Entre tapas e beijos… as rivalidades se constroem. Conforme dito na análise da Vancouver Titans, os velhos novos rivais finalizam sua história no melhor palco possível: A Grande Final da Overwatch League, maior competição de Overwatch mundo.
Uma jornada com grande diferenças. Um caminho marcado por uma aposta realizada no ano passado – e que deu certo. Qualidade individual, irreverência, tempero. Podemos dizer que a San Francisco Shock, que baterá de frente com os titãs pela disputa do título da OWL, é um dos times que mais se aproximam do Overwatch moleque. Um OW ousado, alegre. E adivinha só quem tá na briga pelo prêmio Neymar de estilo de jogo? Isso mesmo, a Vancouver Titans!
Realmente… é o destino, quer você acredite nele ou não. E Hanzo me livre duvidar do que pode acontecer, porque o Confronto Final será uma caixinha de surpresas. Porém, é possível entender melhor as chances da Shock, o caminho que traçou até agora na Liga, suas características individuais e em equipe e qual a direção que deve seguir para não se desviar da taça. Então prepara a pipoca, a Nano-Cola, e vem comigo!
O começo da realidade
Lembra que comentei que a equipe era uma aposta? Pois bem… a “sorte” esteve ao lado da Laranja Mecânica. E, para entender tudo que levou o time a chegar bem na temporada de 2019 e conquistar o título da Segunda Fase da Liga – após perder a primeira final de playoffs justamente pra Titans -, vale a pena ler este artigo que escrevi logo após a possível maior felicidade da carreira dos jogadores até então! Nenhuma aventura é completa sem altos e baixos e, após polir ao máximo um estilo de jogo desafiador e continuamente detalhista, a Shock se consagrou merecedora do título de monstro da Liga. Entretanto, restou a dúvida de como a equipe manteria essa coroa. E eis que chega o próximo passo na bonita história do time…
Renovação de equilíbrio
O ponto alto da Shock sempre foi uma mistura fina de habilidade individual com irreverência e postura agressivas dentro de campo. O quesito estratégico da equipe sempre foi de altíssimo nível, é claro, mas o time não teria o mesmo destaque se um desses elementos que acabei de citar estivesse de fora do mix. Porém, diferente da Titans do começo da temporada, a Shock passou por mais mudanças e adaptações. Inicialmente foi na linha de tanques, conforme descrito no artigo citado há pouco. E, durante a Fase 3, a dificuldade era lidar com composições que apostavam mais em DPSs, principalmente trazidas por times que tinham suas vidas por um fio e precisavam desesperadamente de algo novo, uma tática diferente, uma ação inédita. Com isso, após duas Fases dominantes, a Shock acabou perdendo para Houston Outlaws e Chengdu Hunters – duas equipes consideradas medianas, tanto por resultados quanto por desempenho geral -, ambos os confrontos por 3 a 2, com uma visível falta de costume e, de certo modo, noção por parte da Shock de como lidar com adversários em um dia incrível e com estratégias renovadas.
Ainda assim, a resiliência laranja se demonstrou muito alta e a cada dia a equipe cresceu, até ascender aos céus novamente. A discussão com as asa havia acabado e era hora da Shock ver tudo o que acontecia lá de cima novamente. Fim da Fase Regular – Pharah apareceu mais, composições novas foram testadas, Striker deu as caras no seu Hanzo, o banco da San Francisco Shock prevaleceu e a equipe chegou aos playoffs. Aliás… finais de playoffs. Novamente. 3 playoffs, 3 finais. Contudo, dessa vez havia uma Shanghai Dragons no seu pé, com o trio parada dura – Youngjin, Diem e DDing – na melhor fase de suas carreiras, e nada foi capaz de conter os dragões, que saíram vitoriosos por 4 a 3. Inclusive, o acontecimento também rendeu coluna minha aqui no Mais, confere lá!
De cima pra baixo
Essa foi a direção que a Shock olhou durante toda a Fase 4, inclusive tendo vencido da Titans por 3 a 2 na semana da Rivalidade. Após o 2-2-2, a equipe se encontrou em uma certa zona de conforto no meta de Mei e Reaper, por ter jogadores suficientemente flexíveis e capazes de ter uma ótima performance com os heróis. A sinergia em si já existia e cada posição estava bem servida, restando assim somente polir as execuções e caminhar tranquilamente com a vaga para os Playoffs Gerais garantidas. Foi uma Fase 4 bem mais calma do que a da Titans e isso com certeza auxiliou, uma vez que Smurf, por exemplo, encontrou seu lugar no time bem mais cedo do que Tizi o fez na Titans, e isso catalizou a coordenação da Laranja Mecânica. Boa Fase, literalmente. 7 vitórias, 0 derrotas. O monstro havia ressurgido e talvez a Fase passada tenha sido somente um tropeço leve.
