A torcida brasileira do League of Legends é calejada em relação a resultados e desempenho internacionais. Por muitas vezes, enxergamos que estamos muito atrás de todas as outras regiões, e subimos o tom das críticas (o redator se incluí aqui), acreditando que estaremos, por tempo indeterminado, fadados ao fracasso em todos os sentidos.
Na contramão de todas as afirmações anteriores, temos um jogador natural do interior de São Paulo, multicampeão no Brasil, que alçou voos maiores na carreira, e carrega a bandeira do país em uma região Major: Ceos, que vive a expectativa de estrear pela Shopify Rebellion na conferência Norte, após ter problemas de visto no primeiro split.
O suporte ex-KaBum! e LOUD bateu um papo exclusivo com o Mais Esports sobre seus primeiros dias nos EUA, a adaptação para ficar longe da família, os primeiros treinos com sua equipe e as expectativas da SR no torneio que se aproxima. Confira!
Como tem sido esses primeiros dias nos Estados Unidos, agora, para morar oficialmente?
Cheguei aqui há cerca de nove ou dez dias. Continuo em um período de adaptação, tanto ao novo ambiente quanto ao local de trabalho, que também é novo para mim. Além disso, estou me ajustando ao time, aos treinos e à rotina.
Já estamos treinando juntos há cerca de sete dias, enfrentando equipes da LTA Norte. Houve um pequeno atraso no início dos treinos porque eles estavam em bootcamp e chegaram depois. Esse período de adaptação vai além do jogo—envolve também a rotina diária, como alimentação, academia e outros aspectos do dia a dia.
Até agora, tudo tem corrido bem. A Shopify tem oferecido todo o suporte necessário, o que tem facilitado bastante essa transição. No geral, diria que estou me adaptando bem.
Agora, ao entrar nessa nova fase da sua carreira, você enfrentará desafios que não existem no cenário brasileiro, como a distância de casa e a saudade. Você acha que isso pode afetar seu desempenho?
Ah, sem dúvida. A distância é algo que nunca precisei enfrentar antes. Sempre estive perto da minha família e da minha namorada, então estar longe é um desafio novo para mim. Não tem como negar, é algo difícil. Além dos desafios dentro do jogo, essa é mais uma barreira que vou precisar aprender a superar. Nunca passei por isso antes.
Acho que, de certa forma, isso pode, sim, tornar a competição mais pesada. No Brasil, nos meus dias de folga, eu podia sair com minha namorada, assistir algo, ir ao shopping—essas pequenas coisas ajudavam a relaxar e a sair um pouco do ciclo de 24h de LoL. Aqui, isso não será possível.
Vou precisar me adaptar a essa nova realidade. Sem dúvidas, será difícil. Já estou aqui há pouco mais de uma semana e meia, e a saudade já começou a bater. Mas faz parte, e vou ter que aprender a lidar com isso.
Se vocês avançarem para o MSI e/ou Esports World Cup, não terão tempo para descansar, jogando sem interrupções. Isso te preocupa, especialmente por não voltar ao Brasil nos próximos três ou quatro meses, caso a equipe tenha sucesso?
É algo que vou precisar sacrificar, principalmente se tivermos um bom desempenho. Se avançarmos para a World Cup e o MSI, o calendário será muito apertado, sem tempo para voltar ao Brasil, ver minha família ou minha namorada. Tudo será muito corrido. Então, esse será um sacrifício que terei que fazer para ter uma boa performance.

Como tem sido a relação com seus companheiros de equipe, tem falado mais com Raven/Flanalista e Bvoy, se aproximou mais do restante do time?
Quando cheguei, foi mais fácil conversar pessoalmente com o Sam (Flanalista), já que ele já estava no Brasil há mais tempo que o Bvoy e tínhamos mais assuntos em comum.
Tanto ele quanto o Bvoy foram fundamentais para minha vinda, pois já me conheciam, acreditavam no meu potencial e me deram essa oportunidade. Converso bastante com os dois, até porque o Bvoy é meu roommate—moramos juntos, então acabamos nos vendo mais do que os outros jogadores.
O Fudge, Palafox, Contractz e até nosso coach, Damonte, também são muito tranquilos e fáceis de lidar. A comunicação dentro do jogo flui bem, eles escutam e respeitam minha opinião. No geral, o ambiente está sendo muito positivo—todo mundo é dedicado, gosta de conversar e discutir sobre LoL, o que torna a convivência bem agradável.
Como estão sendo os primeiros treinos com a Shopify Rebellion? Vocês têm se saído bem? Está com boas expectativas para o próximo split?
Finalmente estou conseguindo entrar em um ritmo de treino. Tivemos alguns dias de prática no bootcamp na Coreia no final do ano, mas foi um período curto, de apenas três dias, e ainda no patch novo, então estávamos nos ajustando. Agora, com uma sequência mais consistente, tem sido muito positivo para mim.
Desde minha eliminação no CBLOL, em agosto, fiquei um bom tempo sem treinar regularmente. No início, treinamos alguns dias contra um time do Tier 2, já que as equipes da LTA Norte estavam em bootcamp. Mas nos últimos cinco ou seis dias, temos jogado diretamente contra esses times.
