Uma das histórias mais intrigantes, emocionantes e expressivas de todas as modalidades de esportes do mundo: A Shanghai Dragons, franquia que não venceu nenhuma das 40 séries que disputou na Temporada Inaugural da Overwatch League em 2018, recentemente sagrou-se campeã da Terceira Fase da Temporada 2 da OWL. Além da importância imediata do título recém conquistado, a maneira que o time o fez isso é impressionante e com certeza impactará o futuro próximo de toda a Liga! Portanto, sem mais delongas, partiu conferir a trajetória de lágrimas, surpresas, dúvidas e persistência pela qual a Shanghai Dragons passou até alcançar um dos títulos mais importantes do Overwatch Mundial!
O único representante chinês!
2018. O nome, emblemático. As cores… pareciam a fachada de uma famosa empresa de fast food. A missão: representar toda a China na Temporada Inaugural da Overwatch League. Com um elenco completamente chinês composto por Undead, MG, Freefeel, Fiveking, Altering, Diya, Roshan e Xushu, o início da Dragons foi prontamente por dúvidas. Primeiramente, os melhores jogadores chineses da época, pertencentes ao time da Miraculous Youngster, não estavam presentes no elenco da Overwatch League. (Lembram de nomes como Lateyoung, YangXiaoLong e Jiqiren? Então…)
E, ao menos em 2018, era impossível vê-los por lá, já que a maioria ainda não tinha completado os dezoito anos necessários para que a elegibilidade de jogo fosse alcançada. Portanto, a nuvem de suposições, em grande parte negativas, começou a pairar nos ares dos Dragões, mesmo antes de qualquer derrota acontecer. E a Liga começou, dia 10 de janeiro de 2018, já com o pior resultado para a equipe de Shanghai: atropelo da LA Gladiators por 4 a 0.
Após uma Fase inteira da Liga completa, a equipe não viu a vitória escrita em seu histórico. E, claro, não sabia ainda que passaria o restante da temporada sem ganhar absolutamente nada além de um mapa ou outro durante séries.
Com isso, as mudanças começam a acontecer, com a entrada, em fevereiro de 2018, de Ado, Sky, Fearless e Geguri. Dos quatro reforços, somente Sky era chinês e esse foi o marco inicial da abertura internacional da Dragons, que viria a surtir efeito e colher bons frutos em 2019.
Tava ruim, mas parece que piorou…
Na Fase 2 da Temporada Inaugural, a Dragons teve sua pior campanha de todas na Liga. Foram somente duas vitórias em mapas e um empate, somando 37 derrotas. Para se ter uma noção, durante as 3 Fases da Liga em 2019, a Dragons teve 42 derrotas em mapas, somente 5 a mais do que a equipe “conseguiu” na Fase 2 de 2018. Em resumo: um completo desastre.
O meta era aparentemente interessante para o time, que contava com Diya e Undead como jogadores de Widowmaker e podiam fazer a diferença mas… não dava. Parecia impossível. Os abates não ocorriam. As estratégias não davam certo. Nem o técnico RUI, que veio da Miraculous Youngster (pelo menos o técnico!), parecia saber o que estava acontecendo com o time. E foi nessa pegada cabisbaixa que a já desacreditada Dragons seguiu para a Fase 3 da Temporada Inaugural da Liga.
Um reforço intrigante.
No meio da Fase 3, em abril, a Dragons contratou outro jogador: Daemin, coreano, DPS. Porém, o que já estava envolto em dúvidas ficou mais nebuloso ainda. Por que um novo DPS sendo que as únicas partes do time que se salvavam eram justamente os jogadores causadores de dano e a offtank Geguri? Qual seria o tamanho da melhoria proporcionado pela nova peça dos Dragões?
Resultado: mais 10 derrotas. Quase arrancaram uma vitória contra a Fusion, em uma série bizarramente emocionante que se encerrou 3-2 a favor da equipe de Philadelphia. E só. Daemin não era o salvador que Shanghai precisava. As engrenagens estavam enferrujadas. Até comunicado oficial no Twitter rolou, falando que a organização estava tentando proporcionar o máximo de conforto para os jogadores chineses, para que se sentissem em casa, citando até exemplos de comidas que estavam sendo servida, para que o público tentasse se agarrar em alguma esperança. Mas era difícil.
Agora ou nunca!
Na última Fase de 2018, a já (com o perdão do termo) desgraçada campanha da Dragons parecia que não tinha mais para onde afundar. O fundo do poço havia ficado para trás há muito tempo e mais parecia que os Dragões já estavam sentados no colo do capeta. Porém… parecia. Sempre dá pra piorar.
