Na jornada do herói, as histórias são contadas tendo o chamado para a aventura como ponto de partida. O momento em que a pessoa comum se depara com um novo universo e abraça-o, por escolha ou não, separando-se de sua realidade anterior e conhecendo, aos poucos, os desafios que formarão seu caráter ao longo da trama.
Essa narrativa não começa por aqui. Começa mais tarde, na crise.
2016. Na última série da fase de pontos do segundo split do CBLoL, Zuao é escalado pelo time da KaBuM. Os Kindred foram a escolha de seu time para suas mãos, e ele esperava que a composição da Red Canids fosse fechada antes que terminasse sua página de runa e suas maestrias. A tela de espera foi iniciada, e o caçador teve a confirmação de que algo dera errado. “Nossa, eu acho que vim sem mastery”, avisou, sem cair a ficha. “Não brinca não”, diz um de seus companheiros. “Ah, Zuao, velho”, desabafa seu técnico da época, Galfi. Seu campeão necessitava de recursos e, sem o Decreto do Senhor do Trovão, a derrota foi inevitável.
“Era melhor de dois, né”, resgata, quase três anos depois, o caçador titular de 21 anos da Redemption Esports POA, João Vitor Morais Vieira da Rocha. “Eu comecei jogando, perdemos o jogo um e o Galfi me tirou, colocou o Danagorn, que era o titular. Eu fiquei muito chocado. Saí aos prantos. Era na época que a sala… você já foi no estúdio antigo?”, pergunta a mim, e eu nego. “A sala onde o pessoal fica vendo a TV ficava do lado dos players. Os dois outros times que estavam esperando pra jogar estavam rindo, e eu do lado, muito mal, muito mesmo. Vi eles zoando, falando merda e fiquei muito mal.”
“Foi a pior época da minha vida”, resgata o caçador. “Nessa época eu pensei em parar de jogar, realmente. Tava decidido, entrei na faculdade, fiz um período de Direito. Nesse meio tempo, a ProGaming me chamou. Me perguntaram ‘e aí, Zuao, cê não tem vontade de voltar a jogar?’ e eu falei ‘pô, mano, a princípio não. Eu não quero mais isso. Eu não quero mais sentir esse gosto da derrota. Por mais que eu possa ficar bom depois, eu não quero isso pra a minha vida. Só quero ir pra casa.”
Eventualmente, Zuao voltaria a jogar, sim. Aceitaria a proposta da ProGaming, levaria a equipe ao CBLoL, dividiria a posição com nomes como Ranger e Minerva, venceria o Circuito Desafiante como titular e alcançaria o top 3 nas primeiras semanas do CBLoL, se igualando aos seus ídolos, superando os antigos melhores do Brasil. Na sala de reuniões do escritório da Redemption, em Perdizes, zona oeste de São Paulo, o jogador revisitou e compartilhou as situações que o levaram até ali — ao ponto de recompensa da jornada em que é protagonista.
O ponto de partida
“João Vitor… quem é o João Vitor”, repete minha pergunta, organizando suas palavras. “Eles são pessoas muito distintas. O Zuao é mais firme, sonha muito alto, tem muita emoção, é muito caloroso. Dá esporro, pega no pé ingame, é mais carrasco, na medida certa. O João Vitor é a água, enquanto o Zuao é o vinho. Eu sou um cara tranquilão, não tenho pressa pra nada, sou bem neutro, sabe. É bem surpreendente como eu sou ingame e como sou fora, na vida.”
Antes de se tornar Zuao, João Vitor não tinha uma relação forte com games. O computador entrou em sua vida no fim da infância — e o jogador não hesita em vincular problemas enfrentados por sua família ao contar sobre como começou a jogar Tibia e, mais tarde, League Of Legends.
