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Edgar, o silencioso homem da Samsung

League of Legends
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Imagine estar no topo do mundo. Ter dois dos times mais dominantes da história, alguns dos melhores jogadores do planeta e vencer o campeonato mais prestigioso do League of Legends. Após apenas um ano como técnico do jogo. Agora, imagine perder tudo isso de um dia para o outro.

Essa foi a situação de Choi “Edgar” Woo-beom após o 2014 Season World Championship. Os lendários esquadrões de Samsung White e Blue foram os primeiros a sair no Êxodo Coreano e cada jogador se transferiu para um time diferente da China. O consenso era de que a Coréia se enfraqueceria, tanto por isso quanto pela extinção dos times-irmãos. Ainda não se tinha noção do quão grande era a pool de talentos coreana.

De repente, Edgar foi promovido de técnico comum para Head Coach e teve que construir uma nova equipe à altura das últimas, o que não era simples tendo em vista o tamanho da organização. Não ajudou, também, a gigante da tecnologia ser conhecidamente mesquinha: ele teve uma renda limitada na busca por novos jogadores.

Edgar abraçando Gu “imp” Seung-bin após vitória em partida de 2014 (OGN)

Não foi um processo fácil. Geralmente necessita-se de tempo para montar uma equipe, o que inclui o maior número possível de testes, entrevistas e questões contratuais. O coreano teve que fazer tudo isso em menos de um mês, o que certamente foi estressante. Além disso, o interesse por jogar fora do país era maior do que nunca, limitando o número de candidatos.

Por causa da experiência de quase oito anos  –  tendo treinado braços da Samsung de Starcraft: Brood War, Starcraft 2 e LoL -, Edgar foi capaz de filtrar suas opções para facilitar o processo. Ele queria jogadores sinceros, que tivessem a mentalidade certa como jogador e que dessem tudo de si.

As primeiras contratações da nova era foram Lee “CuVee” Seong-jin, Seo “Eve” Jun-cheol, Park “BlisS” Jong-won e Kim “Ace” Ji-hoon, Lee “Fury” Jin-yong e Kwon “Wraith” Ji-min. Desses seis, só a botlane tinha o mínimo peso e experiência prévia no competitivo. Os outros quatro eram promessas da fila ranqueada coreana. Não era muito e Edgar teria que se virar pra fazer tudo funcionar.

Como esperado, o primeiro split com a nova line-up foi terrível. Entraram de cara numa sequência de derrotas que durou até a oitava semana, quando por pouco derrotaram a Incredible Miracle. Em geral, os jogos acabavam por volta dos 35 minutos e raramente iam até o terceiro mapa. Os solo laners eram fracos na fase de rotas  –  frequentemente atrás em CS e XP  – e como um time eles tiveram as piores estatísticas em Taxa de Early Game (0.63), Mid/Late (-16.9), Diferencial de Ouro aos 15 minutos (-1.572), Primeira Torre (31%) e Primeiro Barão (23%). Terminaram a temporada em último, com apenas duas vitórias (a ultima conquistada num 2 a 1 contra NaJin e-mFire) dentre as quatorze disputadas.

Era necessária uma mudança, algo para fazer o time começar a engrenar. Para a etapa seguinte, então, Edgar trouxe Lee “Crown” Min-ho como substituição dos medíocres Ace e BlisS. Foi a primeira aquisição depois da primeira leva de jogadores e por muito tempo vista como a mais impactante.

Na época, Crown havia voltado do Brasil fazia poucos meses. Ele era pouco experiente em partidas oficiais e não tinha um grande currículo que justificasse ser chamado. Mas o técnico da Samsung viu algo importante nele: ambição. Na primeira entrevista com o mid laner, Edgar perguntou o motivo de ele querer ser um jogador profissional. Crown respondeu que era a única coisa que sabia fazer, o que imediatamente chamou a atenção do comandante. “Você precisa ter essa mentalidade para ter sucesso. Para ser um jogador profissional, precisa-se ser agressivo e ambicioso”, disse Edgar em entrevista para Fomos.

No entanto, mesmo com essa nova mentalidade agressiva e o upgrade na rota do meio, a Samsung ainda não foi capaz de disputar vaga de pós-temporada, quanto mais o título. Agora com dez times no campeonato, eles se elevaram na tabela por três posições, mas a mediocridade estatística ainda estava lá. A taxa de Early Game piorou levemente (agora 45.9), ao passo que a de Mid/Late subiu para -8.7. Crown ao menos trouxe estabilidade para o mid, com bons números dentro da lane e picks que faziam sentido no meta da época. Mas os ex-campeões ficaram com marca de 6–12, vencendo um único time de playoffs  –  CJ Entus –  e apenas uma vez.

