O Flamengo eSports está novamente na final do CBLoL. Após a vitória sobre a FURIA por 3×0 no último domingo (3), o rubro-negro de Djoko e companhia chega a sua 4ª final seguida, podendo ser considerada a 5ª, caso seja contada a decisão do Circuito Desafiante.
Há poucos dias do confronto decisivo contra a KaBuM, o Mais Esports conversou com o treinador do Flamengo sobre diversos assuntos, entre eles os conteúdos criados por Djoko em seu canal pessoal, outras decisões que o técnico já disputou em sua carreira, além da jornada da equipe até a Grande Final em 2020.
“Será que agora vai?”
“Tomara né? Estamos trabalhando para isso. Diferente de outras finais, eu estou mais confiante. Mais por, hoje, eu ser mais experiente. A experiência que eu tenho de tempo de trabalho, é à parte da experiência de Final.”
Além desta decisão pelo Flamengo, Djoko já disputou outras duas finais, a do 2º split de 2016 pela CNB e do 1º split de 2017 com a Vivo Keyd. O resultado foi negativo nas duas oportunidades: derrota por 3×1 e 3×0 para INTZ e RED Canids, respectivamente. Segundo Djoko, a Final do Ibirapuera pelos Blumers foi a mais surpreendente.
“Só de chegarmos na final já foi uma grande surpresa, não considerando o split todo, mas porque imaginávamos que seria paiN e/ou INTZ na final”, conta. (Na época, a CNB passou pela Keyd Stars na semifinal, enquanto que os intrépidos venceram a paiN por 3×2.)
“Já pela Keyd em 2017, não foi surpresa, tínhamos um elenco favorito. Ali doeu um pouco mais. Entrar como favorito tem um peso diferente, você sente muito mais, ainda mais perder como perdemos, de 3×0. Doeu bastante, mas também ensinou. Hoje, o que eu sinto é que preciso fazer muito menos do que antes. Eu sentia que, quando chegava numa Final, havia muita coisa para resolver. Agora, já que eu entendo o que tenho que fazer pra ter um bom desempenho dos jogadores, a equipe rodar, já consigo fazer isso antes, desenvolver desde o início do split um trabalho focado no momento final.”
“Começamos a olhar desde o início o que eu sei o que eu já precisei, lá no final. Eu sinto a equipe mais a vontade, mais tranquila, em parte porque já trabalhamos muita coisa pensando em playoff desde o início, quando ainda estávamos com o Luci. A perspectiva é bem diferente”, conclui Djoko.
Apesar do treinador rubro-negro, com passagens por INTZ, CNB, ProGaming e paiN, nunca ter sido campeão do CBLoL, ele acredita que o título não é algo fundamental que falte para sua carreira. “Eu já pensei assim [que o título faz falta], mas hoje eu penso que é muito mais. Tem muita gente com título mas não tem reconhecimento, ou some e nunca ninguém mais vê. Eu queria muito ser campeão, não que eu não queria agora, mas depois percebi que é muito mais sobre o estilo de vida, quem você é e como você vive, muito mais do que precisar ganhar a qualquer custo.”
Djoko explica seu pensamento, afirmando que caso a pessoa tenha o título, a vitória em mente e nada mais, a conquista se torna objetivo e não consequência. “O objetivo é a excelência. Se você tem isso em mente, a vitória é consequência. É uma maneira muito mais suave e honesta.” Ele segue o raciocínio lembrando do acesso de volta ao CBLoL conquistado com a paiN Gaming, em 2019. Na época, sua equipe venceu o Circuito Desafiante, derrotando a Team oNe na Final por 3×0. O acesso, porém, veio na segunda tentativa de retorno. No primeiro split, a paiN chegou à Final e foi derrotada pela Redemption. Na Série de Promoção, nova derrota, desta vez para a INTZ e mais um split na segunda divisão.
“Em certo ponto, subir com a paiN era tão importante ou mais do que um título do CBLoL para mim. Depois de não ter conseguido na primeira vez, se tornou uma questão de honra. É muito subjetivo. Claro, meu foco é ganhar, mas não é como se isso fosse o mais importante, a única coisa que importa. O que importa é o processo, a jornada.”
Djoko atualmente possui um canal no YouTube com mais de 150 mil inscritos. Lá ele publica conteúdos analíticos, principalmente analisando os patch notes do League of Legends assim que uma nova atualização chega aos servidores. Sobre o canal, Djoko revela que nunca teve intenção de fazer conteúdo esperando crescer com ele.
“Nunca tive esse plano. Quando eu comecei o canal, eu pensei em fazer algo analítico, que eu gosto, automaticamente eu me forço a estudar mais o jogo e eu teria exposição de marca. […] Eu focava muito no competitivo e em níveis mais altos, não tanto no low-elo porque, na minha cabeça, eu não queria falar do óbvio. Mas, nesse último ano, senti que não é bem assim. Tem muita gente nova que começa a jogar todos os dias, e muitos que tem uma visão errada do que é o LoL, e isso é a raiz dos problemas na minha visão.”
1º split 2020 do Flamengo
“O começo do split foi bem curioso. Parece que foi algo do destino o primeiro jogo ser contra a paiN, ela sendo um dream team… O pessoal não colocava tanta fé em nós, mas quem assistia os treinos, quem via como as coisas funcionavam, sentia que havia potencial. E quem estava dentro, vendo tudo, percebemos que tínhamos um time com capacidade de brigar. Porém, era um time sem muitos modos, no sentido de que, em alusão ao Flamengo de 2019, só gostava de jogar de uma maneira. Eu aprendi que isso é um perigo muito grande.”
