Eu cresci vendo LCK na escola, pois estudava no turno matutino e tinha aula de informática às segundas e quartas. Às 7 da manhã e o João de 12 anos estava vendo Madlife e Mata fazendo jogadas insanas de Thresh, agressivos ao extremo, sem nenhum tipo de hesitação ao iniciar as jogadas. Esses jogadores e esse estilo de jogo me influenciaram a adotar a posição de suporte no LoL.
E aí a fila veio grande: Ben, TusiN, Wolf, Max, GorillA, CoreJJ, Snowflower; independente do seu julgamento sobre o desempenho deles, todos tinham algo em comum: agressividade. Entretanto, essa lista foi diminuindo ao longo dos anos. No lugar da agressividade, veio a passividade e o marasmo.
Talvez isso tenha sido fator preponderante para a liga sul-coreana ter se tornado sinônimo de passividade. Joker, Beryl, Effort, Life: essa é a nova geração dos suportes da LCK — passivos, seguros, defensivos, não-proativos. Porém, entre tanta passividade, surgiu na DragonX de Deft, Keria, que veio para colocar um pouco de caos na liga.
Keria era da academy da DragonX e foi, por muitas vezes, punido pela sua agressividade. No time principal tinha TusiN, uma lenda, então sobravam poucas perspectivas para o jovem jogador ascender como profissional; mas, de repente, tudo mudou. Renascendo das cinzas e com um passado sombrio na Griffin, o professor CvMax chegou a organização e seu primeiro decreto foi ter Keria como suporte titular.
Nessa altura do campeonato, ninguém conhecia, no cenário mundial, o potencial do jovem jogador. Pelo seu estilo de jogo “camisa 10”, fora dos padrões atuais da LCK, nunca foi o favorito dos analistas das divisões jovens da Coreia do Sul. Outro fator decisivo, além de CvMax, foi o pedido de Deft em seguir os treinos com o jogador. Cria da China, acostumado com os aventureiros como Meiko, o atirador gosta do estilo agressivo que Keria resgatou.
A ascensão da pequena lenda
E veio forte, viu?! Em sua primeira temporada, na primeira etapa de 2020 da LCK, Keria foi eleito o melhor suporte do campeonato. Tirando do bolso escolhas como Pyke e Thresh e fazendo o João de 21 anos voltar à sua infância. Ver Keria jogar traz a adrenalina que eu não sentia há muito tempo vendo a liga sul-coreana.
As atuações tornaram-se cada vez mais constantes, mesmo com o desempenho de Deft sendo abaixo do normal nos playoffs, o suporte não fez, a meu ver, uma partida ruim sequer na competição. Ele ganhava em cima da passividade dos suportes adversários. Chegou um momento em que a Coreia ficou pequena para o garoto, veio a Mid-Season Cup 2020.
Mesmo contra um suporte tão agressivo quanto ele — LvMao, da JDG —, Keria arriscou um Pyke e quase venceu o jogo, mas a DRX levou um outscale e perdeu aos 38 minutos. Não foi culpa dele, que destruiu com a bot lane adversária e foi um monstro nas rotações para acabar com a rota de Yagao. Contra Southwind, da iG, não teve jogo: sua Senna passeou, desfilou, encantou os olhos de quem viu a atuação tão precisa de um jogador tão novo.
A Coreia do Sul precisa voltar às suas origens para tentar o topo do mundo novamente. Nas palavras de Scorsese, diretor de cinema: “quanto mais íntimo, mais criativo”. Voltar às origens não é tirar o Smeb da aposentadoria, nem repatriar GorillA para a liga, mas sim olhar para a receita que deu certo e repeti-la nas novas gerações.
Seria Keria uma tendência, ou uma exceção? De onde ele veio tem mais, ou ele é o último suporte agressivo da LCK? Cenas dos próximos capítulos.
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