A reta final
Playoffs gerais entre nós. Torneio de dupla eliminação – formato novo até então para a OWL -, o que gera uma certa “tranquilidade” nas equipes, sabendo que há a chave de repescagem. A novidade? Sigma. Quem iria jogar com ele? Smurf estava bem posicionado como tanque principal e dificilmente sairía dali. Super… Nah, não faz sua cara. Nevix? É banco. Então a bronca ficou pro experiente e absurdo ChoiHyoBin, que matou no peito e saiu jogando. Porém, a Shock não contava com um único obstáculo: a Atlanta Reign. O time que mais cresceu na fase 4. A equipe que entendeu o meta antes de todo mundo e fez grandes nomes rodarem na pista.
E sim, o Sigma também afetou a Reign, porém o time tinha um Ás na manga: Gator. Tanque principal que esteve na equipe chamada GOATS – que criou a tão famosa GOATS – e parecia ter participado de todos os testes beta do herói. Com isso, a Shock iniciou a parte mais importante da Overwatch League da pior maneira possível: perdendo para a zebra por 4 a 3, com direito a um C9 que expeliu a alma de Moth do próprio corpo por breves segundos.
Ainda assim, se lembram da resiliência laranja? Pois bem… ela apareceu novamente, e a chave de repescagem da Shock mais pareceu partidas de treino. 4 a 0 na Spitfire, 4 a 0 na Gladiators, 4 a 0 na Spark e 4 a 0 na NYXL. Nenhuma chance para ninguém e muito mais séries de palco. Ou seja – experiência, confiança, moral e, como disse Neves, “perderam quando tinham que perder”. Tudo isso somado ao elenco forte, trouxe esperanças extremamente positivas ao torcedor, mesmo após a estreia conturbada. E falando em elenco…
Poderia ser as roupas no varal, mas foi um C9 mesmo! | Fonte: OWL
Os protagonistas
– Sinatraa
A estrela do time, com certeza. Jogador Mais Valioso da Temporada Regular. Inclusive, discutivelmente o melhor Doomfist da Liga. E alguns diriam que é isso e disparado, ainda. Consegue fluir muito bem entre avançar e ser capaz de responder o soco do Doomfist adversário – mecânica extremamente importante de ser dominado pelo jogador dessa posição. E tal característica foi, de certo modo, uma surpresa para a maioria, já que Sinatraa tem um histórico de heróis DPSs de Tiro Imediato – hitscan -, mas já provou que consegue se dar bem com praticamente qualquer coisa que caia em suas mãos.
Além disso, tem uma noção boa de quando chamar a responsabilidade pra si e de quando jogar pro time, mesmo tendo seu Impacto Meteoro disponível, o que usualmente faz com que o Doomfist vire uma maníaco por eliminações e se jogue na galera. Por exemplo, muitas vezes tal habilidade Suprema é utilizada para controlar o espaço de jogo do Reaper oponente enquanto Striker, o outro DPS do time, finaliza seu serviço. E é por essas e outras que o jovem prodígio precisa aparecer muito bem na Grande Final.
– Striker
Permaneceu muito tempo esquentando o banco da equipe, mesmo após ter sido o grande responsável por carregar a Boston Uprising na Fase 3 de 2018, época na qual sua Tracer foi o destaque absoluto da competição. E o mais incrível: Ao voltar à titularidade, não quis aparecer e mostrar serviço a fim de ganhar o espaço novamente. Jogou – e joga – para o time. É consistente, tem boas atuações, faz seu trabalho e ponto final. É possível perceber que raramente ele “age na louca”, como se não houvesse um amanhã. É contido e racionaliza o que vai fazer, o que é essencial para a posição de DPS, caso contrário seu time perde o potencial de eliminações e… do outro lado tem 6 jogadores loucos pra ter a taça em mãos.
Taticamente falando, é um fã gigantesco da utilização de cantinhos quando está em posição de defesa. Aproveita ao máximo de uma posição extremamente ofensiva – e muitas vezes surpreendente – para extrair valor e depois voltar com sua forma de sombras. Em palavras mais comuns pra galera do competitivo, Striker reseta pra flanco. Sempre. Independente do mapa. E a Titans tem que ficar com a atenção redobrada pra isso, porque um ou dois tiros a mais de um Reaper podem fazer total diferença.
