Embora o nome do projeto seja Wakanda Streamers, o coletivo não se fecha somente a esse ramo. Com o objetivo de reunir, integrar e fortalecer a comunidade preta, o projeto tem conquistado seu espaço no meio dos Esports e também atua fora dele.
Fundador da Wakanda Streamers, Tales Porphirio conversou com o Mais Esports e detalhou os objetivos do projeto que teve início após um “teste de pescoço” em uma plataforma de streaming.
“O teste do pescoço é que você, quando está passando na rua, só estica o pescoço para olhar por dentro da loja e faz a contagem de quantos negros tem ali dentro e o cargo que eles ocupam. O nosso trabalho surgiu de uma necessidade, que é algo histórico. Quando fui procurar outros streamers pretos, foi uma dificuldade enorme para achar”, declarou Tales.
Junto dele, Vinicius Oliveira, que streamava na época, também é fundador do projeto. A dupla começou a ir atrás de influenciadores para formar uma rede de comunicação entre negros e até nomes como Rashid e Emicida divulgaram o coletivo, o que alavancou a Wakanda.
Atualmente, a comunidade já se expandiu para muitos outros assuntos. No seu Twitter, Tales citou uma divisão em Ministérios como Artes, Fotografia e Cultura. Assim, os pretos que desejam estar em contato com essas áreas e em constante aprendizado, além de fomentar esse senso coletivo.
Psicologia, direito, pedagogia, fotografia, cultura preta, história, Mulherismo Africana, Masculinidades, etc).
Pra isso acontecer da melhor forma possível, é preciso reunir os profissionais de cada área!
E pra isso preciso que vc divulgue e convide os(as) da sua área 😌🙏🏾 +— TalixX (@TalixXGamer) May 25, 2020
Wakanda Streamers fora das streams
O projeto leva no nome e na história da fundação a relação com as streams. No entanto, Tales viu a necessidade e a oportunidade de levar esse trabalho para fora do mundo dos games e inseri-lo na rotina dos negros.
“Nós divulgamos criadores de conteúdo como ilustradores no Instagram, vendedores de roupas, humoristas, músicos, arquitetos, vendedores de tapioca. É uma questão de comunidade para tentar fortalecer esse fluxo de informações”.
“Você está com fome? Temos vendedor de tapioca, entregador de pizza. Fazemos isso para sanar a exclusão econômica que existe. É difícil conseguir um emprego por causa da cor de pele. Se fizer um levantamento, confirmará o que vários estudos dizem. O preto recebe menos, a mulher preta ainda menos, isso quando são contratados. O projeto vem para sanar isso. Queremos trazer um fortalecimento sem a visão da competitividade porque tem lugar pra todos”, explica.
A responsabilidade nas streams
Em um momento de protestos acerca da importância das vidas negras mundo afora que resultaram em publicações de organizações e influenciadores dos Esports, Tales reforça a responsabilidade que esses criadores de conteúdo têm sobre seus viewers.
“O projeto tem valores, é composto por segmentos. O streamer, ao fazer o conteúdo dele ao vivo, está alcançando um público e ele gera não só um entretenimento, mas também um impacto. As opiniões dele têm impacto, tudo o que a pessoa fala vira jargão. A pessoa é idolatrada”.
Poucos streamers e influenciadores pretos
O meio dos Esports e dos jogos carece de nomes pretos. Poucos são os streamers de sucesso e os jogadores no cenário. Tales aponta que esse paradigma é um reflexo histórico.
Ele relata as dificuldades de negros alcançarem cargos mais altos, de serem majoritariamente destinados a empregos subalternos, o que dificulta a entrada em meios caros como das streams.
“Vai ver o preço de um computador gamer. Vê as necessidades de um streamer preto. Muitas pessoas da comunidade preta começam a trabalhar muito cedo. Não digo só de computador e de equipamento. Ao falar de fotografia, uma câmera você pode começar com R$2 mil a R$5 mil reais e ainda precisa de outros equipamentos, do aprendizado, para começar a trabalhar”, comenta.
Caso Dz7
Tales cita diversos casos de ataques racistas tanto em streams quanto nas redes sociais ao projeto devido a cor preta dos participantes, mas avisa que o “ideal é muito maior que qualquer coisa”.
E foi uma brincadeira de mau gosto que voltou a impulsionou o projeto nos últimos dias, principalmente o streamer Dz7. Durante uma stream, um espectador realizou uma doação falsa de R$4 mil para Dz7 e ele chorou ao vivo, sem saber que era mentira.
Ocorreu uma situação muito dolorosa com o streamer @dz7gaming__
Eu não sei o que leva as pessoas cometerem atos como esse, streamer já toma tanta porrada pra crescer e ter sucesso, já têm tanta dificuldade para passar toda alegria em horas de live, lutar pra não desanimar… 1/2 pic.twitter.com/EWq66K79bJ— Wakanda Streamers (@WakandaStreamer) May 28, 2020
Tales comenta sobre o apoio que a comunidade da Wakanda deu ao streamer e qual é a verdadeira importância da divulgação do vídeo além do choro de Dz7.
“Nosso apoio foi essencial. O que ele passou foi muita sacanagem. Vai muito além do espetáculo de divulgar o vídeo dele chorando. O choro dele carrega toda a bagagem, toda a luta que ele teve, a crença que depositou naquela profissão de streaming e que ele concilia com sua profissão oficial”, disse Tales.
A situação teve um final feliz. Milhares de pessoas foram para a stream de Dz7, divulgaram sua transmissão e outros fizeram doações, como Gaules que doou os R$4 mil, além de ter anunciado que irá divulgar streamers pretos durante todo o mês de junho.
Como fazer parte da Wakanda
Para fazer parte da Wakanda, basta entrar em contato com o projeto ou os fundadores e pessoas designadas que lidarão com o pedido “sem grandes empecilhos”. O coletivo “não tem recursos para fazer pagamentos”, portanto, o trabalho será voluntário.
“Eu não cobro participação, não cobro taxa, nada de ninguém para entrar na Wakanda Streamers e nem pretendo. Se eu começar a cobrar, começo a gerar exclusões também”, finalizou.
A Wakanda Streamers está presente no Twitter, Instagram, Facebook e no Discord.