O trabalho de um psicólogo com um atleta, seja ele de esportes eletrônicos ou tradicionais, é garantir que o jogador esteja bem mentalmente para ter desempenho de alta performance. O problema é que, ainda hoje, há um certo preconceito com o uso da psicologia, conforme explicou Natália Zakalski em entrevista ao 2v1 Podcast.
A psicóloga, que já trabalhou com a LOUD e Fluxo e hoje está na Team Liquid, explicou como o trabalho dos profissionais tem sido mais aceito nos últimos anos e ainda detalhou a importância do que eles fazem com os times.
Entrando aos poucos nos esports
Nati conta que quando começou seu trabalho com esportes eletrônicos, em 2018, a psicologia já era até que bem aceita no cenário, mas que sem dúvidas houve uma evolução nos últimos anos.
Os esports já eram muito abertos ao trabalho da psicologia, eu acho que graças à essa inovação que os esports trazem, diferente dos esportes tradicionais que às vezes são um pouco mais conservadores, um pouquinho mais fechados. Eu acho que já em 2018 tinha certa abertura, não total assim, e hoje em dia melhorou muito. Tanto que vemos muitos times buscando o trabalho psicológico, buscando psicólogos para atuar junto das lines. Então a gente gosta de falar que começamos a trabalhar ali que era tudo mato, então hoje em dia tem uma clareira ali. Estamos estabelecendo um pouco mais, tem mais profissionalização nesse sentido e mais abertura dos times, dos jogadores.
Preconceito com a psicologia
Um dos entraves, Nati explica, é que há muitos atletas famosos de esportes tradicionais que dizem não precisarem de psicólogos e isso acaba criando um preconceito geral em relação ao trabalho dos profissionais.
A gente vê no esporte tradicional que muitas vezes os jogadores famosos que falam que não precisam de psicólogo, o que atrapalha um pouco o nosso trabalho, porque é um preconceito que vai numa direção oposta do que a gente prega né. Então muita gente acha que psicólogo é só se eu sou maluco, se eu tenho algum transtorno. E na verdade não, a gente tem essa questão de performance, de alto desempenho, que é essencial nos esports e que tem essa grande diferença do esporte tradicional. O esporte tradicional tem essa fisicalidade que às vezes fica mais em evidência e os esports é muito mental. A gente usa demais a nossa parte mental e cognição, então por que não ter um profissional ali presente que trabalha diretamente com essa questão? Então hoje em dia fico feliz que tá abrindo um pouco mais, mas ainda não tá o ideal.
Fadiga mental
Por fim, a psicóloga explica como é importante ter um profissional capacitado que ajude os atletas a identificarem sinais de fadiga mental, muito mais difícil de ser identificada do que a física.
Você vai correr uma maratona, uma hora você vai cansar, você vai ter a fadiga física. A fadiga mental é sentida de outros jeitos, então você pode jogar 24h se você quiser. 48h, mas não significa que você tá tendo qualidade nesse jogo. Aí quando a gente tá falando de alta performance, a gente precisa pensar muito mais em qualidade do que quantidade de horas jogadas. Porque se você tá absorvendo conhecimento, se você tá aprendendo, é com qualidade. Mas se você fica horas ali jogando, você não vai absorver da mesma maneira. Até porque tem relação com o sono, alimentação, diversas coisas. Então eu sempre trago isso, a gente tem que saber reconhecer a fadiga mental, que às vezes é muito mais difícil que a fadiga física que você simplesmente não consegue se mexer.
Nesse assunto, inclusive, Nati contou um pouco mais sobre como foi trabalhar com o psicológico do time de Free Fire do Fluxo durante seu período com a organização. Você pode assistir a entrevista completa com a profissional a seguir.
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