“Quando eu tinha uns 7, 8 anos, meus pais se separaram, e foi toda aquela confusão. Meu pai saiu de casa, minha mãe teve depressão e eu passei a me sentir muito sozinho. Um vizinho me apresentou o Tibia e eu comecei a jogar muito. Isso foi até os meus 12 anos, que foi quando eu e minha mãe fomos despejados do apartamento que a gente tinha, porque meu pai fez alguma besteira e o apartamento teve que ir a leilão”, conta.
“Nessa época, minha mãe entrou em desespero, porque não sabia pra onde ir. Ela só tinha a mim, e tinha muita coisa pra pagar e resolver. Ela é advogada, trabalha com cliente, não podia ficar sem casa da noite pro dia”, relata. Dona Joana, na época, pediu ajuda à sua irmã, Mônica, que garantiu que ela e seu marido, Rogério, dariam todo o apoio a ela e a João Vitor. Com 12 anos de idade, João se aproximou dos filhos da tia Mônica, que já estavam na casa dos 20 anos.
“Eu comecei a conviver muito com eles. Eu chegava da escola e ia pra a casa da minha tia, que tinha videogame, computador. Eles jogavam tudo o que eu gostava e até mais. Tinham Tibia, Counter Strike, faziam LAN com os amigos e eu participava. Eu era o menorzinho do grupo, a criancinha chata. Eu era o último a jogar sempre e tal.”
“Eles te colocavam pra jogar com o controle desconectado?” questiono, aos risos. “Sim! Mas eu amava esse ambiente”, responde. “Isso forma caráter”, digo. “Pois é, pra você ver. Eu sempre fui muito molecão, então aprendi muito com eles. Foi onde formei meu caráter, mesmo. Se não fosse por eles, eu não seria o homem que sou hoje”, alega, com uma pausa.
“Foi aí que eu conheci o LoL. Eu tinha uns 13 anos quando vi o jogo no computador do meu primo mais velho, e comecei a jogar. Na época eu era muito ruim”, ri, e continua a história com um sorriso no rosto, levantando o tom de voz. “Eu mexia a câmera com as setas, clicava pra soltar skill. Eu era péssimo, e meu primo e os amigos eram bons. Tinha um cara que era platina, eu falava ‘nossa, o cara é muito bom’, e ele me zoava muito porque eu era horroroso.”
O desafio de superar o amigo, que assumia um papel discreto de mentor, foi a alavanca para que Zuao se comprometesse a melhorar no jogo. “Não João, eu não vou jogar contigo porque você é terrivelmente ruim, não dá”, ele relembra a fala do colega, aos risos. “‘Esses caras tão fodidos na minha mão. Vou jogar tanto e vou ficar tão bom que eles vão ver. Vou ser muito melhor que eles’, eu pensava. Hoje em dia, ainda falo com todos eles. Eles não jogam mais tanto lol, mas me acompanham muito e são meus maiores fãs.”
A entrada no rift (e, finalmente, o chamado para a aventura)
“Antes de tudo, eu queria fazer informática. Cursava um técnico, era apaixonado por computador e queria trabalhar com isso. Acabei fazendo um estágio e odiei. Não é que eu fosse incompetente nisso, mas eu não me sentia atraído. Comecei a jogar LoL muito mais intensamente nesse período, porque eu tava acabando a escola, o estágio, e não sabia o que fazer. Foi meio pra esquecer o mundo real”, relembra.
Com a frequência dos jogos, seu ranking no servidor era cada vez mais alto, e Zuao, que batia ponto em campeonatos amadores, foi chamado para seu primeiro time. “Eu sempre fui uma pessoa muito competitiva”, assume. “Tudo na minha vida sempre teve competição. Quando eu jogava futebol, sonhava em ser o melhor jogador do mundo. Mesma coisa no muay-thai, natação, coisas assim. Eu sempre almejei algo além de só fazer faculdade.”
