Após a G2 vencer de 3×0 da PSG no MSI 2024, Dylan Falco, técnico da organização europeia, concedeu uma entrevista exclusiva ao Mais Esports. Na entrevista o técnico falou sobre processos de draft, seu estilo como técnico, Caps e muito mais.
Entrevista com G2 Dylan Falco
Entender o processo de como funciona um técnico, pra mim (Sérgio Fiorini e/ou Correspondente) já é interessante. Agora, poder entender um pouco mais do técnico mais criativo do ocidente? Foi interessante demais.
Confira a entrevista com o técnico da G2, Dylan Falco.
Pra começar, gostaria de saber mais sobre o estilo do G2 Dylan Falco como técnico. Pelo que apurei, você parece ser do tipo que gosta muito mais da parte estratégica e de criar coisas novas, certo?
Sim, eu adoro tentar ganhar vantagens explorando o jogo. Acho que coisas como o draft, e suas estratégias escondidas, lane swaps, rotações… eu penso que a parte mais incrível do League of Legends é a quantidade de variáveis e muita profundidade entre elas. E acredito também que é muito fácil um time – ou técnico – só se agarrar em estratégias conhecidas, mas existem muito mais que só essas (estratégias) e eu amo explorar elas e isso pra mim é muito divertido.
E, por falar em divertido, eu queria entender melhor o processo que vocês têm para criar estes picks tão diferentes. Pode contar um pouco mais?
Bom, muito disso eu posso dizer que acontece graças ao Rodrigo, nosso Analista Principal. Ele é muito bom em pesquisar o jogo e buscando, entre dados, ou jogadores que estão fazendo sucesso ao redor do mundo, ou apenas na teoria das coisas, de coisas diferentes que podem nos colocar em vantagem e então nós tentamos trabalhar isso tudo em uma estratégia que chamamos de integração de um campeão.
G2 Dylan Falco explica o que é a integração de campeão
Bom, uma coisa é ter o campeão na sua pool, outra coisa é integrar esse boneco em um draft e na sua estratégia, e ainda entender como tudo vai funcionar. Então, nós temos este processo inteiro, da fase de pesquisa, até apresentação dos dados, até o time, como por isto nas scrims e até, eventualmente, usar no palco. A gente usa essa integração para sermos os primeiros a jogar com muitos campeões fortes, então é uma de nossas forças.
Dylan, como falando sobre a série de hoje, como foi a preparação da G2 contra o PSG?
Acho que o primeiro passo é: tratar o oponente com a mesma seriedade que a gente tratou a T1. A gente viveu uma situação similar no último Mundial: a gente ganhava dos times asiáticos, jogava de igual pra igual, e fomos eliminados pelo NA e não queremos que isto se repita. Então fizemos questão de assegurar que as condições eram boas e a gente ia por todo nosso foco e esforço na nossa preparação.
Eu também acho que, mesmo que o PSG seja um time bem forte, acho que eles foram um pouco previsíveis e se mantiveram na sua zona de conforto do que costumam jogar. E eu acho que a gente conseguiu responder isso com tranquilidade. Por exemplo: se eles vão jogar de K’Sante, então a gente precisava ter um cenário onde o K’Sante morreria, e acho que a gente mandou bem nisso. Acho que além de, só escolher o que está no meta, também é importante estar um passo à frente, para realmente ser dominante.
Bom, você citou sobre a eliminação do NA no último Mundial, mas também é fato que vocês estão constantemente rivalizando contra times asiáticos e por vezes sendo a última esperança do Ocidente. O que faz a G2 sempre chegar nesta narrativa?
Bem, eu acho que, antes de tudo: os jogadores. Nós temos os maiores talentos em um elenco de qualquer time ocidental nos últimos anos. É muito óbvio, quando nós treinávamos na Europa, nós ganhamos diversos jogos só pela mecânica. Eu só vi isso nos últimos dois anos, e acredito que seja muito bom.
