O projeto Valkirias é mais um que foi criado pela comunidade para a comunidade. Ele tem o objetivo de ensinar e preparar garotas para o League of Legends, seja aquelas que apenas querem melhorar nas filas ranqueadas, ou as que têm o sonho de seguir carreira no competitivo. Em apenas duas semanas de criação, já são mais de 300 participantes!
O Mais Esports conversou com a Pamela Mosquer, criadora do projeto, para saber um pouco mais sobre como ele surgiu, como funciona, quais os maiores desafios e também quais serão os próximos passos da iniciativa Valkirias.
Como surgiu o projeto Valkirias
Pamela joga LoL desde 2017, mas quando começou a namorar o jogador Riyev, da Falkol, passou a ter mais contato com o competitivo do jogo. Em 2019 ela começou a estudar para ser treinadora, após ver que não haviam mulheres que ocupavam esse cargo aqui no Brasil.
“Comecei a ter aulas com o Neki, assistir aos treinos com o Chawy da Falkol e recebi alguns conselhos do Abaxial. Eu assistia muitos replays, tirava algumas dúvidas com eles, até que fiz o teste para uma organização e passei”, comentou. Após quase um ano nesta organização, acabou saindo por problemas relacionados a preconceito.
“Desde o começo eu percebi que ser treinadora com organizações talvez não fosse uma boa ideia, eu já tinha passado por esses problemas mesmo trocando a line-up quatro vezes, foi então que decidi sair da organização”. Após uma conversa com uma amiga que tinha o sonho de ser jogadora profissional, Pamela se disponibilizou a ajudá-la, e foi então que surgiu a ideia de criar um projeto para ensinar garotas sobre o LoL.
“Eu pensei, ‘todo mundo fala e fala do cenário feminino, mas ninguém faz nada, então como não vou usar conhecimento (em LoL) para outras coisas, vou aplicar para as meninas para ajudar a desenvolver a gameplay delas, e assim ter mais meninas no cenário’, foi então que postei no meu Twitter esperando mais ou menos umas 40 garotas aparecerem”, comentou.
A expectativa foi mais que triplicada em apenas 12 horas, pois foram 150 meninas que se cadastraram, e no momento da publicação desta matéria o projeto já conta com mais de 300 participantes. Gerenciar tantas pessoas assim não é uma tarefa fácil, por isso uma das próprias alunas passou a fazer parte da administração do Valkirias.
“A Aishley foi minha aluna e hoje ajuda a gerenciar o projeto, ela é incrível! É a melhor manager que já conheci. Eu administro tudo com a ajuda dela ela, mas as próprias meninas se organizam quando percebem que está tudo corrido para mim, elas mesmo montam os times para jogar juntas, entre outras coisas”, complementou.
O momento em que eu entro no discord do projeto e vejo todas as meninas organizadas em times jogando juntas, eu juro pra vocês que eu to CHORANDO de tão lindo e incrível que foi ver isso pic.twitter.com/kEvYtWJgKQ
— Pamela Mosquer (@pamosquer) July 30, 2020
Dificuldades do projeto
Pamela contou que a maior dificuldade foi para conciliar o horário de todas, pois logo no começo ela percebeu que a maioria tinha disponibilidade de horários diferentes. Ela também lamenta não ter conseguido incluir mais meninas na “primeira turma”, mas ressaltou que o projeto tem uma lista de espera com 100 nomes. Outro obstáculo que ela se deparou foi com algumas alunas que eram deficientes auditivas, e isso dificulta que elas acompanhem as aulas, que são feitas via Discord.
“O meio que encontrei para resolver os três problemas de uma vez foi gravar todo o conteúdo que é passado pelo Discord, e depois disponibilizar no Google Drive, assim quem ficou de fora ou não pode assistir à aula ao vivo por indisponibilidade de horário, também tem acesso. Já para as meninas deficientes auditivas, eu estou colocando legenda no conteúdo, assim todas podem usufruir”, comentou Pamela.
Aulas para o casual e competitivo
O projeto busca ajudar tanto as garotas que apenas querem melhorar para jogarem casualmente nas filas ranqueadas, quanto as que desejam entrar no competitivo, por isso são ensinados conceitos diferentes dependendo da “classe” que elas estiverem. Todas recebem lições para casa, que envolvem enviar replays ou informações das partidas para serem analisados pelos professores, assim elas podem receber comentários do que estão fazendo de errado e onde podem melhorar.
“As meninas do competitivo têm aulas mais direcionadas para o jogo em equipe, além de terem treinos durante a semana toda. Elas são avaliadas e cobradas de perto, então realmente são tratadas como um time. Nós também ensinamos elas a como não serem enganadas por organizações e, no final do treinamento, indicamos elas para as organizações”.
As meninas que têm como foco melhorarem nas filas ranqueadas também contam com aulas quase todos os dias, seja pelos vídeos gravados pelos professores ou por transmissões ao vivo. O treinamento neste caso é para a parte individual, ajudando as garotas a como tomar decisões melhores para terem o maior impacto possível nas partidas.
https://twitter.com/Aishlley/status/1291140953043087362
No entanto, Pamela se preocupou em ajudar elas além LoL. “A maioria delas têm medo de jogar nas filas ranqueadas justamente pelo preconceito contra mulheres, então para ajudá-las a lidar com isso, eu trouxe acompanhamento psicológico com mulheres, vídeos motivacionais e reuniões com nomes do cenário que ensinam a lidar com isso, como a Kyure, Gabruxona e Elementalita”, completou.
