Você abriu a matéria e precisa estar disposto a mudar o seu pensamento para continuar lendo esse texto. Sim, a SKT acabou. E você quer aceitar isso.
Quando eu digo que acabou, não quero dizer no sentido literal da palavra. Mas sim, a SKT acabou. Ela não é mais aquela que você viu levantar três títulos de Mundial, dois MSI e empilhar troféus da LCK. Muitos ainda detém esse pensamento, e tudo bem, chamamos isso de nostalgia.
O fim de uma era
Dia 4 de novembro de 2017. A maioria de nós acordava na madrugada para mais uma final de Worlds. Na China, no gigante Ninho do Pássaro. Éramos agraciados por uma apresentação holográfica incrível do dragão ancião descendo dos céus até a arquibancada do estádio. Mas mais do que isso, esperávamos a continuação de uma soberania.
SKT contra Samsung Galaxy. De um lado uma também campeã mundial, e do outro, a equipe que havia vencido todos os últimos quatro torneios internacionais.
O resultado na cabeça de muitos era óbvio: SKT venceria. Afinal, eles sangraram. E como sangraram. Um time vencedor precisa sangrar, é como se fosse o teste do campeão. Duas vitórias apertadas, uma contra a surpreendente Misfits e outra contra a poderosa RNG.
Por outro lado, a Samsung Galaxy vinha por baixo dos radares. Se classificaram na segunda colocação do grupo, e não eram muito acreditados contra a favorita Longzhu. Três a zero limpo. Contra a WE? Um pouco. Três a um sem dificuldades e final. Uma reedição do confronto de 2016.
Estádio cheio, muitas vozes gritavam. Ruler flasha e acerta a ultimate do Varus na Karma do Faker. Abate e a famosa frase eternizada pelo Schaeppi “um bilhão de escudos pra cima dele”. Samsung Galaxy era campeã mundial do Worlds 2017.
Euforia. Mas, de outro lado, lágrimas. O fim de uma era.
A cena clássica do Faker desabando em lágrimas é o retrato do encerramento de algo e alguém que sempre será enorme. Porém, hoje, nos nossos mais nostálgicos pensamentos.
Ciclo vicioso
Khan, Clid, Teddy e Mata. Todos super estrelas ou em alta no atual momento da carreira. A torcida acalmou, afinal experiência e a camisa pesa bastante na LCK. E a SKT sabe bem disso, não a toa tem 9 títulos da liga. Mas a torcida não liga. Eles não querem título doméstico, é como se não importasse. Somente campeonatos internacionais parecem saciá-los. A cobrança é muito maior. É vencer ou vencer, não existe meio termo.
A experiência imperou e a SKT ganhou tanto o primeiro split, como o segundo. Na primeira experiência internacional do ano, derrota mais rápida da história do MSI para a Invictus Gaming e eliminação para a G2. Vexame, para muitos. Esperado, para poucos. Eu sou do clube dos que esperavam.
Trazer apenas nomes de peso e os amontoar em um elenco recheado de ego nunca fez clubes vitoriosos, a própria SKT nunca foi assim. O único jogador campeão pela equipe que não foi formado lá foi o Duke. Todos os outros saíram da base. Mas, tudo bem, eles ainda tinham o Worlds para se reinventar, como foi em 2015.
Já no Worlds, campanha dominante na fase de pontos, equipes coreanas sempre se destacam em melhores de um. Vitória tranquila sobre a Splyce que não era forte. Revanche contra a G2, e derrota de novo. Finalmente, a ficha caiu. O estilo doméstico que a T1 jogava estava ultrapassado.
A grande crise
A grata surpresa de Canna e Ellim — que vieram da base —, assim como a chegada de Cuzz, foram determinantes para um desempenho bom da equipe e a conquista do Spring em 2020. Sem MSI, o time precisou se provar internacionalmente no MSC, contra equipes chinesas. E ainda continuavam atrasados, nas posições sem mudanças. Teddy e Faker claramente não estavam no mesmo nível em que já jogaram, e também não eram suficientes para que esse time fosse uma máquina.
A segunda parte de 2020 foi turbulenta e só escancarou o quanto a experiência já não dava mais conta de segurar as pontas da agora T1. Por outro lado, viam uma DAMWON repleta de novatos e jogadores desacreditados dominarem a liga. Além de uma DRX com dois jogadores fazendo o seu primeiro ano competitivo seguirem na mesma pegada.
