O cenário dos esports têm melhorado cada vez mais a questão da inclusão feminina no competitivo, mas nem sempre foi assim, e o trabalho vem sendo feito há anos por pioneiras como Nati Zakalski. A psicóloga já teve passagens pela CNB, INTZ, LOUD e atualmente está na Team Liquid.
Em conversa no 2v1 Podcast, ela contou como é trabalhar como uma line-up feminina e deu destaque ao seu trabalho com o time de CS:GO feminino da INTZ com o qual trabalhou entre 2019 e 2020, durante o GIRLGAMER, mundial da modalidade.
Pouca representatividade no início
Nati conta que, quando começou sua carreira, se assustou com a falta de mulheres no cenário.
“Quando eu entrei nos esports, eu entrei no estúdio da Riot e pensei ‘meu deus, o que eu tô fazendo aqui? Só tem homem, cara’. Foi muito chocante. Eu sabia que seria assim, mas sabe quando você cai na real? Teve aquele choque de realidade. Na CNB eu era a única mulher no estúdio. E fiquei pensando se eu tava fazendo alguma coisa errada, e aí comecei a pensar na inserção do cenário feminino.”
A representatividade feminina é um tópico de tanta importância para Nati que virou tema do seu TCC, o que também alavancou seu lado profissional, quando começou a trabalhar com a INTZ no Invocadoras.
“Meu TCC foi sobre o feminino como um todo, mas mais uma perspectiva mais clínica, voltada para o estudo específico. Na INTZ eu comecei a trabalhar com o LoL feminino, com a line que eles montaram. Fiz parte do Projeto Invocadoras, que revelou a Mayumi e a Yatsu. Fiz parte do processo seletivo de fazer a entrevista com elas, pra ver se fazia sentido elas estarem no time. Não foi um projeto que deu totalmente certo, não foi o que eu esperava, porque achei que seria uma inserção mais rápida. Mas eu vejo que fiz a minha parte.”
O trabalho com as jogadoras do CS:GO
Ao falar sobre sua jornada com as pro players de Counter-Strike, Nati diz que ficou impressionada com a dedicação do time.
“A equipe me impressionou, porque elas eram muito dedicadas. Eu fiquei em choque. A gente como mulher a gente tem que se esforçar muito pra estar nos lugares e assim, isso é bom e ruim. Porque isso demanda muita energia, mas isso faz com que a gente valorize muito esses momentos e a gente se demonstre muito esforçada mesmo. Eu vi esse time de CS feminino e fiquei ‘caramba, por que elas não estão nos campeonatos principais? Essas meninas dão o sangue aqui’. E assim, tô falando de planejamento grudados na parede.”
O primeiro passo para que o trabalho entre a psicóloga e as jogadoras desse certo, foi a aceitação do time e o esforço para mostrarem que elas mereciam os mesmos espaços conquistados pelas lines masculinas.
“Foi muito impressionante, foi muito bom, porque elas aceitaram muito meu trabalho e eu vi a diferença de trabalhar com um time totalmente masculino que tinha as coisas “ganhas” no sentido de estarem no campeonato, e estarem se esforçando, e das meninas que pensavam “essa é a nossa chance de mostrar tudo que a gente tem. é esse o campeonato”. Esse campeonato ia dar vaga pra Dubai. jogar internacionalmente.
A gente trabalhou muito essa questão do time, de elas estarem unidas e conseguirem trabalhar juntas. Às vezes tinham alguns conflitos, o que é natural, então a gente trabalhou muito isso e a performance no palco. ansiedade, plateia, como lidar com isso. Acho que tem até fotos da gente fazendo meditação antes do jogo.”
Adversidades como força
Nati explica que nas lines femininas, assim como em times masculinos, um dos grandes trabalhos na parte psicológica é saber usar os problemas a favor das jogadoras.
“Aconteceu uma questão pessoal de uma jogadora no dia anterior e eu pensei ‘puts, vamos trabalhar isso’. Aí senta com a jogadora, conversa, entende o que aconteceu, trabalha. E o grupo também trabalhou para apoiar ela como um time. Ela jogou na força do ódio, a gente ganhou. também trabalhar essa força do ódio, pra canalizar.
Mas depende da pessoa. Às vezes tem gente que precisa enterrar aquilo até acabar e depois lidar com a situação, mas tem gente que usa essa força do ódio ou do amor pra conseguir desempenhar. O amor e ódio dão força se conseguimos usar isso de uma forma positiva.”
Os problemas em Dubai
A profissional não conseguiu acompanhar as jogadoras da INTZ para o Mundial em Dubai e, chegando lá, elas enfrentaram uma série de problemas. Na época, a própria organização registrou nas redes sociais reclamações de atrasos de jogos, eventos com duração de 24h embaixo do forte sol da cidade e poucas horas de descanso para a equipe.
Nati contou que fez o acompanhamento psicológico das jogadoras de forma online, e como foi lidar com todos esses problemas:
“A gente pensa ‘temos todos esses problemas, o que a gente faz com isso?’ então assim, teve milhões de problemas, conversamos sobre isso, mas a gente ainda tem que jogar. A gente vai desistir de jogar? Do sonho? Não. Então vamos ver esses problemas para trabalhar a resiliência. A resiliência surge nas adversidades. Resiliência nunca vai surgir no conforto do sofá vendo tv. Vai ser no perrengue, sol na cara, atrasos, ter que lidar com problemas e conflitos. Vamos pensar ‘tudo isso tá acontecendo, mas vamos usar isso como força pra jogar’.”
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