Para qualquer fã do League of Legends coreano, é difícil esquecer da final do Korea Regional Finals 2017 entre kt Rolster e Samsung Galaxy. Na visão de muitos — inclusive quem vos escreve — , uma vitória da empresa de telecomunicação era basicamente garantida. Lee “Crown” Min-ho e companhia mal haviam derrotado a Afreeca Freecs e ainda por cima tinham um recorde negativo contra a oponente ao longo do ano.
Mas todos estavam errados. A Samsung, na realidade, acabou vencendo a série por 3 a 0. Os sets foram apertados, mas a sensação era de que em todo instante tinham controle da situação. Eles prosseguiram para o Mundial, passaram pelo grupo da morte, chegaram na final e lá destronaram a SK Telecom T1.
Vendo aquela partida se desenrolar, eu não pude deixar de espelhar o semblante dos jogadores da kt. Perder no Gauntlet e falhar em classificar para o Worlds era o pior que poderia ocorrer para um time que fora projetado para vencer tudo. Simplesmente não fazia sentido e, de cara, dava para sentir um vazio rastejando por dentro do corpo.
Esse não foi o sentimento, porém, que senti quando o supertime foi eliminado do 2018 World Championship nas quartas de final, para a Invictus Gaming. O que é estranho, porque sempre que pensava na imagem de Song “Smeb” Kyung-ho, Go “Score” Dong-bin, Son “Ucal” Woo-hyeon — ou antes dele Heo “PawN” Won-seok — , Kim “Deft” Hyuk-kyu e Cho “Mata” Se-hyeong levantando a Summoner’s Cup, rapidamente ficava emocionado.
O fato é que, quando eles foram completamente dizimados nos dois primeiros mapas — tendo o Nexus destruído em 30 e 26 minutos, respectivamente — eu me conformei com o stomp. A surra tinha sido tão grande que amorteceu o baque, pelo menos momentaneamente. Então mesmo com o milagroso base race e o dominante quarto jogo, eu não criei esperanças que pudessem ser quebradas numa eventual derrota. Sorte, porque de fato perderam.
Não tive raiva. Não houve lágrimas. Tampouco vazio. Continuei o que estava fazendo antes como se nada tivesse acontecido. Mas conforme os dias foram passando e os match-ups das semifinais foram se revelando, a ficha caiu de que um dos melhores elencos já montados na história jamais poderá ganhar o Mundial.
É, o supertime acabou.
PawN e Deft foram para a Kingzone DragonX e Mata foi para a SKT. Era inevitável, para ser sincero. Foi um milagre terem continuado juntos após o fracasso de 2017. E com jogadores tão orgulhosos como Smeb e Mata — que ainda por cima, aparentemente, não concordavam na maneira de se jogar — , era questão de tempo até a separação ocorrer. Mas foi uma montanha-russa e tanto, hein?
Ainda lembro da excitação do público quando a OGN apresentou o plantel ao vivo no estúdio. O Natal estava próximo, então a arena estava tematizada com presentes, flocos de neve e árvores. Os jogadores desceram timidamente, um a um, as escadas em direção ao palco, todos vestindo um protótipo de uniforme. Ao longo do show, trocaram elogios e piadas para quebrar o gelo e no fim jogaram uma custom com sortudas pessoas da arquibancada. O clima era ótimo entre os cinco.
Eu, particularmente, sou contra a montagem de super rosters. Não gosto quando organizações compram os melhores jogadores para instantaneamente encontrarem sucesso. A Team Liquid esse ano na League Championship Series e o OpTic Gaming no Call of Duty são exemplos. Mas o LoL vinha sendo dominado por muito tempo pela SKT e um grupo que pudesse desafiá-la era bem vindo.
Essa line-up não foi a mais simpática e vibrante da história da LCK, como a ROX Tigers. Também não foi a mais vitoriosa, como as variadas versões da SKT. Mas ela foi única no sentido de que, seja em derrota ou vitória, conseguiu proporcionar momentos de prender a respiração tanto para quem apoiava, como também para quem torcia contra. Tamanho era o talento nela.