Em 2015, a chance de jogar competitivamente o animou. “Foi a Keyd Warriors. O time era formado por grandes jogadores de hoje, era o Zantins, eu, o Taeyeon, o Sarkis e o Professor. Ninguém conhecia o Tay e ele já era muito bom, aliás. Conseguimos subir pro CBLoL, e eles acabaram tirando eu e o Sarkis. Me senti muito mal, mas foi quando começou minha trajetória, porque a BigGods me chamou. Depois disso veio a OPK, KaBuM, ProGaming… toda essa história.”
“Durante todo esse tempo, eu conheci muita gente e evoluí muito como pessoa. Eu entrei muito cedo nisso, então não sabia muito como me portar, como ser um profissional, como lidar com pessoas. É meio foda ir pro mundo com 17 anos, sem sua mãe, só você e uns moleques. Às vezes você é o mais crianção, o mais moleque. Às vezes eles não te suportam. Sei lá, foda-se”, se distrai.
Em 2016, o jogador iniciou a temporada no CBLoL, primeira divisão do LoL brasileiro, pela Operation Kino. A nova organização havia adquirido a escalação da Jayob e-Sports. A campanha foi satisfatória, e a equipe conquistou vaga nas semifinais. Quando um fã de LoL fala de 2016, é difícil desvincular da INTZ e-Sports, campeã dos dois splits do CBLoL no ano com a lineup que se tornaria o Exodia. Foram eles a parar a OPK no primeiro split, em uma vitória de 3 a 1 nas semifinais.
“2016 foi um ano de altos e baixos pra mim”, seu tom de voz estabiliza, sério. “Esse ano eu fui longe, cheguei a uma semifinal contra a INTZ. Foi um dos melhores anos, mas também foi o pior ano da minha vida, por conta desses problemas”, confidencia, referindo-se aos erros que manchariam sua imagem na temporada 6.
A crise
“P*rra, o cara é muito irresponsável com os companheiros e time. Já passou da hora de tomarem uma atitude sobre ele. Competitivo é seriedade! Quer diversão, Zuao? Vá jogar ranked, que lá não há dinheiro envolvido!!”
Enquanto pesquisava sobre a carreira do protagonista dessa história, me deparei com esse comentário. Ele sintetiza o que Zuao se tornou na comunidade após uma série de erros na escolha de campeões que trariam desvantagens a suas equipes na época. Irresponsável, boçal, moleque.
“O que rolava”, explica Zuao, com a expressão mais sóbria, “era que eu não pensava muito nos jogos, nem sabia o que era me concentrar. Eu ficava pensando ‘nossa, imagina se eu ganho desse time’, mas não pensava em como eu ganharia daquele time. Era tudo novo pra mim, eu reagi de uma forma muito diferente. Acabou que eu era uma pessoa muito mais desligada, era menos focado e profissional”, lembra.
“Eu não levava as coisas com a devida seriedade. Por mais que eu tivesse muita vontade e sonhasse muito, eu não tinha o pé no chão que é necessário pra ser um atleta. Meus erros foram uma consequência de eu ser assim, muito emotivo, muito explosivo. Até hoje sou emotivo, mas muito menos explosivo, não deixo as emoções tomarem conta de mim.”
Enquanto representava a Operation Kino, Zuao errou duas escolhas na seleção de campeões. Apesar disso, a campanha foi favorável, e a equipe não foi punida pela desatenção de seu caçador. Na KaBuM, a situação era diferente. O time já estava em má fase. O jogo que Zuao não selecionou seus talentos foi marcante, tanto para a equipe quanto para o jogador.
“No lance da runa, na KaBuM, eu já estava sendo uma pessoa mais centrada. Foi falta de sorte”, opina. “Era na época em que você fazia a página inteira e esperava o pick do adversário, pra ver se pegava um ou outro. Eu fiz a página e esperei pra pegar a última runa. Ele pickou e eu esqueci de colocar a última, que era a mais importante. Ficou esse meme. Mas eu estava começando a mudar meu hábito. Tava mais focado no jogo, pensava nas matchups. No meio do draft eu esqueci de colocar a última runa e ficou marcado absurdamente.”
