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Leomane, o triatleta do esport brasileiro

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Ser profissional de uma modalidade de esporte eletrônico não é uma coisa fácil. Imagina ser profissional em três jogos diferentes? É o caso de Leomane, pro player de Legends of Runeterra, Hearthstone e Teamfight Tatics. Em entrevista exclusiva ao Mais Esports, o jogador falou sobre este “triatlo dos esports”; confira.

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Leomane em partida pela Hearthstone Masters Tour. Foto: Reprodução

Os jogos não são iguais: dois são cardgame e um autochess. O que une as modalidades é o gênero: estratégia. O triatleta se divide entre três modalidades em sua carreira de jogador profissional de esports.

O fato de serem jogos voltados para estratégia o ajuda a se dividir em três. “Acredito que por me dedicar durante muito tempo em jogos de carta me deu uma aptidão para conseguir ter destaque em jogos de estratégia de turno num geral”, diz Leomane.

O amor pelo jogo é o que faz um jogador se dedicar exclusivamente a uma modalidade ou outra, mas ele vai na onda oposta a esse movimento. Com três modalidades para disputar, ele afirma que a competitividade é um fato importante nesta empreitada. O alto nível do competitivo é um combustível para a vida de Leomane.

“Eu sou extremamente competitivo e poucas coisas na vida conseguem passar o sentimento de competir no alto nível”, revelou.

O início de Leomane em Hearthstone e o movimento para LoR e TFT

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Perna, Rase e Leomane, jogadores de Hearthstone da Red Canids Foto: Divulgação

Leomane joga desde 2013, mas iniciou a carreira em 2014 na Cyber Game quando tinha apenas 16 anos. De 2014 até 2019, o jogador se dedicou apenas ao Hearthstone. Com o lanaçamento do Teamfight Tatics, ele começou sua aventura pelas três modalidades que atua hoje em dia.

O primeiro movimento foi em direção ao TFT, e segundo o jogador , foi “uma coincidência de momento”. Na época, a Blizzard reformulou o competitivo de Hearthstone e fez com que os jogadores passassem a pagar pelas viagens da Masters Tour.

Essa mudança, segundo o jogador, é uma “perda de dinheiro na maior parte das vezes: sempre é America do Norte, Europa ou Ásia. Então não valia muito a pena jogar e grande parte dos profissionais nessa época, que não viraram Grandmaster, pararam de jogar”.

Leomane estava imerso no Auto Chess quando do lançamento do TFT. Ele estava em “rankings bons e estava muito empolgado com o gênero”. Em um primeiro momento, ele iria apenas jogar casualmente, mas, devido ao histórico no Hearthstone, foi convidado para participar da Copa Meu Bom, organizada pelo streamer Rakin, e depois alguns outros torneios. “Consegui ir bem na maior parte deles”, relembra Leo.

Em Legends of Runeterra, ele revelou que estava de olho há um tempo. “Qualquer jogo de carta que lançar, que tenha competitivo, eu vou tentar me destacar”, afirmou ao Mais Esports. Até Artifact esteve no radar do atleta, que relembrou os torneios que participou: “Eu joguei os poucos torneios [de Artifact] que tiveram no tempo de vida [do jogo] e até fui bem, mas o game não durou”.

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Partida de Leomane no telão da Hearthstone Masters Tour. Foto: Reprodução

A confiança em Legends of Runeterra veio mais por conta da desenvolvedora que estava por trás do card game, a Riot Games. “Quando LoR lançou, eu acreditava que por ser a Riot não demoraria muito pra ter um competitivo grande”. Leo, apesar do pouco tempo de Legends of Runeterra, relembra suas conquistas. “Eles [Riot] anunciaram que o competitivo deve ser  no ano que vem, mas o pouco que existiu até agora eu joguei”.

“O único torneio que teve no Brasil valendo dinheiro eu ganhei. Também fui o primeiro brasileiro a pegar Mestre (terceiro das Américas e oitavo do mundo)”, finalizou.