Eu garanto que todo mundo lembra da primeira Telecom War de 2017. Como poderíamos esquecer? Teve de tudo. Heo “Huni” Seung-hoon e Smeb de Rumble, Faker e PawN de Zed, Shockwave divina do melhor da história para segurar o segundo mapa… E para finalizar, a SKT impedindo a investida final da kt e dando o Ace com o Nexus na metade da vida para virar a mesa. “Bate no Nexus, bate no Nexus!”, foram os comandos de Mata, ignorados, mas que provavelmente não saíram da cabeça dos companheiros por um bom tempo.
Não falei que a kt trouxe alegrias para todos os lados? Mesmo perdendo para a rival, assistir uma partida do mais alto nível, como essa, foi um prazer imenso. Mas é claro que depois, quando os reveses voltaram a se repetir, a memória se tornou amarga. Afinal, tudo isso levou a um bloqueio mental contra a SKT.
Pior foi a semifinal da etapa de Verão, quando abriram um 2 a 0 convincente às custas da Kalista de Deft e do Thresh de Mata, apenas para levar a virada nos três sets seguintes. Tal série valia classificação direta para o Mundial e vaga na final contra a Longzhu Gaming, time o qual haviam derrotado na última semana da fase regular.
Para alívio do fã alvirubro, o jogo virou nas Telecom Wars de 2018. A kt passou a ser capaz de bater a inimiga — mas sem deixar de produzir lances de soltar faísca. Isso tinha um significado tão grande que Deft até chorou após completarem esse objetivo na segunda semana do Spring. Especialmente porque quem carregou foi ele e PawN, com Ezreal e Azir.
O problema é que uma nova adversária surgiu como pedra no sapato. Similar ao que aconteceu com a SKT no ano anterior, a kt simplesmente não conseguia passar pela Kingzone. E terminou o ano, mesmo campeã da LCK, sem o fazer. Por alguma razão, decisões questionáveis aconteciam constantemente, como o pick de Fiora ou enviar todo mundo para o bot com o Barão vivo.
Pelo menos contra a Samsung — e as duas versões posteriores dela — a kt se dava melhor. Foi após um Perfect Game que Christopher “MonteCristo” Mykles escreveu o famoso “Sabe de uma coisa? Eu vou ficar empolgado pela kt!” que todos sempre temeram repetir. De alguma forma, o supertime ainda conseguiu um segundo jogo perfeito contra a adversária.
Que tal a semi do Spring de 2017? Eles optaram por direcionar banimentos a Park “Ruler” Jae-hyuk, tendo em vista que naquela época ele ainda tinha uma champion pool pequena. Deft e Mata dominaram a fase de rotas, com o atirador selecionando a quase imbatível Jinx para fechar o caixão.
A MVP é outra equipe frequentemente associada à kt. Isso porque foi contra ela que Jeong “Max” Jong-bin se lançou para o mundo. Tanto pelo Quadra Kill de Sion como também pelo roubo de Barão com Thresh. Esquadras como Hanwha Life Esports e Jin Air Green Wings também costumavam incomodar — a primeira por um caótico Early Game movimentado por Yoon “SeongHwan” Seong-hwan e Kim “Key” Han-gi, a segunda pela obstinação de Park “Teddy” Jin-seong —, então era frustrante ver a nossa volatilidade e capacidade de entregar.
Mas houve também momentos bons. Os melhores, talvez. Quando a kt venceu a ignorável KeSPA Cup contra uma Longzhu reforçada por Han “Peanut” Wang-ho, foi uma luz no fim do túnel que dizia que 2017 poderia ser o ano dela. E acabou sendo, de certa forma, com o titulo do Summer e o fim da perseguição implacável de Score.
Eu nunca investi tanto sentimentalmente em um time. E provavelmente não existirá outro que me faça sentir com tamanha intensidade. Eu acordei de madrugada para assistir os jogos, até mesmo quando estava em viagem para ver a decisão do Spring de 2017. As interações de Smeb com Deft — na maioria das vezes com o atirador sendo caçoado —, o dia em que carregaram a tocha das Olimpíadas de Inverno em rede nacional, tudo isso foi impagável. Tremi em cada partida decisiva, comemorei nos triunfos e fiquei triste nas desgraças. E valeu a pena.
Sentiremos sua falta, supertime.