A notícia do dia no mercado dos games ficou por conta da compra da Activision Blizzard pela Microsoft. O valor da transação chega a US$ 70 bilhões, cerca de R$ 375 bilhões em conversão direta, e é a maior da história da indústria até agora. E isso vai repercutir como um tiro em um vidro no mercado de esports.
Isso porque, com a compra da Activision Blizzard, a Microsoft está colocando muitas franquias competitivas e suas respectivas ligas no mesmo transatlântico cruzando o mar de investimentos do mercado de videogames.
Só para vocês entenderem o quanto isso é grande para os esports — até antes da compra, a Microsoft contava com 5 grandes franquias nos esports: Halo, Forza, Gears of War, Age of Empires e Quake (pela compra da Bethesda em 2020).
Agora ela praticamente dobra o seu portfólio e expande para Overwatch, Warcraft, World of Warcraft, Starcraft, Heroes of the Storm, Hearthstone e Call of Duty. São cinco ligas de FPS no mesmo barco: Call of Duty League, Overwatch League, Halo Championship Series, Gears Pro League e Quake Pro League.
Isso é só uma parte do quanto essa compra chega longe nos esports.
COD e Overwatch League na casa do Xbox?
Este é um dos pontos mais delicados no meio de toda a negociação. Call of Duty sempre teve um cenário profissional majoritariamente dominado pelo console rival da Microsoft, o PlayStation. E, no meio da compra, eles também adquiriram um dos FPS mais fortes do PC atualmente: Overwatch.
A princípio, a Microsoft não tornará nenhum dos jogos exclusivos. Isso foi dito pelo próprio Phil Spencer, dono da porrada toda, na compra dessa terça. Mas nada disso garante que teremos trocas de plataformas para o cenário profissional.
Further from Phil Spencer on the exclusivity issue: “I’ll just say to players out there who are playing Activision Blizzard games on Sony’s platform: It’s not our intent to pull communities away from that platform and we remained committed to that.” https://t.co/LCC3Y6Pgiu
— Dina Bass (@dinabass) January 18, 2022
Claro que, naturalmente, a decisão seria prestigiar o próprio console e botar tudo no Xbox. Mas isso não aconteceria sem uma revolução entre os fãs dos dois jogos. E nem seria muito justo com a própria Microsoft, que conta com dois FPS fortíssimos disputados em seus consoles — Halo e Gears of War.
O ponto é que a influência da Microsoft está indo muito além de um selo de exclusividade na cabeça de um fã normal de esports que só quer curtir um CODzinho. De um dia para o outro, ela pode simplesmente tornar Xbox como a casa de muitos cenários profissionais — embora tenha que arcar com as consequências disso.
Microsoft e Activision Blizzard: revivendo mortos
Pasmem: a Microsoft também colocou as mãos em um MOBA pela primeira vez. No entanto, Heroes of the Storm é um MOBA já “abandonado” entre os investimentos da Blizzard nos últimos anos.
E não é só isso: alguns jogos da Blizzard já perderam a tração nos esports há algum tempo. Enquanto Hearthstone e StarCraft 2 ainda contam com seus campeonatos aqui e ali, Warcraft 3, World of Warcraft e Heroes of the Storm já esfriaram no cenário profissional. Somente iniciativas da comunidade mantém o competitivo ainda vivo.
Aliás, em junho de 2021, eu contei um pouco sobre essas iniciativas que mantinham o Warcraft 3 vivo. O Reforged representou o quanto a empresa estava se distanciando destes jogos — um distanciamento que beirava, em partes, o abandono.
Agora, esses jogos podem ganhar o impulso que estavam tanto precisando. Com interesse e investimento de fora, a WCS pode ganhar mais vida no StarCraft. E vale lembrar que a Microsoft é uma das mais interessadas na volta dos RTS competitivos com a recente chegada de Age of Empires 4.
Warcraft 3 pode também entrar por essa via, mas este jogo precisa de muitas melhorias na versão remasterizada para ter o mesmo prestígio.
Heroes of the Storm teve seu circuito competitivo, a HGC, com ligeira popularidade entre os fãs de MOBA. Mas sempre esteve vários passos atrás no grande tabuleiro dominado por League of Legends e DotA 2.
World of Warcraft, por sua vez, também contou com campeonatos “underground” para os fãs de esports, mas não deixo escapar aqui que já contou com edições da Copa América. Teve seu mérito e é amado por muitos brasileiros.
Claro que todos esses jogos aqui vão demandar recursos, tempo e cuidado para voltarem a ter certo prestígio — coisas que a Blizzard não conseguiu dedicar nos últimos anos. Mas, se tem um momento para tentar sonhar com isso, é agora.
Sonho vs. Realidade
Nem só de sonho vive o gamer. Em quesito de execução nos esports, a Microsoft será testada ao máximo a partir de agora. Isso porque, de uma só vez, abraçou duas ligas que são as maiores que ela já teve até agora. E, tradicionalmente, eles nunca foram tão envolvidos assim na parte competitiva.
Halo mostra, por si só, que a intenção da Microsoft sempre foi “terceirizar” a parte de esports. O cenário foi desenvolvido pela MLG até 2016, depois entregando para a 343 tocar essa parte. Claro que sempre existiu o investimento por trás, mas só quando havia muito interesse ou pressão.
Age of Empires 2 saboreou, por anos, um cenário competitivo consistente e com premiações boladas (até já contamos algumas histórias sobre isso). Mas isso sempre veio da comunidade e, posteriormente, ganhava um suporte ou uma divulgação simples da empresa quando chegava a níveis realmente impactantes.
Ao contrário da própria Activision Blizzard, que desenvolvia o cenário competitivo já nos primórdios do desenvolvimento de um jogo, a Microsoft sempre foi passiva nessa parte. Um fluxo que, nos dias de hoje, é contrária com a de empresas nativas dos esports como Valve e Riot Games.
Se tem algo que a compra pode — e deve — ajudar a empresa de Bill Gate é nisto.
Depois de toda essa brincadeira, a Microsoft provou que tem dinheiro. Está se jogando nos esports como um carry full buildado 19/0 e com o dedo atolado no mouse pronto pra próxima fight. Mas resta ainda provar que sabe finalizar a partida.