Edgar na estréia de Crown pela Samsung (OGN)

Enquanto o tempo passava, treinadores como Kim “kkOma” Jung-gyun, Jeong “NoFe” No-chul e Ji “Aaron” Xing e Bok “Reapered” Han-gyu merecidamente fizeram seus nomes por motivos variados. O primeiro pelos diversos Mundiais com a SK Telecom, o segundo por treinar e levar a ROX Tigers ao sucesso e os últimos pelo lendário draft no quinto jogo da final do 2015 Mid Season Invitational. Edgar estava ficando para trás, não só em conquistas como também em reconhecimento. Seu nome passou a ser pouco falado.

Na tentativa de reverter isso, usou o início de 2016 para assinar com Kang “Ambition” Chan-yong  –  que se mudara havia pouco tempo de mid para selva na CJ  -, Kwon “Helper” Yeong-jae, Lee “Stitch” Seung-ju e Jo “CoreJJ” Yong-in. Assim como com Crown, a contratação desses quatro era duvidosa. Isso porque o caçador ainda não havia se firmado como um grande nome da posição e os outros três ou eram semi-novatos ou vieram de desempenhos insossos em ligas estrangeiras. Mas no fundo, isso significava que todos deveriam ter o fogo que Edgar julgava essencial num jogador.

Com Ambition, o time que antes era inexperiente ganhou uma outra voz na liderança. Àquela altura, o mid-transformado-jungler tinha quatro anos de carreira e para cultura coreana já era considerado um hyung, uma figura fraternal que impõe respeito dos jogadores mais novos. E com uma maior variedade de jogadores, Edgar poderia fazer experimentos com o roster até achar a formação ideal.

O caçador foi fundamental pra melhora inicial do coletivo, ficando em terceiro no ranking de MVPs com 1000 pontos. Edgar priorizou especialmente o pick de Graves para ele  –  num meta no qual Kindred, Elise e Nidalee também estavam viáveis  –  o deixando livre para farmar no early e carregar no Mid/Late game. O time ficou cada vez mais competitivo, por pouco não classificando pros playoffs da temporada de Primavera.

E foi com priorizações assim que se deu a evolução da Samsung: Edgar sempre foi capaz de identificar maneiras de minimizar as fraquezas do grupo, seja por meio de draft, escalação ou estilo de jogo. Ele percebeu a inconsistência de seus adcarries e assim trouxe Park “Ruler” Jae-hyuk quando este era um desconhecido. Depois de perder dezenove vezes consecutivas para kt Rolster e precisando vencer uma melhor de cinco pra classificar para o Mundial de 2016, ele tirou o inusitado Skarner da cartola para confundir a rival. Antes mesmo disso, mudou CoreJJ de adcarry para suporte, utilizando-o poucas vezes durante a fase regular apenas para lançá-lo na Korea Regional Finals com Tahm Kench na manga.

Para desenvolver sinergia, optou por estender os jogos para o late game ao ponto de ser marca registrada do time. Quando Crown estava em sua pior fase, percebeu que Malzahar seria ideal para segurar a rota do meio e isso foi fator decisivo pra vencer o último Mundial. E o mais importante foi a decisão de manter os mesmo cinco jogadores de 2016 para 2017, mostrando que se na primeira tentativa ao título mundial acharam que foi sorte de tabela, dessa vez eles teriam uma coesão tão alta que não restaria dúvidas.

Edgar durante a final do Mundial de 2017 (LoLesports)

“Como vocês sabem, isso é na verdade o começo. Eles perderam dois jogos muitas vezes. Não deixem nada de graça. Nós lutamos, nós vencemos! Está 0 a 0!” Essas foram as últimas palavras de Edgar antes de começar o terceiro mapa da final que consagrou a Samsung campeã do mundo. Palavras de um treinador que construiu do zero um novo reino e ao longo de solavancos evoluiu cada defeito pelo caminho.

Após anos como técnico, Edgar tem dois títulos mundiais e várias outras realizações na carreira. Nesse ano de 2018 e sob uma nova organização, a KSV eSports, ele vai tentar capturar um importante título que falta pro núcleo dessa line-up: a LCK e quem sabe posteriormente o MSI. Mas mesmo se falhar, talvez ele já consiga competir com kkOma nos livros de história.

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Rick Birman
publicado em 9 de fevereiro de 2018, editado há 6 anos

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