O primeiro capítulo da história da 100 Thieves no League of Legends dificilmente poderia ter sido melhor. Para uma organização recém admitida ao sistema de franquias da América do Norte, uma segunda colocação no Spring e uma classificação para o Campeonato Mundial no Summer foi muito mais do que se esperava.
Enquanto a também novata Clutch Gaming comprou o núcleo de um roster já estabelecido e OpTic Gaming e Golden Guardians investiram pouco, Matthew “Nadeshot” Haag recrutou nomes de peso e experiência. Com investimento do Cleveland Cavaliers, trouxe jogadores que dariam identidade e poder de fogo para competir pelo título, além de um técnico em Neil “pr0lly” Hammad que traz uma filosofia estratégica específica.
Ao longo do ano passado, os Ladrões adotaram um estilo focado em macro, no qual lentamente angariavam vantagens para fechar as partidas. Na segunda etapa, levaram em média 37 minutos para finalizar, o que tornou-se uma das maiores críticas contra eles. Em comparação, a campeã Team Liquid precisou de cinco minutos a menos.
No que o time pecou em proatividade, entretanto, indivíduos como Kim “Ssumday” Chan-ho e Zaqueri “aphromoo” Black compensaram em talento. Foram vários os jogos nos quais o topo carregou por conta própria. O suporte, por sua vez, conseguiu o prêmio de Jogador Mais Valioso do primeiro split às custas de excelentes desempenhos com Braum e Thresh.
A 100T teve algumas questões ao longo do caminho — trocaram William “Meteos” Hartman por Andy “AnDa” Hoang e mandaram Cody “Cody Sun” Sun para o banco, por exemplo. Mas isso não os impediu de chegar no Worlds. Lá, porém, a campanha não foi satisfatória. Claro, foram sorteados para um grupo com as eventuais finalistas Fnatic e Invictus Gaming. Mas o objetivo era ao menos passar de fase, o que no fim não foi alcançado.
Sabendo disso, era evidente que mudanças estavam propensas a acontecer. A equipe tinha fraquezas claras com Ryu “Ryu” Sang-wook na rota do meio, além das ocasionais tendências suicidas na posição de atirador. Formavam uma boa unidade, mas provavelmente nunca evoluiriam a ponto de ir longe nos torneios.
A chegada de Bae “Bang” Jun-sik — e em menor grau Choi “huhi” Jae-hyun — serviu para propulsioná-los ao próximo patamar, no que concerne a percepção do público. Com essas duas adições, a avaliação dos rubro-negros disparou e muitos os consideraram uma força a ser reconhecida. David “Phreak” Turley até chamou-os de supertime no início da transmissão da primeira rodada.
Tudo fazia sentido: Ssumday foi o melhor top laner da LCS em 2018 e cada vez mais aprimora o nível de inglês. AnDa, mesmo sendo essencialmente um novato, foi um dos pontos fortes do esquadrão no Mundial. huhi, mesmo não sendo muito de um upgrade individualmente em relação a Ryu, seria um mid laner prestativo, com sinergia prévia com aphromoo e boa adaptabilidade. E claro que Bang viria para tentar tomar o posto de melhor adcarry da região.
Mas dois encontros após a abertura da liga, eles não parecem tão super assim. A 100 Thieves senta no fundo da tabela, com derrotas para Team SoloMid e Cloud9. E estas nem mesmo foram muito próximas. Eles simplesmente cometeram erros bobos e constantes. Algo que seria compreensível se tivessem reformulado o plantel inteiro, mas na realidade mantiveram três membros originais e a comissão técnica.
Nos dois games, as performances foram dignas de uma line-up vindo de fila ranqueada. Foi como se não soubessem ainda se comunicar direito ou então tivessem atraso para receber informações uns dos outros. Aos onze minutos do confronto contra Søren “Bjergsen” Bjerg e companhia, por exemplo, houve falta de coordenação ao contestar visão do rio.
Eles tinham ciência de que Matthew “Akaadian” Higginbotham estava nas redondezas do Dragão. Mesmo assim, huhi resolveu avançar a onda de minions do mid — o certo a se fazer — , mas AnDa e aphromoo não respeitaram o poder de iniciação do Disparo de Gancho da Camille e do combo do Alistar. Eles também não levaram em conta que o Sion de Sergen “Broken Blade” Çelik tinha Ultimate, enquanto Ssumday não tinha Teleporte para acompanhar. Em desvantagem numérica, cederam First Blood e um segundo abate.
Três minutos mais tarde, fizeram leitura errada e, por ter empurrado as rotas do meio e inferior, julgaram que tinha vantagem de tempo. Mas àquela altura, os campeões da TSM já podiam igualar o push da wave, acessando os objetivos neutros com facilidade. A 100T ignorou a possibilidade de uma luta, seguiu em frente com a execução do Infernal e se viu punida com outro engage do Sion. Livre para bater, Jesper “Zven” Svenningsen pegou um Triple Kill e comandou a vitória com Ezreal.
Contra a C9, os equívocos começaram a ocorrer coincidentemente no mesmo período de tempo. Mesmo sabendo que seria um dois contra três — huhi acabara de dar recall — e tendo visão da dupla jungle-mid inimiga, AnDa iniciou com a Paranoia do Nocturne para cima de Eric “Licorice” Ritchie. Este, contudo, tinha Cronômetro e conseguiria comprar tempo para os colegas chegarem. E foi o que aconteceu: somente um abate contra dois dos alvicelestes.
Aos quatorze minutos, huhi e AnDa decidiram contestar o Arauto do Vale mesmo sem os Feitiços de Invocador. Com a onda do mid avançando contra a 100T, estando frente a campeões de hard engage e ainda por cima sem Torre T1, era um objetivo que deveria ter sido deixado de lado.
O golpe final aconteceu quatro minutos depois. Os vice-campeões do Spring esqueceram de ao menos equilibrar a leva do mid, o que permitiu que os adversários acionassem o Arauto e tivessem completa vantagem de pressão. Mesmo com essa desigualdade e estando muito fracos em comparação — Ryze e Kai’Sa precisavam de tempo pra dar scale — , a 100T decidiu lutar pelo segundo Infernal.
aphro optou pelo flanco, mas o lance era telegrafado uma vez que ele não estava junto dos companheiros. Tristan “Zeyzal” Stidam acabou cantando a jogada — como revelado em vídeo oficial dos semifinalistas — e a C9 reagiu instantaneamente à iniciação. Venceu a briga, ficando na frente de tal forma que era impossível de se recuperar.
Os problemas da 100 Thieves são muitos. Comunicação, tomada de decisão, mecânica… Até não saber quando estão fortes, marca registrada do suporte veterano. aphromoo é conhecido por saber quando pode lutar, vide o lance entre Counter Logic Gaming e Liquid no Game 3 da NA LCS 2016 Summer. Após passar o mapa inteiro atrás, ele garantiu que aquela era a hora da virada. E estava certo. Mas esse elemento não esteve presente até então.
É claro que, com uma semana de competição, não dá para apenas excluí-los da corrida pela glória norte-americana. Eles podem muito bem se recuperar, corrigir essas falhas e subir na tabela. Mas é difícil negar que é estranho que um esquadrão tão antecipado como esse esteja sofrendo com uma desconexão tão grande.