E acho também que nós temos um sistema, desenvolvido pelos 5 membros da staff que estamos constantemente refinando, mas usamos e isto vem nos ajudando demais e tudo é um diferencial neste sistema. Por exemplo: o estilo de vida e a saúde dos jogadores, como preparamos os drafts, preparamos os campeões, como nós fazemos o nosso match day, (o sistema) é muito focado em detalhes, e ele continua ficando melhor e mais complexo com o passar dos anos. Então quando você tem os melhores jogadores e um ótimo sistema, é natural que você esteja entre os melhores times.
Eu queria também fazer uma pergunta um pouco controversa: você acredita que o sucesso em treinos no campo internacional gera pressão? Após a série de G2 contra T1, deu pra ver o Caps bem abalado enquanto falava sobre sentir que não via ângulo para as coisas… você acredita que dá pra criar um paralelo sobre isso?
Não, eu acho que os treinos refletem bem os nossos resultados. Acho que nós somos muito dominantes contra os times do ocidente, e nos últimos anos, nós ganhamos quase todos os confrontos. Obviamente há exceções extremas que todos se lembram (a derrota contra a NRG no Mundial de 2023), mas eu acho que essas são as exceções para as regras, e eu acho que quando enfrentamos os melhores times, como a T1, quando nós treinamos contra eles, é muito, muito difícil. Eles são iguais, se não mais, mecanicamente mais habilidosos do que nós, em diversas áreas, e jogam muito agressivos.
Então, se nós perdermos uma série pau-a-pau a um time como esse, eu não acho que é nós vencendo os scrims, e depois pipocando, ou algo assim. Não é isso, é que nós estamos em um nível próximo, nós somos competitivos, mas isso (vencer de times como a T1) realmente nos exige estar na melhor versão de nós mesmos, com os melhores planos de jogo, para ganhar.
Agora, voltando a mencionar sobre o Caps: vocês trabalharam juntos por muito anos. Como é essa troca?
É, então, eu trabalho com o Caps já faz muitos anos, tive uma pausa por um tempo, no meio, mas estou feliz em estar junto dele de novo. É legal demais trabalhar com o jogador mais vencedor na história do Ocidente, como treinador. Muitas das combinações de treinador – jogador famosos no esporte, é provavelmente muito mais fácil ser o treinador do que o jogador, porque são eles os que carregam os jogos no final do dia.
Contudo, eu acho que fazemos uma boa dupla, porque somos pessoas muito semelhantes. Acho que somos ambos um pouco esquisitos, nós dois somos muito apaixonados pelo jogo, somos aquele tipo de pessoas meio pateta. Então acho que nos conectamos muito bem, e é por isso que tudo flui tão bem.
E pra minha última pergunta, eu gostaria de ler uma frase antes:
“Eu acho que o que muita gente não entende do lado de fora é: as comissões técnicas nos esports realmente estão tentando descobrir pra onde elas têm que caminhar”.
Você sabe quem disse essa frase?
É, essa eu tenho certeza que fui eu
Então, 6 anos após dizer esta frase, hoje você sabe para onde está caminhando? Como o técnico G2 Dylan Falco.
Seis anos atrás eu disse isso, acho que dez anos atrás comecei a treinar, então, sim, acho que descobri muitas coisas nos últimos dez anos, com certeza. Se eu comparar como eu treinava as equipes nove, oito anos atrás com como faço agora, acho que faço tantas coisas diferentes, acho que estou muito mais confiante, muito mais em paz, muito melhor sob pressão, todas essas coisas. E isso só vem com a experiência e o tempo. Para nós, descobrindo isso, nós ainda estamos. O jeito que eu e a nossa comissão técnica treinamos a G2 há três anos não é do mesmo jeito que treinamos agora. E nós estamos buscando adicionar pessoas novas, e sempre adicionando novos processos, o tempo todo.
E, é verdade, sabe? Principalmente no lado ocidental dos esports, não havia um exemplo a ser seguido, ou alguma escola e/ou treinamento antes de começarmos a fazer isso. Então, acho que o que eu disse foi preciso e eu gostaria de continuar evoluindo e melhorando.