FURIA e LOUD fazem parte dos 30 times que foram escolhidos por um fundo de investimentos de esports da Arábia Saudita. As duas organizações poderão receber até “seis dígitos” para alavancarem suas operações e crescerem internacionalmente.
O Mais Esports questionou a FURIA sobre como será feito o uso desse dinheiro, conflito de valores da organização com as políticas da Arábia Saudita e até um possível desbalanceamento do cenário brasileiro de esports.
Quem respondeu aos questionamentos foi André Akkari, um dos donos da organização.
Como funciona o incentivo do programa da Arábia Saudita?
O plano de incentivo depende muito mais da performance e engajamento do que em colaborações pontuais. Quanto melhor a organização performar, mais benefício financeiro ela coletará.
De toda forma, existiu um pequeno incentivo para as organizações entrarem em jogos em que elas não estavam, o que leva a competição a um nível mais conectado à Copa do Mundo. Mas esses incentivos são muito menores do que os possíveis em premiações.
De que forma o dinheiro deste programa será utilizado pela organização?
Os valores para abrirmos novas lines são investidos exatamente na criação de novos times. No caso da FURIA, foram poucas novas lines. Mesmo assim, precisaremos fazer mais investimentos próprios para que essas lines performem no topo. Discutimos muito sobre em quais jogos deveríamos entrar, e o incentivo vindo da EWC ajudou em algumas das decisões.
Fora isso, os incentivos pela performance, caso tenhamos bons desempenhos, podem trazer mais crescimento da FURIA principalmente no competitivo, no conteúdo e em Diversidade, Equidade e Inclusão, áreas nas quais mais investimos todos os anos.
A Esports World Cup e empresas parceiras têm sofrido críticas pelo envolvimento com a Arábia Saudita, um país que historicamente tem posições conflitantes com políticas de diversidade e inclusão. Isso não é o oposto dos valores da FURIA?
Em um primeiro momento, nossa aproximação foi a de aceitar o convite dos organizadores para conhecer o país e as políticas de abertura internacional que estão promovendo. Ao chegarmos lá, nos deparamos com uma cena diferente do estereótipo que nos é apresentado no ocidente.
Isso não muda o fato de que, no passado da região, vários fatores não estavam em linha com nossos valores e cultura. Porém, vimos uma sociedade em busca por novos pontos de vista. O país vem passando por mudanças em diversos aspectos e eles estão cada vez mais orgulhosos desse processo. Conversamos com muitas pessoas e vimos que estão reinterpretando o passado e buscando adaptações para o presente e futuro. Deu para sentir tudo isso na pele. Essa perspectiva nos animou pela possibilidade de poder de alguma forma impactar nessa caminhada.
Somos um grupo de pessoas que promovem mudanças, e acreditamos que muita gente por lá precisa dessa conexão conosco, em especial o povo jovem da região. Eles amam a FURIA e, com isso, podemos dividir com eles as nossas linhas de pensamento, tudo com o plano de fundo que temos em comum: o amor por esports, competição, conteúdo e performance.
Há um potencial muito grande de transformação e ficamos animados por poder fazer parte disso. Acreditamos que não devemos privar os jovens de lá e de todo o planeta dessas conexões.
Contextualização de todas as polêmicas da Arábia Saudita
- A Arábia Saudita é liderada pelo príncipe herdeiro Mohammad bin Salman e é conhecida por suas políticas internas rigorosas e práticas governamentais restritivas.
- O país enfrenta críticas internacionais por reprimir a liberdade de expressão e dissidência, com relatos de prisões, torturas e execuções de jornalistas e ativistas, como o caso de Jamal Khashoggi em 2018.
- Leis sauditas criminalizam a homossexualidade sob a lei islâmica (Sharia), com penas severas incluindo a morte.
- Mulheres e minorias religiosas enfrentam restrições significativas, apesar de algumas reformas recentes visando aumentar a participação feminina na sociedade e economia.
- A Lei de Estado Pessoal da Arábia Saudita exige que mulheres obtenham permissão de um tutor masculino para casar e estipula a obrigação das mulheres casadas de obedecerem aos maridos.
- A lei também restringe o direito das mulheres de se absterem de sexo sem o consentimento do marido.
- Autoridades sauditas intensificaram a vigilância e punição de usuários de redes sociais, sauditas e não sauditas, por manifestações pacíficas online, resultando em penas severas, incluindo décadas de prisão e até pena de morte.
- Centros de detenção na Arábia Saudita são marcados por práticas abusivas, como tortura, maus-tratos, detenção arbitrária prolongada e confisco de bens sem processo legal justo.
O incentivo financeiro da Arábia Saudita não pode criar um desbalanceamento no ecossistema brasileiro de esports?
Os incentivos que teremos são apenas para a criação de lines que não possuíamos, nada mais que isso. Além desta possibilidade, o complemento pode vir de forma mais impactante dependendo da performance, e isso é exatamente o que a nossa região precisa: pertinência internacional, competir contra os melhores do mundo e gerar legado para que outras organizações surfem cada vez melhor a onda de sucesso dos esports no Brasil. Para cada marca que patrocina uma FURIA, existem várias concorrentes que podem patrocinar diversas outras organizações, e somente assim o Brasil vai competir de forma potente no planeta inteiro.
LOUD não retornou ao Mais Esports
A LOUD também foi procurada para falar sobre os investimentos, mas até o momento, não respondeu ao Mais Esports.
Arábia Saudita quer se tornar o centro global de esports
Esse não é o primeiro investimento pesado que a Arábia Saudita faz para se tornar o centro global de esports. A região está organizando a Copa do Mundo de Esports, cuja premiação total será de US$ 60 milhões, mais de R$ 300 milhões em conversão direta.
Vale lembrar que os clubes que estão no programa de incentivo da Copa do Mundo de esports não estão garantidos na competição. Os campeonatos acontecem entre os dias 3 de julho e 25 de agosto em Riade, e contará com 19 modalidades diferentes.