Desde a line-up Ayel, Minerva, Tin, Matsu e esA, a paiN Gaming não monta times ruins no papel. Entretanto, os resultados e o desempenho nunca vinham sendo de encher os olhos, salvo o primeiro split do Circuitão 2019 e a Superliga do mesmo ano, quando houve lampejos. O que faltava? Equilíbrio e, principalmente, atitude.
A atitude de Robo
E aí passa, principalmente, por ele: Robo. Ele é, por muitas vezes, inconsequente e impulsivo em suas jogadas, mas faz parte do kit de atitude do top laner que veio para mudar a cara da paiN.
Robo extrai toda a alma do adversário quando percebe que ele pode ganhar uma match up; se você der brecha contra ele, ele não hesita em gastar o flash para tentar te matar.
E aí não importa a nomenclatura: weakside, strongside… Essas não são funções fixas e quem diz que ele só joga bem com recurso ou sem recurso ainda não entendeu o ponto mais forte dele: a capacidade de ser agressivo independente do confronto. Isso pode ser a receita de fracasso ou de sucesso do time, mas com equilíbrio no resto da line-up, a atitude de Robo vira função fundamental.
A juventude de CarioK
Outro ponto fundamental para fazer essa paiN Gaming funcionar é a juventude de CarioK. Ah, mas ele é incrível… Um jogador que também é muito agressivo, que acompanha as epifanias de loucura de Robo, mais ou menos como fazia o Grell na Keyd, e que compensa toda essa empolgação de um jovem em ascensão com muita mecânica e conhecimento de pathing.
Às vezes dá a cara no rio quando não deve, é verdade, mas isso são acertos do duo mid-jungle que são alinhados com o tempo. E no mid ele não teria uma companhia melhor para evoluir na carreira senão Tinowns, o ponto de equilíbrio nesse time. Os jogadores olham para o Tin e se sentem seguros vendo que ele é o seu mid laner e isso é outro fator fundamental: o comando.
O comando de esA
Não me entenda mal, é óbvio que Tin e brTT são as figuras que melhor representam esse comando — dentro e fora de jogo. Mas, perceba, eu vim aqui falar do que mudou do primeiro split para cá, e a voz ativa de esA dentro do jogo muda tudo. É perceptível nos easter eggs, que a paiN Gaming solta em seu Twitter, o shot call do suporte. Sempre coordenando entradas, sempre aprovando e reprovando decisões, preenchendo o vazio que faltava na comunicação com Key e SeongHwan.
Com os sul-coreanos, a paiN parecia ser dividida entre dois times: um que queria lutar e outro que não. Aí eram engages desesperados de Key, enquanto o Tin estava chegando ainda na jogada. Faltava coordenação, alinhamento no entendimento do jogo e, principalmente, opção. E aí vamos falar do tão famoso draft da paiN e de Xero e Dionrray, tão criticados no primeiro split.
A manutenção da comissão técnica
Uma vez, Djoko, general manager do Flamengo, me disse numa conversa nossa algo que concordo muito: “Messina, draft é consequência e não causa”. Como posso cobrar um Jayce que encaixaria na composição bem, se não foi treinado? O draft é um espelho do que acontece nos treinos, não dá para inventar (e se não for, tá errado!).
Como posso cobrar um draft melhor de Xero e Dionrray, se o Key só podia jogar de Taric e Alistar? É claro que não são só os treinadores que fazem o draft, eles não podem passar por cima da pool dos jogadores. Robo, CarioK e esA vieram oferecer opção aos técnicos, que realizaram um dos drafts mais brilhantes do CBLoL nesse ano, contra a FURIA. Perceba bem:
O first pick Wukong engana, a FURIA já tinha preparado uma composição late game para lidar com ele e, de certa forma, me irritou a priori, mas aí veio a mágica: Sett e Kalista. Nesse ponto do draft, não dava para saber se o Wukong era top, jungle ou suporte; nem se o Sett era top, jungle, ou suporte. Isso fez o time inimigo ficar, de fato, perdido (fazendo eles banirem até Blitzcrank, mesmo que o suporte já estivesse ali).
E daí para frente foi fechar com chave de ouro: Twisted Fate com o anti-late game para impedir Azir e Aphelios de crescerem, além do Graves para bater na maior distância junto com a Kalista enquanto Wukong e Sett ganhavam tempo com as entradas. Wukong jogando side quando precisa, fazendo o 4-1-0, e colapsando pelo flanco para executar a principal condição de vitória da composição: a team fight.
Xero e Dionrray conseguiram fazer essa paiN jogar um League of Legends acelerado e limpo, um balde de água fria no imediatismo que se estabelece no Brasil com relação à comissão técnica. Nesse caminho, alinhando atitude, juventude e comando, a paiN trilha sua volta ao topo do League of Legends brasileiro, ainda que os holofotes estejam em Flamengo e Santos. É bom ficar de olho no que eles têm a oferecer.
Toda a cobertura do segundo split do CBLoL 2020, você acompanha aqui no Mais Esports.
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