Sem reforços, em um meta que estava começando a pedir cada vez mais sinergia e trabalho em equipe – com a entrada de Brigitte no jogo e as aparições de composições proto-GOATS -, Shanghai estava fechando sua campanha de 40 jogos e 40 derrotas. O último suspiro, o momento de maior esperança para acabar de uma vez com a zica da equipe, foi na série contra a Florida Mayhem e seu também risível retrospecto em relação a vitórias em confrontos. Não era tão ruim quanto o da Dragons, mas era triste. Jogo tenso, pegado, a Mayhem não queria ser “o time a perder para a Dragons”. E, após muito sufoco, a série terminou em um 3-2 a favor da Mayhem, deixando a Dragons no “quase” novamente. O trem descarrilou. O caldo azedou. A vaca foi pro brejo.
• Um novo ano, uma nova história.
No melhor estilo “pós-experiência de quase-morte”, a Dragons mandou praticamente seu elenco inteiro pro olho da rua e apostou na renovação. Ou até na revolução, eu diria. Sobraram somente Geguri, Diya e Fearless – justamente os que se destacaram na temporada passada. Na parte técnica, RUI havia sido desligado após a Fase 3 da Primeira Temporada, dando lugar a Kong, coreano que também foi chutado do time para a renovação de 2019. Aliás, sobre o RUI: Mesmo sendo o cabeça durante a maioria da má fase da equipe, hoje ele é técnico principal da Chengdu Hunters!
Com isso, BlueHaS, também coreano, foi chamado como técnico principal, e o time apostou em uma equipe da Contenders coreana, a Kongdoo Panthera, que havia ficado em segundo lugar contra a RunAway na final da segunda Temporada da Overwatch Contenders Coreia 2018. Na ocasiaão, a equipe perdeu de 4-3. (E finalmente conseguiu vingança na vitória da Dragons sobre a Titans agora nos playoffs da Fase 3 da Liga!)
Entretanto, o time não veio completo, pois Decay e Roar já haviam ido para a Gladiators, que também reconheceu o potencial dos garotos e provavelmente pagou mais. Tudo parecia muito bem: Fearless assumiria a função de Tank Principal; os recém-chegados CoMa, Luffy, DDing e Youngjin cobririam o restante das funções; outro contratado, Diem, dividiria o papel de DPS Hitscan com Diya, remanescente da lineup, assim como Geguri faria um papel importante na equipe para composições mais parrudas de 3 tanques e 3 suportes trazendo sua D.Va e Zarya absurdas e, possivelmente, dividindo a titularidade com GuardiaN, a última adição da equipe. O time era forte. Era equipe pra playoff, pra chegar com os dois pés no peito das outras equipes. Futuro promissor, potencial incrível, altas expectativas. Mas… já ouviu falar de Lei de Murphy?
O chamado da natureza.
Fearless, que seria o Tank Principal, pediu à organização para se recuperar de um problema de saúde em casa, na Coreia, pois, segundo ele, não conseguiria conciliar os treinamentos com a recuperação. A patologia em si permanece nebulosa, porém o que sabemos é que a organização, obviamente, aceitou o pedido e teve que arcar com um buraco em seu elenco, uma vez que não havia outro Tank Principal no time. Na declaração oficial, a equipe comentou que “múltiplos jogadores fariam o papel de Tank Principal”. Entretanto, na prática, vimos Geguri tendo que jogar de Wrecking Ball para que a Dragons pudesse permanecer de pé. Foi horrível? Até que não. Mas longe do estado atual da equipe, com certeza.
Pelo menos, a situação durou pouco, já que o reforço a jato da Dragons estava chegando. O nome dele? Gamsu! Jogador experiente, peça fundamental na recuperação e crescimento da Boston Uprising em 2018, Tank Principal extremamente competente com a pequena game de heróis da função, que aparentemente não sabia que seria vendido à Dragons e… simplesmente “apareceu na equipe”. E foi a melhor coisa que fizeram por ele, por mais que tenha sido por livre e espontânea vontade alheia.
A quebra da maldição!
Dia 23 de fevereiro de 2019. Se essa data virasse o Dia Internacional da Esperança eu entenderia e ainda aplaudiria de pé. O oponente: Boston Uprising. Sim, a mesma Boston do nosso representante, Alemão. A mesma Boston que havia vendido Gamsu quase que compulsivamente algum tempo antes. Por mais estranho que fosse falar e escrever isso nesse dia, a Boston foi a primeira vítima da Dragons. SIM, A DRAGONS TINHA GANHADO UM JOGO! P*** QUE O PARIU! CAPSLOCK!