A experiência tem sido bem diferente do que eu estava acostumado no Brasil. Lá, eu já conhecia todos os jogadores, seus estilos e preferências. Aqui, tudo é novo para mim, então estou nesse período de adaptação—não só para entender meus companheiros de equipe e como gostam de jogar, mas também para conhecer os adversários.
Ainda assim, essa primeira semana superou minhas expectativas. Mesmo após tanto tempo parado, sinto que já estamos construindo uma sinergia sólida. Mais do que os resultados dos treinos, vejo que todos estão alinhados no que queremos melhorar.
Isso faz toda a diferença. Independentemente de vitória ou derrota, estamos focados nos pontos certos para evoluir e nos tornarmos um time forte em stage. Estou bem animado com esse começo.
Vocês estão focados em garantir uma vaga para os campeonatos internacionais, ou o objetivo principal é um planejamento de longo prazo, visando chegar fortes para disputar o Mundial no final do ano?
Acho que ainda não discutimos muito sobre o objetivo geral da equipe. Sinto que estamos focados no momento em formar um time forte e evoluir juntos. Não estamos estabelecendo um objetivo de curto prazo ainda. É claro que o Mundial é o objetivo de todo time que joga League of Legends, pois é a maior competição do ano.
Então, sem dúvida, queremos estar no Mundial. Mas estamos indo aos poucos, porque somos um time novo e ainda estamos nos conhecendo. Mesmo com eles já tendo jogado o primeiro split, minha chegada muda a dinâmica do time.
Neste momento, estamos focados em melhorar aos poucos, evoluindo nas áreas em que precisamos trabalhar, nos tornando mais unidos e formando um time mais coeso. Mas se fosse para definir um objetivo, sem dúvida seria o Mundial. Queremos ser um time forte o suficiente para nos classificar e fazer uma boa campanha.

Bwipo comentou no Brasil que, se fosse treinar um time, queria que eles focassem mais no processo e na jornada, em vez de apenas no objetivo final. Você acredita que essa mentalidade de focar no processo, em vez de focar nos títulos, é mais comum no NA?
Não sei se isso é algo mais cultural ou típico daqui, mas, pelo menos na minha visão, o que faz sentido é focar no dia a dia. Claro, se você ficar só pensando em ir para o Mundial, ganhar o Mundial, é algo que todo time deseja, mas o que realmente importa é o que você faz a cada dia para chegar lá.
Eu sempre preferi adotar essa mentalidade de focar mais no presente, no que você pode controlar hoje, no treino, no que vai fazer na próxima semana, no próximo jogo. É claro que não dá para ignorar o sonho de estar no Mundial e jogar bem lá, mas o foco deve estar no que você pode melhorar no dia a dia.
Assim, você evolui muito mais do que se ficar só com um objetivo a longo prazo, sem pensar no que fazer amanhã ou na próxima semana. Esse, pelo menos, é o jeito que faz mais sentido para mim, tanto como jogador quanto como equipe.
Você sai do Brasil, para se tornar o primeiro jogador brasileiro no Tier 1 de uma Major Region. Qual é, hoje, o principal objetivo da sua carreira?
Eu nunca imaginei que estaria aqui. Sempre tive na cabeça que, independentemente da minha profissão, queria ter alguma experiência no exterior. Fiquei muito feliz por conseguir essa oportunidade, embora não fosse algo que eu considerasse real ou possível até então.
Quando soube que poderia viver essa experiência, fiquei realmente empolgado.
Meu objetivo nunca mudou, seja aqui ou no Brasil.
Sempre quis ser o melhor jogador e o melhor companheiro de equipe possível. Quero que meu time vá bem, e sei que muitos fãs brasileiros perderam a esperança, já que, ao longo dos anos, os resultados não evoluíram e as coisas sempre pareciam ficar no mesmo lugar.
Então, um dos meus objetivos é mostrar para o público brasileiro que temos jogadores de alto nível, não só no Brasil, mas no mundo. Se eu for bem aqui, acredito que isso pode abrir portas para outros jogadores brasileiros também, pois sei que há muitos no Brasil tão bons quanto eu, ou até melhores.
Além de querer ser o melhor para o meu time e o melhor jogador que posso ser, quero também ajudar a abrir mais portas para outros jogadores brasileiros e dar um pouco mais de esperança aos fãs de League of Legends no Brasil.
Sei que, a cada ano que passa, a esperança deles diminui devido aos resultados, então, se eu conseguir fazer algo bom na Shopify, ser um bom jogador e ajudar a construir um time forte junto aos meus companheiros, acredito que isso pode contribuir muito para o cenário brasileiro.
Alguma mensagem para os brasileiros que vão passar a assistir a LTA Norte, só para te ver jogando?
Primeiramente, eu sei que tem muita gente torcendo por mim, e isso me deixa muito feliz. Sei que tem pessoas que talvez nem acompanhem muito a LTA Norte, que não conhecem tanto, mas que vão assistir só para me apoiar. Isso significa muito para mim.
Eu recebo várias mensagens de apoio, dizendo que vão torcer por mim, e isso só aumenta minha motivação para fazer tudo dar certo e representar todo mundo da melhor forma possível. Então, quero agradecer todo o carinho dos fãs. Desde o início da minha carreira, sempre fui muito grato a todos, e continuo sendo. Podem ter certeza de que vou dar o meu máximo.