Fazendo reunião com as meninas do projeto e a @Gabruxona ouvindo os relatos eu percebo a importância de pessoas como a Gabru que se posicionam e se defendem e inspiram centenas de meninas a continuarem jogando
— Pamela Mosquer (@pamosquer) August 6, 2020
Ela continuou dizendo que as meninas sempre tiveram um incentivo menor, e todas acabam ficando com alguma “sequela psicológica de jogar”. “Todas passaram por experiências desagradáveis, mas no final isso acabou unindo elas. Sinto que o projeto deu a elas uma vontade maior de jogar sabendo que não estão sozinhas e podem jogar umas com as outras se quiserem”, explicou.
nunca pensei que teria tanta gente interessada em eu falando da minha vida dentro de um joguinho, da minha trajetória profissional ou sei lá lsjslsjdldfk desacreditada, mas feliz. obrigada meninas vcs vão fazer eu ir dormir um nojo hoje ❤️❤️ pic.twitter.com/v88GrZ7VWf
— lita da maw studio (@elementalita) August 8, 2020
Problemas com homens no começo do projeto
Independente de elo ou qualquer outra coisa, qualquer menina pode participar do projeto, mesmo se ela nunca tiver jogado ranqueada. Ela disse que inclusive tem algumas transexuais no curso, pois o objetivo é não segregar ninguém, mas devido a alguns problemas que aconteceram no começo, ela não permite a participação de homens nas aulas.
“No começo nós demos acesso aos homens no Discord, assim eles podiam assistir às aulas também. Um time tinha entrado em contato comigo, querendo fazer uma parceria para pegar algumas meninas do projeto e criar uma line-up feminina, oferta que eu recusei. No outro dia a Aishley me notificou que eles haviam invadido o Discord e enviado mensagens no chat geral divulgando time e campeonato, além de entrarem em contato com as meninas no privado tentando convencê-las a entrar na organização. Fiquei muito brava com o desrespeito e removi todos os homens que eu não conhecia do servidor”.
No entanto, os homens que quiserem aprender, podem usar o material criado pelo projeto de forma totalmente gratuita, pois os links são disponibilizados para todos no canal da Pamela no Youtube.
Professores do projeto
Pamela foi quem começou dando as aulas, mas com o crescimento repentino do projeto Valkirias, ela selecionou alguns voluntários para também serem professores. Além dela e da Aishley, que ajuda na administração, nomes como @_lucasv, @_tondevice, @wsneto, @thefoxlol, @nemotags e @milowsss também ensinam e ajudam na análise dos replays enviados pelas alunas.
O projeto conta com um nome já conhecido da comunidade. Riyev, suporte bi-campeão brasileiro que hoje atua pela Falkol, é um dos professores e já até gravou um vídeo para as meninas em que ensina sobre a “Ward Secreta”.
No entanto, outras pessoas podem contribuir com o projeto, seja ajudando na administração ou dando aulas, mas é necessário entrar em contato com a Pamela pelo Twitter para que ela selecione quem está apto a participar.
“Tem muita gente querendo se aproveitar da situação de ter varias meninas juntas para divulgar algo ou até mesmo vender algo para elas. Além dos professores serem selecionados a dedo, nós estamos sempre acompanhando as aulas deles para evitar qualquer tipo de problema”, comentou Pamela.
Póximos passos para o Valkirias
É importante ressaltar que esse projeto é totalmente gratuito para as garotas e não dá nenhum retorno financeiro para os envolvidos. Pamela revelou já ter recebido propostas de organizações, mas todas visavam algum tipo de venda de curso para as meninas, por isso foram recusados.
“Não é isso que eu quero, não foi para isso que eu criei o projeto, se fosse para tirar dinheiro dessas meninas eu mesmo cobraria por isso, mas eu ofereci o treinamento de graça”, comentou. Ela também ressaltou que a única forma dela ganhar dinheiro indiretamente com o projeto, é caso as próprias participantes queiram assistir sua stream e contribuir.
Pamela contou que já tem planos para expandir o Valkirias para outros jogos, como o Valorant, Free Fire e Wild Rift. Ela espera conseguir montar uma estrutura com patrocinadores para conseguir acolher mais meninas no projeto. Antes dessa matéria ser publicada, a criadora do projeto anunciou a expansão para o Valorant.
https://twitter.com/pamosquer/status/1291743918086815744
Como participar do Valkirias
Quem quiser participar das aulas no Discord, pode entrar na fila de espera através deste cadastro. No entanto, os que desejam ter acesso a todos os materiais que serão disponibilizados, basta se inscrever no canal do Youtube da Pamela, que contará com mais vídeos em breve. Aos que querem contribuir de alguma forma, podem estar assistindo às streams dela, que acontecem na Twitch.
Para finalizar a conversa, Pamela deixou um pequeno recado para todas as garotas que estiverem lendo essa matéria. “Eu queria dizer para as garotas não desistirem, eu sei que é muito complicado lidar com o pessoal, mas agora nós vamos mostrar para o cenário que mulheres também existem e nós merecemos estar aqui tanto quanto eles”, finalizou.
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