Sinto que puxei um gatilho ao perguntar: “Foi muito frustrante pra você?”
Ele respondeu no ato. “Foi a pior época da minha vida”. Contou o que houve, o quanto isso o afetou e como foi o ultimato para que ele quisesse parar de jogar. “Nunca cheguei muito longe, nunca fui um player destaque. Não tenho mais interesse nisso”, recitou, lembrando da proposta que a ProGaming fez no semestre em que começou a cursar Direito.
“Mas o tempo foi passando, e eu fazendo faculdade… eu me sentia sem vontade de fazer as coisas, não me interessava. Minha mãe, por ser advogada, me incentivava, mas via que eu não estava feliz. Não sei se era início de depressão, não gosto de falar que era porque não sei o que é depressão, mas eu tava muito triste, meio sem rumo. Minha mãe me disse ‘você tem certeza de que não quer voltar a jogar? Tem essa oportunidade na ProGaming.’ eu perguntei ‘pô, você acha que eu tenho que ir?’ ela disse ‘É o que você gosta de fazer, o que você quer fazer. Tenta mais uma vez.’ e eu falei ‘Ok, vou tentar mais uma vez.”
Dona Joana
Em todas as partes da história de João Vitor, dona Joana Morais é uma constante. Em cada participação em campeonato, a cada vitória, a cada tweet que o filho posta, Joana expõe seu apoio incondicional às decisões e aos sonhos de Zuao. “Minha mãe é a pessoa mais importante que eu tenho na vida, com certeza”, crava o jogador, sem hesitação.
“Ela é tudo o que meu pai nunca foi pra mim”, conta. Aos 8 anos de idade, João Vitor perdeu o contato diário com seu pai, que, de acordo com ele, não o procurou muito após o divórcio. Pergunto qual relação eles têm hoje em dia. “Última vez que eu falei com ele eu tinha 18 anos, foi há uns 4 anos. Foi uma conversa formal, nada muito de pai e filho, em que ele falou que não me apoiava nisso. Disse que era pra eu estudar, arranjar um emprego. Eu disse ‘tá, não vou fazer isso que você quer.’”
“Minha mãe sempre foi a Joana e o Luiz. Sempre me deu apoio emocional, financeiro, sempre se dedicou muito a mim. Nunca deixou faltar nada, mesmo com todos os problemas que tivemos, de divórcio, de sermos despejados de casa. Minha mãe é uma figura que assim… ela foi meu Deus. Minha mãe é minha figura divina”, crava.
Zuao conta que, por mais que não consiga mais se comunicar diariamente com a mãe, se orgulha de poder auxiliá-la financeiramente. “Hoje em dia, tudo que ela precisa, eu dou. Ela sempre foi de me dar dinheiro, e eu não gostava de aceitar, me sentia mal. Hoje em dia a situação tá um pouco apertada lá em casa porque meu pai retirou a pensão, parou de pagar porque eu não faço faculdade, não é mais obrigado. Falei ‘mãe, tá tranquilo, não faz diferença, é bom que a gente corta o último vínculo com ele. Todo mês eu ajudo ela com alguma coisa, e isso me deixa muito feliz. Saber que eu consigo retribuir algo pra ela depois de tanto tempo, sabe.”
Como a maioria dos pais, Joana, à princípio, ficou receosa em deixar que o filho seguisse carreira em um meio tão nebuloso quanto o esporte eletrônico — mas o receio se reconstruiu em apoio à medida em que o caminho ficava claro para Zuao. “Ela sempre me apoiou, também. Dizia que eu tinha que ir, mesmo. Que se é o que me faz feliz, o que me faz me sentir vivo fazendo, é o que eu tenho que fazer, mesmo.”