– Smurf
A surpresa positiva do time. Esteve na ativa no começo do ano, quando Super não conseguia se encaixar na equipe e inclusive estava sendo chamado de “Super Bad” – para depois de algum tempo ser chamado de “Super Good”. Sabe seu papel, tem bons timings de Parados da Orisa e um estilo próprio de iniciar brigas: rapidamente, sem medo de ser feliz, utilizando todos os tempos de recarga de uma vez. Entretanto, pode começar as séries meio lentamente, como um carro velho que não pega no frio, que foi o caso da série contra a NYXL. E, embora passageiro, é um efeito que pode ser punido pelos experientes jogadores da Titans. Sua jogada característica é o Escudo rápido, seguido de amplificador e Parados na hora do recuo do time oponente e ela tem funcionado bastante. Pode parecer simples e besta, mas o momento de utilizar o pacote completo é bem pensado, fazendo com que o adversário não saiba se continua recuando ou compra briga, gerando indecisão e vantagem pra Shock.
Em resumo, entrou para jogar com o time e está fazendo isso, em todos os sentidos. Lembra, inclusive, Tizi, tanque principal da Titans, que está em situação parecida. Não tem como… os dois times possuem diversas semelhanças e estão há tanto tempo brigando pelo topo que a convivência pode ter afetado ambos os lados de maneiras inimagináveis!
– ChoiHyoBin
Acostumou-se extremamente ao Sigma. Cada dia mais consegue ser efetivo, sabe se virar sozinho com o herói, tem uma boa noção do dano que garante em jogadas mais ofensivas e de até onde pode ir em segurança. Em geral, possui um bom posicionamento contra diversas composições – como Bastion e Pharah, por exemplo – e sabe o que fazer nas lutas, estando no lugar certo e na hora certa. Aliás, dificilmente gasta seu Punho Cinético sem efetividade. Choi, para os íntimo, sempre investe sua habilidade na hora de rotacionar, parar um Desabrochar da Morte de Reaper, um Bombardeio de Pharah e por aí vai.
E falando em jogadas características, suas mãos dadas com o Striker apareceram algumas vezes nas séries de playoffs e é algo simples porém muito interessante. Ao invés de habilitar seu Reaper por meio de velocidade do Lúcio, flanco ou teleporte no meio do time adversário, muitas vezes vemos Choi e Striker caminhando de pouco em pouco, com a utilização rápida do escudo do Sigma, para que Striker consiga ficar em posição de dar dano. Assim, Moth fica recuado para proteger Viol2t e Smurf segura as pontas até Choi voltar. Muitas vezes funciona e é bom ficar de olho!
– Viol2t
Com sua Moira, em geral é menos ofensivo em comparação com o Twilight – suporte da Titans. Tende a usar sua coalescência mais reativamente e guardar sua Suprema por uma maior quantidade de tempo. Muitas vezes, inclusive, não a utiliza na luta, por reconhecer uma derrota e preferir ter o recurso na próxima briga, mesmo que o mais comum seja investir a coalescência logo de cara a fim de carregar uma outra suprema importante com o espaço criado pela ultimate da Moira. É consistente e não costuma ficar fora de posição e ser eliminado por conta disso.
Agora… em se tratando de Ana, a coisa toda muda muito. E sim, Viol2t gosta de jogar de Ana, principalmente em situações de Bastion e Pharah – em mapas de escolta como Rialto, por exemplo -, sendo um artista com ela. Cria jogadas, abre brechas com bons Dardos Soníferos nos DPSs e adiciona possibilidades mil a cada briga que seu time trava. Por isso, é uma das estrelas da equipe, peça importantíssima no xadrez laranja que precisa estar “nos trinques” contra Vancouver.
– Moth
Um dos Lúcios mais criativos e agressivos da Liga, com certeza, porém um dos mais displicentes em se tratando do meta recente. É difícil para um Lúcio armar qualquer jogada na situação atual e seu estilo de jogo deve ser muito mais reativo e protetivo do que proativo. Inclusive, especialmente na série contra a NYXL, Moth sofreu muitas vezes nas mãos do oponente justamente por conta de avançar de mais.
Gosta de jogar nas paredes para evitar tomar muitos socões de Doomfist e, quando começou a ficar mais junto de sua retaguarda, a Shock rodou muito melhor.
