, o que basicamente moldou o estilo de jogo usado pela C9 no campeonato.
Então, ir para o time de Choi “Locodoco” Yoon-sup é desperdiçar um ano inteiro de evolução. Isso porque, com exceção de Hai “Hai” Lam, os outros companheiros estão níveis abaixo do esperado de um jogador da LCS. Samson “Lourlo” Jackson e Matthew “Matt” Elento vêm de um ano completo de fracasso, disputando rebaixamento e mantendo as piores estatísticas da liga. Matthew “Detfly” Chen, por sua vez, é apenas um novato que se mostrou com aptidão nas teamfights mas terrível em lane. Com um roster desses, é improvável que o jungler seja visto internacionalmente de novo.
Dito isso, há um time na LCS de grande potencial mas com um ponto de interrogação na selva: o 100 Thieves. Bancados pelo Cleveland Cavaliers, eles garantiram contratações inteligentes para o top e bot, mas arriscaram trazendo William “Meteos” Hartman. No auge, o veterano de 24 anos é absolutamente uma força a ser reconhecida. Mas tanto na primeira saída da Cloud9 como quando jogou pela Phoenix1, ele se queixou da carga de ser um profissional, do peso dos fãs e de como preferia fazer streams e relaxar. Não só isso, mas seu estilo também é diferente da maioria dos junglers no sentido de que prefere farmar no early para tentar carregar depois.
Contractz, por outro lado, traria uma atitude mais agressiva e ajudaria a dar suporte às rotas de Yoo “Ryu” Sang-wook e Cody “Cody Sun” Sun, que possivelmente serão pressionadas por oponentes mais fortes. Ele é também jovem, moldável e aberto às chamadas que Zaqueri “aphromoo” Black dará dentro de jogo. Os fãs do 100T terão que se contentar com Meteos, porém.
Zeyzal pro OpTic
Outro nome novo na NALCS é o do OpTic Gaming, que muitos devem conhecer do Call of Duty. Eles são, quem sabe, a organização de maior fanbase em todos os esports e por isso houve muita expectativa em torno dos jogadores para a temporada 2018. Mas semana após semana cada rumor desapontava e no fim o roster com Derek “zig” Shao, Matthew “Akaadian” Higginbotham, Tristan “PowerOfEvil” Schrage, Noh “Arrow” Dong-hyeon e Daerek “LemonNation” Hart deixou a “Green Wall” com um gosto amargo na boca.
O que mais se comentou sobre o grupo montado pelo OpTic foi como essas peças são desconexas. Como se tivessem pego aleatoriamente alguns jogadores e despejado em uma line-up de LCS. Arrow, apesar de ter sido MVP no primeiro split de 2017, passou a maior parte do ano sofrendo em lane e uni-lo a LemonNation não fará bem nenhum quando este tem fama de morrer na fase de rotas. PowerOfEvil, mesmo tendo dado a volta por cima na Europa, não é dos melhores laners e isso dificultará a vida de Akaadian, que quando estreou dependia de um early game forte para rodar o jogo. E com uma comissão técnica inexperiente – contrataram o ex-narrador Thomas “Zaboutine” Si-Hassen -, fica difícil identificar quem liderará esses cinco. E é aí que entraria Tristan “Zeyzal” Stidam.
Vocês devem estar pensando: “Quem diabos é esse?” e para os fãs menos árduos isso é completamente normal. A realidade é que ele não tem grande presença nas redes sociais e só apareceu na Challenger Series de 2017, atuando pela eUnited. Mas previamente houve rumores de que se juntaria ao time principal da Cloud9 – pouco antes de Andy “Smoothie” Ta ser efetivado como titular – e que seu principal traço era a liderança. Mesmo sendo um novato com nenhuma bagagem competitiva, ele teoricamente era capaz de recitar os movimentos do caçador e suporte inimigo, evitando qualquer roaming no early.
Quando se lançou na liga secundária, deu para ver lampejos de grandeza como quando destruiu a Team Liquid em partida de qualificação com os Espinhos Sufocantes da Zyra ou quando liderou na vitória de fase regular sobre Hong “MadLife” Min-gi e companhia com um AMA de 0/1/23. Além de ser inteligente taticamente, tem características de playmaking prodigiosas. Zeyzal é o líder que o OpTic precisa, mas que não deram a devida atenção.
Febiven pra Misfits
É difícil achar alguém que não conheça a história da Misfits: como em apenas um ano foram do Circuito Desafiante europeu, para a final do segundo split da LCS e de lá para o Mundial, ficando a um jogo de distância de derrotar a dominadora SKT. Mas, diferente de times como G2 Esports e Fnatic, que dispunham de estrelas em determinadas roles para decidir na hora certa, o time em sua maioria dependia do coletivo – e da criatividade da coaching staff – para brilhar.
Barney “Alphari” Morris e Steven “Hans sama” Liv eram dois estreantes, Nubar “Maxlore” Sarafian tem um estilo mais calculado na selva e Lee “IgNar” Dong-geun tinha um limite do quanto podia fazer como suporte. PowerOfEvil, no que lhe diz respeito, não tem estilo de carregador como a maioria dos mids da Europa, mas nessa line-up assumia tal papel de vez em quando. Assim, o técnico Hussain “Daku” Moosvi e seus assistentes precisaram refinar certos aspectos de jogo ao longo do ano, como execução da dança de barão, transferência de pressão do meio para selva e a famosa Leona do Mundial.
Ademais, tanto o meio alemão como o suporte coreano foram negociados nessa janela de transferências e a principal questão foi de como essas vagas seriam preenchidas. Nenhum dos jogadores restantes se mostrara capaz de carregar e por isso Febiven, que após implosão da H2K estava aberto a ofertas, surgiu como melhor opção: a Misfits fez uma oferta, ele teve dificuldade de decidir, mas no final optou por ir para a Clutch.
Luka “Perkz” Perković foi naturalmente o melhor meio europeu de 2017, mas se tinha alguém no encalço, esse alguém foi Febiven. O holandês retornou um pouco à antiga forma e impressionou estatisticamente com maior diferencial de CS aos 10 minutos (4.6), segundo maior dano por minuto (630) e maior AMA (6.0). Foram diversos os jogos nos quais pôs nas costas os inconstantes Son “Nuclear” Jeong-hyeon e Choi “Chei” Sun-ho, e mostrou domínio com campeões como Syndra, Orianna, Lucian e Cassiopeia.
Com a recusa de Febiven, a Misfits se contentou em trazer Chres “Sencux” Laursen para a posição. Mas se a contratação tivesse realmente acontecido, ambos os lados se beneficiariam: o jogador teria uma estrutura que multiplicaria suas chances de – mais uma vez – ir longe internacionalmente e o time teria um mid laner que constantemente mantêm a rota puxada e sabe muito bem como vencer um jogo.