Bwipo, top laner da FlyQuest, conversou de forma exclusiva com o Mais Esports sobre suas percepções do cenário brasileiro de LoL, sua carreira e busca pelo seu sucesso internacional e de toda a sua região.
Um dos pontos que ele mais falou foi sobre o ego dos jogadores e o quanto isso pode afetá-los, assunto que inclusive é muito discutido aqui no Brasil. Confira a entrevista completa ou, se preferir, leia a transcrição de trechos específicos logo após.
Um dos pontos levantados foi o ego dos jogadores brasileiros, e que alguns podem preferir não ter treinamento com o top laner da FlyQuest por achar que seria pouco benéfico. Ao ser questionado se ele esperava mais mensagens pedindo ajuda, Bwipo foi categórico:
Muitos jogadores de tier 2 me procuraram, e acabei trabalhando com eles. Já os de tier 1 foram poucos, bem poucos, para ser honesto. Mas minha disponibilidade também é limitada – só consigo atender às 1h da tarde e 11h da noite, que é o melhor que posso oferecer.
No fim das contas, para mim, isso não faz diferença. O importante é que aqueles que eu ajudo, seja no tier 2 ou no tier 1, mostrarão aos outros o valor do trabalho. Se eles se dedicarem, os demais perceberão. Chegará um momento em que pensarão: “Se eu não jogar como esse cara, posso perder meu emprego.
Além de Tutsz e Brance, outros jogadores do tier 1 também o procuraram?
Prefiro não falar sobre isso, porque, no fim das contas, não sou alguém que tem todas as soluções. Apenas compartilho o que acredito que pode ajudar. Se eu achasse que sou tão bom a ponto de consertar todos os problemas e que os outros são tolos por não falarem comigo, algo estaria errado comigo. Meu foco é ajudar quem quer ser ajudado.
Se você está no meu time, não há espaço para ego. Vou brigar com você até quebrar essa barreira. E, se eu cometer um erro, sempre me desculpo com meus companheiros. Da mesma forma, se alguém errar, eu vou dizer.
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“Diga por quê está aqui”, diz Bwipo sobre lutar contra o ego
Em questão sobre se o ego dos jogadores brasileiros pode atrapalhar na relação com seus técnicos, citando como exemplo Seel e Stardust, o top laner dá uma visão diferente, além de falar sobre uma conversa que tem com seus companheiros de time para que eles reflitam sobre os reais motivos de estarem jogando profissionalmente:
Sobre isso, minha abordagem é clara—se alguém tem ego, eu confronto. Quero entender por que essa pessoa está aqui. Se ela não consegue me explicar, continuarei pressionando até obter uma resposta.
Eu costumo dizer aos meus jogadores: você abriu mão de crescer perto da sua família. Sua mãe não pode mais te ver com frequência. Seu pai também não. Você sacrificou não apenas sua vida, mas a das pessoas ao seu redor. Passa horas treinando, jogando todos os dias, sem tempo para mais nada. Agora me diga: você realmente quer isso?
Se alguém me responde: “Estou aqui porque é dinheiro fácil”, então essa pessoa não estará no meu time na próxima temporada. Eu só quero ao meu lado aqueles que querem ser os melhores. Se for esse o caso, então sentamos juntos e analisamos o que os melhores do mundo fazem.
O jogador prossegue citando duas inspirações, Bin e Zeus, além de falar sobre seu começo na LEC e o que tirou de lição da sua trajetória vitoriosa até aqui. Confira:
Quando digo algo aos meus jogadores, não é só minha opinião. Eu peço que observem jogadores como Bin e Zeus. Eles sempre estão nas finais, sempre disputam campeonatos mundiais. Por quê? Porque jogam de forma consistente em alto nível. Então, ao invés de resistir, aprenda com eles.
Eu mesmo decidi me tornar profissional na temporada 6 porque assistia à LEC e pensava: “Eu posso fazer isso. Posso fazer melhor.” Quando vi jogadores sendo contratados no meu lugar na temporada 7, fiquei indignado. Mas, no fim, segui focado no que eu podia controlar. Deus foi justo comigo, me deu uma chance melhor, e no ano seguinte eu estava na Fnatic. O resto da história, todo mundo conhece.
A lição é simples: foque no que você pode fazer, não no que não pode. Veja o que os melhores fazem e aplique o que puder ao seu jogo. Depois, construa sua própria trajetória. O segredo do sucesso não está no ego, mas na disposição de aprender e evoluir.
“Sou um jogador controverso”, diz Bwipo
Quando questionado se, na América do Norte, o jogador é visto de uma maneira diferente do que no Brasil, onde a comunidade enxerga Bwipo como alguém esforçado para ajudar o cenário brasileiro, o top laner confessa:
Sei que tenho meus momentos. O estresse é meu maior inimigo. Não jogo bem quando estou estressado, e é por isso que desenvolvi meu próprio sistema. Quando estou perdido, começo a cometer erros, jogo de forma impulsiva, sem um plano claro. Depois percebo que não deveria ter feito aquilo.
A verdade é que minha consistência ao longo da carreira sempre seguiu um padrão. Demorei muito para entender isso. Mas aprendi que meu desempenho depende de previsibilidade. Eu rendo melhor quando sei o que esperar dos meus companheiros – pouco me importa o que o time adversário fará. Se eu conheço bem o jogo que estamos jogando, se sabemos se queremos um jogo mais lento, mais agressivo ou focado em teamfights, consigo me adaptar.
Ao ser perguntado quem manteria o jogador no controle em momentos de estresse, Bwipo foi certeiro:
Eu mesmo. A culpa é minha. Não coloco isso na equipe técnica. Eles podem apontar meus erros, e eu vou concordar. Não tenho ego para admitir quando errei. Às vezes, simplesmente não sei o que fazer e peço ajuda. Se minha equipe me der uma resposta, eu sigo aquilo e vejo se funciona. Se der certo, ótimo, obrigado. Se não funcionar, podemos repensar o draft, mudar a abordagem.
A questão é que muitos jogadores entram num ciclo de frustração quando enfrentam dificuldades. Parece que precisam de uma “cruzada” para sair de um momento ruim, quando, na verdade, deveriam apenas ajustar o foco.
Claro, todos temos ego. há drafts nos quais digo para o time: “Me escolham isso, não se preocupem, eu cuido do resto.” Mas em outros, reconheço minhas incertezas e prefiro discutir o que fazer.
O jogador finaliza destacando que sempre haverá espaço para feedback, e reflete sobre o que significa ser realmente bom a nível profissional. Se liga:
Sempre há espaço para feedback. Ninguém é perfeito – nem eu, nem Faker, nem qualquer outro jogador. E é isso que torna o jogo interessante. Se você acha que joga “bem o suficiente”, o que isso significa? Ganhar um campeonato mundial? E depois? Sai do palco dizendo que jogou de forma perfeita? Espero que não, porque ninguém joga perfeitamente. Podemos chegar perto, mas sempre há margem para melhorar.
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