Apesar disso, o Flamengo encaixou um bom começo de CBLoL e por diversas rodadas foi o líder da tabela, entretanto, “ninguém esperava o que aconteceu esse ano”, afirma Djoko. “Tanto do Coronavírus, do Luci, questões internas… O Flamengo provavelmente foi o time mais conturbado do split.”
O experiente treinador também acredita na frase “tempos difíceis criam homens fortes”. Quanto a isso, tanto Flamengo como também a KaBuM passaram por momentos complicados durante a etapa, principalmente os Ninjas, cotados a serem rebaixados de forma direta no começo do campeonato. “Tudo conspirou para chegar nessa final em questão de história, temos uma boa narrativa dos dois lados.”
Entrando em detalhes sobre a questão que pegou o Flamengo de surpresa, a volta de Luci para a Coreia do Sul em razão de seu estado de saúde, Djoko explica porquê o jogador era tão importante para a equipe, principalmente no começo do campeonato.
“A dependência pelo Luci no começo era algo bom e ruim ao mesmo tempo, ele possibilitou um atalho de início de campeonato único. Não passamos por problemas como outros times, simplesmente porque o Luci é muito bom. Quem o vê, normalmente foca nas jogadas boas que ele faz, mas isso é o de menos. Ele como figura, líder, principalmente raciocínio rápido. Ele vê a jogada, pensa na resposta, dá a call em inglês e coreano bem rápido, é bizarro. Ele é diferenciado.”
Djoko também lembra da “saída” do jogador, que retornou à Coreia do Sul para cuidar de sua saúde. “Quando perdemos o jogador, foi algo que aconteceu junto com toda uma atmosfera. Perdemos o Luci, os problemas internos e Coronavírus, tudo ao mesmo tempo. Eu cheguei a pensar que poderíamos ser rebaixados, estava muito difícil.”
“Os jogadores não conseguiam repor a falta do Luci, e isso é impossível, todo jogador é único, todo estilo é único. A mudança de liderança para o Ranger fez um efeito dominó muito grande. Não é só eu falar pro Jojo fazer tudo que o Luci faz, ele só conseguia fazer tudo aquilo treinando e jogando muito. Apesar disso, eu dou 100% de mérito pro Jojo que, mesmo com isso tudo, ele encaixou e, para mim, está jogando o melhor League of Legends da carreira dele.”
Segundo alguns comentários de treinadores sobre o Flamengo, o rubro-negro joga de forma que lembra o estilo visto na LPL, com partidas caóticas onde um time sufoca o outro. Djoko explica que a equipe não era assim com o Luci, já que antes, ela jogava em “high-tempo”: “Não respondíamos tanto porque não havia o que responder, era sempre o adversário atrás de nós.”
“Hoje, ainda queremos ter essa atitude agressiva, mas ao mesmo tempo, também queremos manter o gameplay um pouco mais tático. Sim, nós nos espelhamos bastante na LPL e parte do estilo agressivo se manteve, mas além disso, agora também jogamos mais o mapa e reagimos de forma mais agressiva. Rolou uma mudança de paradigma, mas para se encaixar na nova equipe.”
Em seguida, Djoko falou da atuação de Parang, top laner da KaBuM que dominou a semifinal contra a Vivo Keyd, e agora será adversário de WooFe, do Flamengo.
“O que fez o Parang parecer tão melhor que o Robo foi, claro, mérito dele, mas também mérito maior do time dele que conseguiu no jogo de equipe, deixar o Parang numa posição bem confortável e o Robo muito desconfortável. São as pequenas coisas, é uma pink, uma visão que você pega na hora certa, é o draft. Todo o panorama fez o jogo do Robo muito difícil”, explica o treinador.
Finalizando a entrevista, Djoko elogiou sua equipe. Primeiro falando de Ranger, o treinador conta que sua vontade de ganhar é contagiante, algo que ele considera inestimável para uma equipe. Sobre o mid laner Goku, com quem Djoko já trabalhou no passado, ele afirma: “Ele é um cara completo dentro e fora de jogo, ele é o tipo de player que eu trabalharia a vida inteira.”
Já sobre Absolut, o técnico comenta suas experiências passadas contra o jogador: “Eu sempre tive vontade de trabalhar com ele. Ele é um jogador que sempre foi um problema quando eu jogava contra. Sempre estava jogando bem, sendo diferenciado, parece até que ele tem uma passiva, quanto mais necessário ele é, melhor ele joga. Nos momentos de pressão ele cresce.”
“Tanto nele quanto no Ranger, já tinha no Goku, eu encontrei pessoas com quem eu me dou muito bem. O grupo como um todo, mais especificamente eles, eu me dou bem dentro e fora do jogo. Para o Flamengo é um prazer ter esses jogadores, eles são uma base muito boa, você pode dar os louros para os coreanos, realmente eles jogam muito, mas esse núcleo brasileiro é muito bom”, conclui.
Flamengo decide o 1º split do CBLoL 2020 contra a KaBuM, no próximo sábado (9), às 13h. Já que o MSI foi cancelado devido a pandemia de Coronavírus, não teremos torneio internacional no meio da temporada, ou seja, a preparação das equipes será focada já na segunda etapa da temporada.
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