Um é pouco, dois é bom e três é demais? Não para Leomane. O jogador ainda tem fôlego para embarcar em uma nova aventura, caso seja recompensador. “Posso dizer que qualquer jogo de carta que lançar eu vou tentar competir, desde que ele tenha um sistema competitivo, seja compatível com o meu tempo e tenha um bom incentivo financeiro”.

Por que três modalidades e não uma?

Por qual motivo um jogador decide se dedicar em três modalidades e não apenas uma? A questão é financeira e tem como ponto futuro o destino de sua vida. Com uma relação problemática com seus pais e objetivos de vida, o Leo buscou uma melhor situação financeira para si.

“Na época que eu me dedicava somente no Hearthstone (2014-2018), sempre ganhei o maior salário do Brasil: era por volta de R$ 1 mil e gaming house, o que com 16 anos, sem muitas responsabilidades e morando com meus pais, era muito bom”, relembra.

Logo após, Leo continua: “Desde cedo por conta de problemas de relação com meus pais, sempre tive muita urgência de ter independência financeira e, à medida que fui crescendo, sabia que para os meus objetivos de vida este salário não seria suficiente [de R$ 1 mil]”.

Leomane lembra das premiações que ganhou, além do seu salário, mas garante que não era muita coisa, apesar de reconhecer que não era ruim. No entanto, atleta falou sobre o declínio do Hearthstone no cenário competitivo, o que colocou incertezas na sua carreira. “Me lembro de cabeça de três situações que eu já perdi mais de US$ 1 mil por conta da sorte. Então pensando de forma lógica e de uma forma mais certa, para conseguir atingir meus objetivos, jogar competitivamente apenas um jogo de sorte não é o melhor caminho”, revelou.

A dificuldade triplicada

Para se tornar um profissional do esporte eletrônico é necessário muito empenho. É necessário investir tempo estudando o jogo e praticando. E quando se compete em três modalidades, como se faz?

TFT Teamfight Tactics
TFT é um dos jogos que Leomane disputa competitivamente. Foto: Reprodução

Leomane começa explicando o termo ‘diminishing return’. “Para quem não está muito familiarizado, explico: é basicamente que quanto mais você fica melhor em algo, mais difícil vai ser de evoluir ainda mais”.

O jogador dá um exemplo mais claro para os leitores do Mais Esports. “Por exemplo, nas minhas primeiras 10 horas jogando Hearthstone eu aprendo X, se eu jogar mais 10 horas eu vou aprender ½ X. Se eu jogar mais 10 horas vou aprender 1/10 X e assim em diante até que você já jogou mais de 10.000 horas e pra ficar melhor você vai jogar mais 100.000 horas e o seu progresso vai ser menor ainda”, explica.

O brasileiro tem milhares (como o próprio fala) de horas de experiência em card game e isso, segundo Leomane, o ajuda na questão de disputar três modalidades diferentes no cenário de esporte eletrônico. “Por já ter milhares de horas com jogos de carta e milhares de hora competindo sob pressão, me dá uma facilidade de conseguir saber exatamente o que treinar para um campeonato, saber manter minha calma e dar meu melhor em uma competição”.

A rotina de treinamento de Leomane

Quem vê de fora, acha que Leomane treina as três modalidades todos os dias, mas não. O jogador explicou como que faz para conciliar o TFT, Hearthstone e LoR.

Seu método é baseado nas datas das competições que irá disputar. Se há alguma competição de Hearthstone pela frente, o jogador atua no card game da Blizzard, se há campeonato de TFT, Leomane vira a chave e vai para o auto chess da Riot.

“Por jogar os três jogos o meu método é jogar baseado nas datas dos campeonatos e patchs. Mês passado teve qualificatória de TFT e também o Master Tour de Heartstone. Joguei TFT até o último momento antes da Masters Tour e depois foquei apenas no Hearthstone. LoR não tem nenhum campeonato no futuro próximo, então, por enquanto, quando jogo é só para gerar conteúdo na stream ou para o YouTube”, revelou.

“Dos três, sou pior no TFT”

“Dos três, sou pior no TFT”. Assim que Leo respondeu quando lhe foi perguntado se é melhor ou pior em alguma modalidade específica que disputa. “Diferente de jogos de carta, no TFT a memória muscular de jogar com muita frequência te ajuda muito pra ter um desempenho bom” analisa o jogador.