Um jogo relativamente fácil, com vitória já por 3-0 no terceiro mapa, que levou o torcedor da Dragons, o fã de Overwatch, o fã de esports e o fã de esportes a comemorar, chorar, espernear, postar #IWasHere no Twitter (#EuEstavaAqui), enfim… histeria coletiva. E merecida. Os Dragões começavam a alçar voo finalmente, e o caminho seria próspero.
Os primeiros playoffs da história do time.
Após a desencantar, a equipe garantiu uma campanha mediana: 3 vitórias e 4 derrotas. O recorde não rendeu lugar entre os primeiros oito times, tendo a Dragons ficado no 13º lugar da Fase 1, acima da até então campeã, Spitfire, por exemplo. E o mais importante já estava aparecendo e começando a tomar forma – composições com Sombra, que ditariam o futuro estratégico do jogo em alto nível, estavam sendo utilizadas pela equipe, com DDing aparecendo bem demais com a heroína mexicana. Tentativas de Doomfist do YoungJin chegaram a ser vistas, mas sem grande sucesso. Contudo, é importante lembrar que os visionário sempre são chamados de loucos no começo de tudo, e esse foi exatamente o caso de Shanghai.
A Fase 2 chegou, e, com ela, a primeira classificação para playoffs do time! Após uma campanha com uma vitória a mais do que na da Fase anterior, a equipe chinesa assumiu o oitavo lugar da tabela, tendo que disputar logo nas quartas-de-final a permanência no mata-mata com a San Francisco Shock, de quem já haviam perdido de 4-0 durante exatamente a Fase 2.
O meta era bem mais fechado a composições de 3 tanques e 3 suportes, a Dragons queria abrir suas asas com a Sombra e Pharah de DDing, porém ainda não havia espaço. Era “embrionário” demais e a zona de conforto que tanto Shock quanto Titans, por exemplo, apresentavam com as composições de GOATS era extremamente grande. Portanto, a força de tais times com essas táticas era colossal, o que provocou uma derrota dos Dragões logo de cara pra Shock por 3-1. Porém, o cheirinho de sucesso já tinha sido farejado pela Dragons, e a fome de título tava forte. Ou eles matavam a fome, ou a fome os matava.
Fase 3: O cenário perfeito!
O meta havia mudado. Widowmakers, Pharah, Sombras, Orisa e Roadhog começaram a aparecer constantemente e efetivamente nas partidas, e um dos times que mais ficaram felizes com as novidades foi justamente a Shanghai Dragons. DDing literalmente voa de Pharah, Diem se mostrou uma das melhores senão a melhor Widowmaker da Liga inteira, e ambos conseguem desempenhar um papel incrível e ter um desempenho fora da curva com a Sombra, o que aumentou ainda mais o leque estratégico dos Dragões. A única adaptação necessária seria na linha de frente, que teria que dominar a combinação de Orisa e Roadhog, seus puxões com o Parados! da cavalona robô, colocação de escudos, rotações diferentes etc. Ainda assim, abrir espaço para os DPSs jogarem não parecia tão difícil quanto a sinergia necessária para a 3-3 rodar bem, e a Dragons, pela primeira vez na história, estava em sua zona de conforto. E, somado a isso, os outros times pareciam estar migrando para táticas com mais DPSs somente na Fase 3. Ou seja: Toda a utilização de DPSs e composições de Sombra nas Fases 1 e 2 foram essenciais para a Dragons cortar caminho na adaptação ao que viria a ser a estratégia mais forte do competitivo na Terceira Fase da Liga.
Homestand de Atlanta, confronto direto contra a Philadelphia Fusion para conquistar a última vaga dos playoffs. Deu vermelho, amarelo e preto. Era o início de mais uma jornada rumo ao desconhecido.
Desafio pouco é bobagem!
Primeira parada, New York Excelsior, time mais bem colocado da Fase 3, líder da divisão do Atlântico. Com a volta de SaeByeolBe à titularidade, a equipe era uma das favoritas ao título do mata-mata, mesmo com a pejorativa fama de perder a linha em situações de playoffs e não alcançar vitória nelas. E parece que foi exatamente isso que aconteceu.
Surpreendentemente colocando Mano e Meko para jogar, abandonando a estratégia com SaeByeolBe e sua Sombra, a NYXL tentou algo novo e… falhou. Mano foi controlado o tempo inteiro por Luffy, que estava em uma das melhores noites da sua vida, e Meko ainda tentou “braçar” lutas, vencer na habilidade individual, criar jogadas, fazer milagres… mas não foi o suficiente. O restante do time apagou, e os Dragões saíram vitoriosos.