O segundo split vinha de mal a pior para a T1 e corriam o risco de ficar de fora dos playoffs. O estopim da crise interna se deu após uma entrevista pós-jogo de Kim, atual técnico da equipe, depois de uma derrota vexatória para a Team Dynamics. “Para ser sincero, é impossível fazer com que joguem agressivamente durante o early game, eles não tem a habilidade necessária para isso, então não posso fazer eles jogarem essa fase do jogo até que melhorem”, disse o treinador.
Essa declaração não pegou bem tanto interna quanto externamente, ainda mais pela jovem promessa Clozer estar próximo de ter a idade necessária para estar apto à jogar na LCK. Dito e feito. Após a T1 ser atropelada pela Gen.G, mudanças foram feitas e Clozer estreou. Em um lapso de esperança, a T1 terminou a fase regular da LCK em ótimo nível, com o trio Clozer-Ellim-Canna jogando juntos e muito bem. Porém, para os playoffs, Faker voltou e a equipe foi eliminada pela Afreeca Freecs.
Após a eliminação, o vestiário definitivamente explodiu. Cuzz, Faker e Teddy não estavam se entendendo mais. Isso fez com que nas finais regionais tivéssemos a estreia de Gumayusi. Também uma das maiores promessas da posição. Mas ele foi jogado na fogueira. Derrotada na final pela Gen.G, a T1 estava fora de mais um mundial de League of Legends.
Desde que a SKT tornou-se T1 e passou a ser gerida por norte-americanos, a torcida sempre pegou no pé. O principal ponto criticado pelos torcedores é o fato da organização ter se tornado muito midiática. Por exemplo, colaboração com BTS, comerciais e sessões de fotos são extremamente demonizados por acharem que os jogadores não focam mais em jogar, e sim, em participar de eventos.
Isso se intensificou após mais um ano decepcionante, mesmo levantando uma taça. Protestos e mais protestos. Carros com textos passando pelo centro de operações da organização. E também flores fúnebres que simbolizavam a morte da vitoriosa SKT foram enviadas para o office da equipe.
A janela de transferências foi ainda mais turbulenta e cheia de polêmicas, começando com Effort vazando a comissão técnica para o ano seguinte que acabou não se concretizando. Toda essa repercussão negativa fez com que a página da T1 no Twitter fosse excluída e o CEO Joe Marsh publicar um comunicado enorme para todos os fãs em sua conta pessoal.
A decepção em 2021
A T1 ganhou a janela de transferências contratando Keria, considerado o melhor e mais promissor suporte da região. Além disso, renovaram os contratos e subiram todas as joias da base para o elenco principal. Somado à isso, a contratação da comissão técnica campeã do último mundial também deu um ar de esperança para a organização.
A T1 entrou em 2021 cotada lá em cima e incomodar o super time da DAMWON Kia. Entretanto, não é isso que está acontecendo. Mas a culpa não é dos jogadores. A T1 hoje é como o Barcelona. Ela não pode mais viver do passado e muito menos de medalhões. É hora de renovar. E é isso que estão fazendo.
No entanto, é necessário tempo. E tempo é uma coisa que as torcidas da T1 e a do Barcelona não conhecem. Eles não querem um time que evolua, eles querem títulos. Isso raramente acontece quando se trabalha com jogadores que estão tendo suas primeiras experiências profissionais. Trazer a “experiência” de volta também não é a solução. As duas alternativas estão perdendo, e no fim, nenhuma evolui.
As mudanças constantes inclusive são comentadas pelos jogadores em entrevistas após as partidas. Segundo eles, é uma competição e quem perde, é substituído da equipe. Rotacionar jogadores é bom, criar esse ambiente de disputa pela vaga também é ótimo para manter todos em um alto nível.
No entanto, trocar sempre na primeira derrota é minar a confiança e destruir o psicológico de quem é sacado do time. Sequência não é um segredo, mas é uma fórmula que cria equipes competitivas e sólidas. E é isso que a T1 precisa.
Para mim, é deixar os garotos jogarem. Pegar ritmo, evoluírem e voltarem mais fortes pra segunda metade do ano que é onde importa. No fim, o que todos querem é erguer a taça do Mundial. E nesse rumo que a T1 está seguindo, nem títulos domésticos levantarão esse ano.
Falta pulso firme para decidir que vai ser isso e ponto. Paciência também é uma virtude, mas torcida sempre foi e sempre será imediatista. Mas uma organização e também a comissão técnica, não pode ser. Precisam enxergar isso o mais rápido possível, se não a T1 sempre será a sombra de uma organização que um dia já foi temida e vitoriosa no League of Legends.