Vozes do CS:GO é uma série que traz ao leitor do Mais Esports a história de vida dos narradores e comentaristas do Counter-Strike: Global Offensive. Além de falar sobre sua vida pessoal e suas trajetórias profissionais, os casters conversam um pouco sobre o cenário de CS:GO e dão dicas para quem quer seguir a carreira profissional na área.
O sexto personagem de nossa série é o qeP, narrador de de Counter-Strike: Global Offensive. Em entrevista ao Mais Esports, qeP contou sobre sua vida, início no CS:GO entre outros assuntos.
Ricardo “qeP” Fugi tem 38 anos, é formado em Prótese Dentária e mora em São Paulo, capital. Em sua infância, qeP relembra que o computador não era algo comum na sociedade e que havia muitas dificuldades para se conseguir jogar algo: “Lembro que íamos até às lojas de games [que vendiam jogos em disquete] na República para comprar jogos, já que não existia internet ainda.”
Esporte eletrônico na vida de Ricardo
O primeiro jogo que qeP acompanhou competitivamente foi Alliance of Valiant Arms. Esse interesse surgiu no ano de 2010 com as transmissões da modalidade na ESL Europeia. Como não existiam streams brasileiras, a comunidade do jogo se juntou para organizar campeonatos e juntamente com os torneios, surgiu a necessidade de transmitir as partidas e foi assim que Ricardo começou na narração. “Eu na época tinha uma internet até relativamente boa então comecei a streamar e comentar os jogos. Foi aí que tecnicamente fiz minha primeira narração”
O início no CS:GO e dificuldades
Qep entrou no cenário no ano de 2016. “Eu jogava e acompanhava o CS:GO desde o lançamento e sempre tive vontade de fazer parte das narrações”, lembrou. No final de 2015, Bernando “BiDa” Moura lançou três narradores pela Games Academy: Lore, Chubakah e STP. “Mandei uma mensagem pro BiDa via fan page do Facebook e ele me disse que não teria vaga no momento […], mas sugeriu que eu treinasse a narração.”
Após isso, qeP começou a treinar a narração e junto a isso, postava seus vídeos no YouTube, sempre recebendo o feedback do BiDa. O treino produziu efeitos positivos e o narrador ganhou uma oportunidade para narrar, em março de 2016, uma Dominguera da Games Academy. “Foi uma stream no minimo curiosa porque eu entrei todo travado de nervoso e suava frio (risos).”
No começo a aceitação de uma nova voz no Counter-Strike: Global Offensive foi uma dificuldade. “Todo mundo que veio num embalo da Games Academy viveu a sombra do BiDa e consequentemente a rejeição existia pelo fato de que até então o BiDa narrava todos os campeonatos”, lembrou. Ricardo relembra que era um cenário hostil e que foi muito difícil evoluir dentro desse ambiente.
Uma outra dificuldade para o narrador é que no início de sua carreira, as pessoas não gostavam de sua voz. “[…] no começo o pessoal não gostava muito da minha voz. Já ouvi muita gente dizendo que não servia pra ser narrador, mas você transforma tudo isso em motivação e eu, que tinha complexo com minha voz, superei e hoje em dia eu gosto dela”.
Momentos importantes
Um dos momentos mais importantes em sua carreira, foi a profissionalização como narrador no ano de 2018. “Até então eu conciliava com meu serviço de protético e isso afetava bastante no meu crescimento como narrador. Muitos eventos eu deixei de fazer em função de não conseguir folga do serviço.”, afirmou.
Quanto aos eventos, a ESL One Belo Horizonte foi um marco na vida profissional de Ricardo. O narrador relembra com carinho da torcida no Ginásio do Mineirinho: “Uma torcida muito calorosa e que acolheu a gente de braços abertos. Até hoje sinto saudades daquele calor humano.”
O esport para qeP e planos para o futuro
Sobre a importância do esporte eletrônico na vida do narrador, ele sintetizou tudo aquilo que a modalidade representa para si enquanto ser humano: “Para mim o esport é minha motivação.”, afirmou. Já para o futuro, o narrador afirma que as metas não prioridades em sua trajetória e que tenta melhorar – como profissional – todos os dias; que o amanhã possa ser superior ao ontem.
O Counter-Strike: Global Offensive
Perguntado sobre as perspectivas sobre o cenário do CS:GO para este ano, qeP separa em duas partes: o cenário internacional e o nacional. No âmbito global, a expectativa, segundo o narrador, é que o MIBR volte a ser protagonista entre os melhores do mundo e que a equipe brasileira conquiste mais títulos. Já no cenário interno brasileiro, a visão é de que as equipes que atuam aqui possam aproveitar as chances de participação em campeonatos internacionais para ajudar no fortalecimento do cenário nacional.
Sobre a visão para o game a longo prazo, o narrador afirma que a profissionalização será realidade em pouco tempo. “Eu acho que cada vez mais a profissionalização vai acontecer”, afirmou. “Jogadores vivendo somente de CS e tendo um ambiente que eles possam se dedicar somente ao jogo. Isso acontecendo também aos casters.”, completou.
Respeito da comunidade
Qep é um dos narradores mais respeitados do cenário de CS:GO brasileiro e é influência para diversas crianças e adolescentes que sonham algum dia alcançar esse espaço. Qep afirma que essa inspiração é apenas uma consequência de seu trabalho, desde o início até os dias atuais. “Inspiração é consequência do que você fez ate hoje, né. A gente tenta não perder a essência da pessoa que sempre foi. Não deixar que isso suba a cabeça é essencial”.
Conselhos
O narrador também deixou um recado aos leitores do Mais Esports que desejam seguir esta carreira. “Eu diria para treinar bastante, pois a prática leva você a melhorar cada vez mais e você se tornando o seu maior crítico pode ter certeza que não cairá no acomodamento”, aconselhou. Por fim, incentivou o estudo a fundo da modalidade. “Estudar o game que você quer trabalhar, ninguém irá te contratar se você não tem domínio do que você esta falando”.