Próxima parada, os Titãs de Vancouver. Conhecidíssimos pela sua composição de GOATS, a equipe estava se adaptando com Stitch na Sombra, que havia se destacado como um ótimo jogador com a heroína, apresentando hacks precisos e inteligentes para armar jogadas. Entretanto, não foi o que aconteceu dessa vez. A Titans foi forçada para fora de sua zona de conforto, YoungJin mostrou mais uma vez seu Doomfist ao mundo e a Dragons, em especial os quatro jogadores que eram da Kongdoo Panthera, conseguiu provar ao mundo que suas táticas eram fortíssimas e não somente novas ou “apelonas”. Era o melhor momento da Dragons. Vitória sobre o líder do Atlântico e agora sobre o líder do Pacífico. Faltava um passo. Faltava um degrau. Falta a Shock, atual campeã da Fase 2 da Liga. E… sabe o que dizem sobre a terceira vez que algo acontece, né?
https://twitter.com/VancouverTitans/status/1150217997128282113
Tweet da Titans planejando uma festa para assistir à final antes mesmo de terem enfrentado a Dragons. Eu acho que deu ruim…
Uma das finais mais chocantes da história!
Começando com um elenco diferenciado, a Shock entrou no palco com Architect, Smurf e Striker, provavelmente para utilizar toda a versatilidade de heróis dos DPSs, em específico a Tracer absurda de Striker, e tentar parar o forte início da Dragons em mapas de Controle. Entretanto, de nada adiantou e, após um começo forte da Laranja Mecânica, os Dragões engataram a quinta marcha e não pararam mais! 1-0 na série, fora o baile de Diem pra cima de Striker no quesito Widowmaker.
Super e ChoiHyoBin não conseguiam aparecer bem, e, mesmo com a Shock forçando composições e estratégias pra cima da Dragons, para tentar tirá-los de qualquer zona de conforto, a equipe chinesa não cedeu e fez 3 a 0 no confronto, ficando a um mapa do primeiro título da sua história! Porém, SanFran não iria cair tão cedo e, com uma defesa total em Havana, após uma melhoria avassaladora de sua linha de frente, a Shock começou a reação. ChoiHyoBin voando, foco para cima de YoungJin e da retaguarda da Dragons, que foi um dos pontos mais importantes da equipe durante todo o mata-mata, foi bem executado e parecia que a maior virada da história da Liga aconteceria na nossa frente. Mas não foi bem assim.
O estado mental dos Dragões permaneceu bom, o repertório estratégico tinha acabado mas a habilidade individual, não. E, mesmo após sofrer um Full Hold em Havana, mapa de escolta, foi em Dorado, outro mapa de escolta, que a série se definiu a favor de Shanghai, no melhor estilo Dragons: Habilidade individual, bombardeio do DDing, tirambaço do Diem, dedo no W e gritaria. E estava feito: o primeiro título na história da franquia havia sido conquistado. A revolução e as decisões administrativas do fim de 2018 haviam surtido efeito. A maior zebra, e até piada, dos esportes finalmente havia conseguido uma grande vitória. Foi memorável. Foi épico. Foi único. E eu agradeço todos os dias por ter sido parte disso, estando presente na cobertura ao vivo da série.
Today means the world to us. It’s bittersweet, and the road we’ve walked to get here was never easy.
But to all the Dragons from the past and present,
To all the staff who work tirelessly for our sake,
To all the fans who always believed in us,
This win is for you. Thank you. pic.twitter.com/DcG8HnePjd— Shanghai Dragons (@ShanghaiDragons) July 14, 2019
O Futuro
Agora que o time já é “adulto”, a falta de pressão nas costas não existe, e a equipe entra no bolo de tantos outros elencos que disputam constantemente o topo da tabela. O meta está evoluindo para algo que continua ajudando o estilo de jogo da Dragons, o time está entrosado e dosa corretamente a loucura com a consciência, e os próximos passos da equipe parecem promissores.
O elenco tem banco de reserva ainda, contando até com Envy, que não foi citado durante o texto pois mal apareceu em jogo, mas está listado entre os jogadores da equipe. Além, é claro, de Geguri e Diya, que eventualmente pode ser utilizado. Fearless foi liberado do time principal – está na equipe Academy da Dragons – e Guardian, que havia se juntado ao time na renovação do fim de 2018, também não faz mais parte dos Dragões.
Campeões da Grande Final? Talvez seja sonhar demais. Porém, todas as grandes conquistas são iniciadas em um sonho que parece absurdo, portanto olho nos Dragões!
E esta foi a trajetória completa do time com uma das histórias mais fascinantes do mundo dos esportes e eu realmente espero que você tenha gostado de viajar no tempo comigo! Com isso, para não perder nada dos próximos capítulos dessa novela, eu espero você nas transmissões em Português da Overwatch League, no canal Oficial da Liga em Português! Horários, dias e cronograma completo estão no Site Oficial da Liga, já no horário de Brasília!
Um grande abraço e até semana que vem! :D