E, em se tratando de Baptiste, é ridiculamente bom. Belos timings pra Campo de Imortalidade, consegue emplacar muito dano nos heróis adversários e constantemente é um fator diferencial na hora das eliminações. Em geral, não pode dar mole porque não tem nenhum bobo do outro lado. A Titans vem forte, conforme disse semana passada, e é imprescindível que todos da Shock estejam em seus melhores dias na Grande Final.
– Rascal
Entra pra fazer Mei, principalmente, e Pharah e faz um bom papel com ambas. A Pharah não aparece tanto e nem sempre é a primeira opção mesmo contra uma Pharah do outro lado, porém sua Mei é completamente fora da curva. Boas paredes, tenta sempre avançar e focar os tanques, controlando toda a situação. Um ótimo jogador, que se provou altamente adaptável durante o ano todo – jogando de Brigitte e até Baptiste – e entrará em momentos específicos, principalmente em mapas de escolta.
– Architect
DPS da seleção coreana, usualmente é o Bastion do time. Joga pela equipe e sabe os pixels corretos que precisa marcar e/ou se posicionar com a metralhadora ambulante. Tem, aliás, um grande repertório justamente com o herói e raramente deixa a Shock na mão. Muito pelo contrário – costumeiramente avança bem, de maneira coordenado, e tais avanços, diversas vezes gerando eliminações, proporcionam uma luta mais fácil e até um efeito bola de neve essencial para manter a carga andando e evitar uma reestruturação decente do oponente. Pode aparecer em situações específicas na Final e eu espero que o time o coloque em campo, porque ele merece pelo desempenho que vem tendo.
– Nevix e Super
O primeiro provavelmente permaneça no banco, a não ser que a Shock queira aprontar algo muito absurdo. E a mesma lógica vale pro segundo, que não está em um momento favorável no que diz respeito ao meta, portanto deve aceitar esperar pelo resultado na salinha da equipe, relativamente longe da arena.
O caminho das pedras
No nível que ambas as equipes estão, um dos dois cenários é o mais provável – ou erros básicos começam a aparecer devido ao nervosismo e devem ser lidos com rapidez pelo oponente que está melhor preparado, ou dificilmente alguém errará e cada mínimo espaço e tempo deverá ser utilizado para extrair o maior valor. Considerando isso, é difícil apontar com precisão o que deve ser feito, porém dá pra termos em mente o que a Shock já fez e já deu certo. Com isso, essas podem ser opções extremamente válidas pra que a Laranja Mecânica faça seus torcedores felizes!
Primeiramente, uma das atitudes que mais funcionaram pra San Francisco foi o foco em cima do offtank adversário – o Sigma, nesse caso, mantendo ainda a definição de tank e offtank -, após a primeira onda de habilidades ser gasta, tornando um alvo mais difícil de ser eliminado em uma presa relativamente fácil de ser abatido, o que dá ainda mais espaço para Sinatraa e Striker fazerem suas peripécias.
Além disso, continuar com sua formação mais juntinho – atacando em bloco e defendendo em massa, a não ser pelo Striker no começo das defesas – deve ser um ponto alto da equipe, que já bateu na Titans utilizando essa tática. Isso porque Vancouver joga justamente da maneira oposta – todo mundo espalhado, cada um cobrindo uma parte do mapa, acreditando nas lutas e tentando fazer jogadas. E é claro que uma maneira só de jogar está longe do suficiente pra se vencer uma série com no mínimo 4 mapas, porém aproveitar da unidade enquanto é possível será importante pra uma moral inicial do time.
Na sequência, é possível perceber uma pequena fragilidade na equipe em defender contra composições diferentes em mapas que possuem pontos estáticos – Híbridos e de Assalto. Bastion e Pharah em King’s Row, por exemplo, podem bater direto no calcanhar de Aquiles da Shock e espera-se que a equipe tenha se preparado, porque o tempo ganho em defesas de primeiro ponto é essencial, principalmente em se tratando de uma Titans que constantemente briga e briga muito, lutas longas, praticamente intermináveis. Dar tempo pro adversário ter a possibilidade de jogar do jeito que sabe pode ser o fim da linha.
E, finalmente, é preciso tomar cuidado com as jogadas de amplificador pra início de lutas, pois já está manjada demais e pode ser punida tranquilamente pela Titans, em especial quando o Doomfist do time tiver Impacto Meteoro.
E é isso! O confronto Final está marcado pro dia 29, Domingo, e não há desculpas para perder a festa do Overwatch! Começando às 16h, espero todo mundo na Transmissão Oficial da Overwatch League em Português e que vença o melhor! Possivelmente será a série mais disputada e de alto nível que o OW profissional já viu em toda a sua história! Um abraço e até lá! :D