A memória muscular, apesar de ser importante, não é essencial em card games, segundo o próprio Leomane. “Em jogos de carta, a memória muscular tem alguma influência, mas não é a coisa mais importante do jogo. Um exemplo prático que eu gosto de dar é no MTG [Magic the Gathering]. Jon Finkel, um dos melhores da história, parou de jogar com tanta frequência deu um tempo de todos os Pro Tour. Após um tempo, Finkel decide jogar o Pro Tour de Dark Ascension e consegue atingir o top oito em um ambiente que tem os melhores jogadores do mundo”.

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Coleção de cartas em Legends of Runeterra, último game que Leomane se tornou pro player. Foto: Divulgação

Nos jogos de cartas é onde Leomane se sente mais confortável. É onde o jogador se sai melhor em torneios, por exemplo, e não tem problemas em admitir que um certo momento foi um dos melhores jogadores do mundo em Legends of Runeterra.

“Em Legends of Runeterra eu acredito que fui, no momento que estava me dedicando, o melhor jogador do Brasil e um dos melhores do mundo”, cravou. Assim como a história de Finkel, que contou acima, Leomane acredita que se voltar a se dedicar como antes, voltará com força. “Acredito também que quando voltar a me dedicar consigo, com facilidade, recuperar esse posto, principalmente nos campeonatos por conta do meu extenso conhecimento em campeonato de jogos de carta”.

O mesmo acontece com Hearthstone, no qual Leomane acredita que também já esteve entre os melhores do Brasil na modalidade. “Em Hearthstone eu acredito que em todos os momentos que eu estava me dedicando no jogo eu era um dos melhores do Brasil, esse Master Tour que joguei é uma prova de que é muito parecido com o MTG nesse sentido que expliquei [do exemplo de John Finkel]: eu consegui ser o melhor Brasileiro e consegui uma colocação boa mesmo sem estar jogando Hearthstone por um ano”.

Problemas (ou não) de conciliação

Apesar de disputar competições em três modalidades diferentes, Leomane nunca teve problemas de adaptação de um jogo para o outro. “A prática de uma modalidade nunca interferiu em outra. Na verdade, eu diria que o mindset de competir e treinar os conceitos básicos são muito parecidos. Os conceitos vão além do jogo”, diz.

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Hearthstone foi a primeira modalidade que Leomane atuou como profissional. Foto: Divulgação

Em questão de campeonatos, o jogador também afirmou que nunca uma competição principal teve choque de datas e horário com outra, mas que já teve esse problema em qualificatórios. “Em junho/julho estava tendo qualificatórias de TFT para Pro Legends e de Hearthstone para o Master Tour Montreal, então precisava decidir qual dos dois eu iria jogar”, disse.

Dicas para se tornar um pro player

Por fim, Leomane falou sobre como um aspirante a profissional pode fazer para tornar esse sonho realidade. “Em nenhum momento mencionei antes isso na entrevista, mas eu trabalho 40 horas por semana além de competir/streamar e posso dizer que a coisa mais importante é administrar o seu tempo de uma forma que funcione. Isso serve para você conseguir conciliar com sua vida e conseguir ter um desempenho bom para os campeonatos que você tem em mente”, explicou.

O jogador também destacou a importância de uma rotina e alimentação saudável. “É preciso, também, ter uma rotina saudável, alimentação saudável e mentalidade correta para praticar. Ter um objetivo é a coisa mais importante para conseguir qualquer coisa na vida. Se for competir, sua mentalidade deve ser todo dia melhorar e conseguir ser melhor que seus adversários”, finalizou.

Você pode acompanhar Leomane em seu canal na Twitch, que é onde ele realiza as transmissões jogando três jogos ao mesmo tempo. O jogador também possui um canal no Youtube em que posta vídeos com certa frequência. Para saber quanto ele fará as lives, ou até mesmo quais campeonatos ele disputará no futuro, basta acompanhar o seu Twitter.

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Bruno Martins
publicado em 22 de agosto de 2020, editado há 4 anos

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