Onze anos atrás, em 2013, quando o cenário nacional e até internacional ainda engatinhava no League of Legends, e nem mesmo Faker era campeão mundial, paiN Gaming e Lyon Gaming se enfrentaram no primeiro duelo entre Brasil e América Latina. O jogo foi na primeira fase classificatória para as regiões minor no Campeonato Mundial de 2013.
Naquela época, a paiN, campeã do CBLOL 2013, tinha Venon, SirT, Kami, brTT e Espeon. Eles perderam apenas uma partida na fase de grupos do IWCT, justamente para a Lyon Gaming – a paiN avançaria para a final, mas perderia a vaga para o Worlds 2013 para a GamingGear, da Lituânia.
Onze anos depois, no que poderia ser a última partida competitiva da história de uma equipe do CBLOL ou da LLA, a paiN reencontrou o mesmo adversário (com o nome atualizado para Rainbow7 em 2018), valendo uma vaga na Fase Suíça do Mundial – fase essa que o Brasil sonha em disputar desde 2016, e que a América Latina, como um todo, nunca atingiu.
Um sonho que é mais fácil de cobrar do que de sonhar. A paiN, no entanto, ousou sonhar.
Me pergunto sempre por que nos colocamos como favoritos contra regiões que, desde 2016, têm vencido o Brasil constantemente, principalmente Vietnã, mas até mesmo as finadas regiões do Japão, Turquia, Austrália e CEI/Rússia.
Nestes tempos sombrios de expectativas altas para campeonatos internacionais e sucessivas falhas – que passaram, inclusive, duas vezes pela KaBuM de dyNquedo e TitaN, e pela RED Canids bicampeã de TitaN, além da paiN Gaming de Cariok em 2021 – o mais fácil para o CBLOL foi fechar-se em si mesmo, transformando-se, através de sua própria comunidade, em uma das ligas mais engajadas do mundo.
Um fato que aconteceu através de necessidade, e não de sonho.
A necessidade de provar para a Riot o poder da comunidade, das costreams, da imprensa, da torcida, das organizações, dos jogadores e das histórias de um cenário que se recusou ser deixado para trás, como as antigas rivais de outras partes do mundo.
Mas isso nunca deixou o sonho de disputar os grandes jogos internacionais morrerem.
Em 29 de setembro de 2024, após cinco vice-campeonatos nacionais, a paiN ultrapassou a sua necessidade de se provar no Brasil e ousou sonhar em ser a equipe que quebraria a maldição que começou apenas um ano após a própria paiN de 2015 conseguir a – ainda – melhor atuação brasileira em um palco internacional.
O destino caprichou em escolher a mesma adversária de onze anos atrás: duas regiões que disputavam não apenas um sonho de Fase Suíça, mas a paixão de seus cenários, que dão adeus individualmente para se unirem em uma Conferência Sul que, em um mundo sem ganância, não precisaria existir.
O destino também caprichou que fosse da maneira mais brasileira possível: sofrida, no grito, na resiliência, na entrega. Em abrir mão do seu para confiar no outro.
Somente desta maneira conseguiríamos chegar lá, através de flancos coreanos, cliques brasileiros, cabelos ao chão e lágrimas pelo rosto.