“Ela grita, torce, se emociona. Odeia o Ranger”, a fala é pausada em risadas, que são complementadas com explicações sobre como Joana critica alguns jogadores de quem Zuao foi reserva, por exemplo. “Às vezes ela diz algo e eu falo ‘mãe, pelo amor de Deus, não fala isso no twitter’”, confessa, com mais risos, explicando que a imagem da mãe é muito atrelada a ele nas redes sociais. “Em casa ela grita, xinga, torce. Ela é minha maior inspiração.”
A reviravolta na carreira e a transformação
A decisão de voltar ao competitivo pela ProGaming foi o acerto que marcou o recomeço na carreira de Zuao. O desempenho no Circuito Desafiante foi notável e, apesar da derrota nas semifinais para o time da T-Show ter abalado o jogador, a vaga no CBLoL foi conquistada na série de promoção, em que a KaBuM foi rebaixada. No segundo split de 2017, a equipe contratou o caçador Ranger para a titularidade, decisão que teve o apoio de Zuao. “Aprendi muito com ele e ele comigo. Ele é muito calmo ingame e é um dos meus melhores amigos hoje em dia”, assume.
Zuao resgata que a campanha da ProGaming no CBLoL 2017 não foi tão boa. “Só que no ano de 2017 eu não fiz nenhuma merda, então foi okay. Pensei ‘tô suave, não tô na minha melhor fase, tô na reserva num time de meio de tabela, mas ok. Não é negativo’”, diz, lembrando da época. Foi quando Djoko entrou como técnico, além de Minerva, que assumiu a titularidade da equipe — Ranger saía para integrar a lineup da KaBuM.
Sentindo que não tomaria a titularidade de Minerva tão cedo, Zuao passou a participar dos treinos em posição de comissão técnica, momento em que assume ter evoluído muito. Era época de estreia da primeira Superliga ABCDE, e a breve experiência jogando uma única série com quatro membros da Vivo Keyd, no recém-reunido Exodia, contribuiu imensamente para sua formação como profissional. “Eles tiveram muita paciência comigo. Foi uma época muito boa, em que eu aprendi muito.”
Quando Zuao entendeu que aprendera tudo o que tinha a absorver na ProGaming, decidiu que era hora de se arriscar, dar um tiro no escuro. “Foi aí que veio a proposta da T-Show”, conta.
O recomeço (ou Redenção)
“A T-Show estava em uma época muito complicada, né”, relembro, trazendo de volta as memórias de uma equipe muito fragilizada, que perdera todos os jogos em sua curta passagem pelo CBLoL. “E você também não estava em uma fase tão boa. Como foi entrar no grupo nessas condições?”, pergunto.
“Foi uma das melhores coisas da minha vida”, responde Zuao, me surpreendendo um pouco. “Começar a jogar com esses moleques foi uma das melhores coisas que já me aconteceu, porque eles me abraçaram de uma forma muito…”, pausa para conter as falhas na voz. “Pode chorar”, brinco, com o sorriso de quem abraça a emoção do caçador que se sentiu, pela primeira vez, a peça que faltava em um quebra-cabeças. Necessário. “Eles me abraçaram de uma forma muito única. Eles abraçaram todos os meus defeitos e qualidades. Pela primeira vez eu me senti em um time”, relata.
“Quando eu entrei na T-Show, eles sabiam que era uma época muito conturbada da minha vida. Eu entrei com muita vontade, e nunca me senti na ansiedade de sair desse time como eu tinha em outros times. Aqui, eu sinto que realmente encaixo. Até 2019 acabar, 2018 foi o melhor ano da minha carreira, com certeza, porque eu renasci. Foi o ano que eu virei um player novo, então foi muito gratificante ter a oportunidade de conhecer eles.”
Em junho de 2018, a vaga no Circuito Desafiante e a escalação da T-Show foram adquiridas por uma organização nova no cenário, a Redemption Esports. Para Zuao, a mudança para a nova empresa e a estadia na gaming-house da INTZ, parceira da equipe na época, foi fundamental para o sucesso do time. “Foi ali que conseguimos a disciplina fora de jogo que precisávamos para encaixar no jogo, também. Com isso ajeitado, foi consequência acertar ingame.”
A intensidade com que Zuao vive suas conquistas foi atestada para mim no momento em que perguntei sobre o título no Circuito Desafiante 2018. “Foi a melhor época da minha vida”, cravou — discurso parecido com o que fez duas vezes antes, em momentos diferentes, mas que se conectam como pontos-chave da narrativa de sua carreira. “Não imaginei que fôssemos vencer o Circuito, muito menos do jeito que foi, tão clean, com paiN e Team One no campeonato.”
“Eu não me arrependo de nada dessa época. Vencemos porque realmente mandamos bem, e foi muito bom. Agradeço muito à INTZ por ter feito a gente ser o time que é hoje. Ao Ângelo e ao Pedro [responsáveis pela Redemption] também, por terem acreditado. Foi uma época absurda, uma ascensão absurda. Eu nunca tinha sido campeão de nada. Foi uma prova de que eu realmente consigo.”
“Pra eles, não teve todo esse peso, porque eles já tinham sido campeões. Mas pra mim foi tudo isso. Quando ganhei, fiquei em choque, não sabia se chorava, se ria. Meu cérebro começou a bugar, aí saiu aquele projeto de choro, sei lá o que foi aquilo. Eu fico muito cringe quando vejo aquilo”, ri, referenciando o momento em que caiu no choro após o último jogo da final do Circuitão. “Hoje eu tô muito realizado com tudo o que temos. Temos nossos problemas, nossas desavenças, mas hoje eu tenho certeza de que sou um jogador profissional.”
O retorno ao CBLoL e a recompensa
Em 2019, Zuao retorna ao CBLoL talvez na maior posição de merecedor que já ocupou, como campeão da segunda divisão e titular absoluto de seu time. “Tô jogando como eu queria jogar”, comenta. “Tá sendo uma época muito boa da minha vida, não tenho o que reclamar. Tudo o que eu preciso, eu tenho aqui na Redemption. A gente mora… naquele prédio ali, sem ser nesse, no outro, naquela varandinha azul”, aponta para um prédio de alto padrão, visível da janela do escritório.
“Tem tudo perto, a qualidade de vida é muito boa. Tem piscina, às vezes depois do jogo a gente desce pra lá. Depois de tudo que eu passei, acho que eu e os moleques merecemos isso aqui. E a gente tá fazendo jus, né? Não estamos só com uma estrutura e ficando 0/20 no CBLoL. Estamos realmente disputando”, argumenta.
“E cê tá aqui, no CBLoL, depois de tudo isso. Pelo seu mérito, com seu sangue. Onde mais você quer chegar?” questiono, e ele me explica que divide suas vontades em metas, sonhos e devaneios. “Meu devaneio é ser o melhor jogador de LoL do mundo, ainda”, manifesta. “Não vou falar que é um sonho — o sonho da minha vida é de chegar no Mundial e fazer uma boa campanha. Passar da fase de grupos. Se for pra sonhar, que eu sonhe alto. Minha meta é ser campeão desse CBLoL e ir pro MSI.”
Zuao finaliza revivendo e julgando as situações que o fizeram crescer enquanto pessoa e profissional. “Antes, eu era uma pessoa muito avoada. Hoje em dia, tento não subir no salto e não ficar viajando se vou ser campeão ou vou ganhar o próximo jogo. Penso que é só mais um jogo, só mais uma etapa da minha carreira e vamo que vamo. Quero manter meus pés no chão, me concentrar e é isso”, finaliza.
A Redemption Esports POA ocupa atualmente a 3ª posição na tabela do CBLoL, primeira divisão do League of Legends brasileiro. Confira a classificação e os horários na cobertura completa do campeonato no Mais e-Sports.
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