Quatro minutos após o início da transmissão, o atirador imortal Go “Score” Dong-bin emerge do túnel em meio a uma tempestade de confetes. Ao lado dele, os outros nove finalistas marcham em direção ao troféu, disposto no meio do campo. Todos estão com rosto sério conforme “We Are The Champions” é cantado.
Quando a apresentação acaba, a câmera corta para a entrevista pré-partida na qual os jogadores dão opiniões sobre a decisão. Com a voz aguda, Score recorda que “assistindo outros times levando a Champions, nós continuamos tentando de novo e de novo, pensando que queríamos ser campeões também”. É a primeira vez dele em final, assim como de todos no palco. Todos estão sedentos.
A caminho do título, Score, Choi “inSec” In-seok, Lee “KaKAO” Byung-kwon, Ryu “Ryu” Sang-wook e Won “Mafa” Sang-yeon derrotaram CJ Blaze e CJ Frost. A primeira série por 3 a 2, a segunda por 3 a 0. Jung “Impact” Eon-yeong, Bae “Bengi” Seong-woong, Lee “Faker” Sang-hyeok, Chae “Piglet” Gwang-jin e Lee “PoohManDu” Jeong-hyeon, por sua vez, passaram por Jin Air Falcons e MVP Ozone, num total de seis mapas a um.
Depois de todos os videos de hype e dos Picks & Bans, os jogos de fato iniciam. A kt Bullets toma a dianteira, com Score tendo mais participações que qualquer companheiro nas duas primeiras vitórias. Ele se mostra verdadeiramente dominante de Ezreal e Tristana. O terceiro mapa, porém, termina em revés, numa destruição que acaba em surrender aos 20.
O grupo de Kim “kkOma” Jeong-gyun parece revitalizado depois disso e vai garantindo vantagens meticulosamente. Eles ganham o quarto jogo com boas lutas no Mid Game e repetem a dose no último, sempre garantindo abates para Faker e Piglet.
Os rubro-negros estão totalmente atônitos, em especial inSec e Ryu, incapazes de encaixar o jogo que funcionara tão bem havia pouco. A SKT não desacelera, continua acumulando eliminações e — num golpe final — Faker faz a icônica jogada de Zed utilizando Purificar e Sombra Viva. A derrota vem como um baque e Score está eliminado de uma grande final pela primeira vez.
Dessa vez o dia é 29 de agosto de 2015, duas temporadas depois. O evento agora é num ginásio coberto — o Korea University Tiger Dome — e a adversária é novamente a SK Telecom. Mas é um encontro muito diferente do que da última vez. Jang “MaRin” Gyeong-hwan, Bae “Bang” Jun-sik e Lee “Wolf” Jae-wan são titulares pelos campeões mundiais e dominaram o cenário coreano ao longo do ano. Eles vêm para essa final com um record de 17–1.
As arquibancadas estão preenchidas com torcedores, seja no térreo ou no segundo andar. Alguns agitam bandeirões, outros fazem barulho com bastões infláveis. Duas dúzias de holofotes sobrevoam o local, iluminando de forma aleatória quem está presente.
Os telões começam a exibir highlights da kt. Primeiro a conquista da HOT6iX Champions Summer 2014, da qual Kim “Ssumday” Chan-ho e Noh “Arrow” Dong-hyeon fizeram parte. Depois, jogadas da fase regular e da disputada semifinal contra a KOO Tigers. “É a kt do Verão”, os narradores coreanos comentam, dando deixa para o clip cortar e os jogadores entrarem.
Score é o primeiro a aparecer. É o hyung, o veterano, e chegava na primeira final desde que mudara da bot lane para a selva. Junto de mais sete colegas, caminha decididamente em direção ao palco, onde se posiciona para saudar a audiência. Na frente, canhões cospem fogo e com a música, criam um efeito ameaçador. De repente, tudo fica escuro e a equipe se dirige para a cabine da direita.
O caçador é visto pela próxima vez já em Summoner’s Rift. No pré-jogo, ele falou em se vingar da rival da telecomunicação pelo reverse sweep de 2013. Ganhar a melhor-de-cinco em homenagem ao ex-companheiro Ryu, que até aquele dia estava morrendo em decorrência da jogada de Zed. Mas a partida é criada e, como sempre, Faker está inspirado. Esmaga a kt em três e é nomeado MVP pelos desempenhos de Azir, Diana e Riven.
Score, de novo, tem que se contentar em assistir outros levantando a taça.
Jamsil Sports Complex, 20 de agosto de 2016. Outro Summer Split, outra final para Score. E essa é a hora, a grande oportunidade de levantar a orelhuda. Afinal, não tinha nenhuma SKT pela frente para derrubá-los. A própria kt tratou de fazer isso na rodada anterior, com o jungler veterano sendo muito superior a Kang “Blank” Sun-gu. Só basta passar pela ROX Tigers.
A banda Guckkasten começa o show diante de um público munido de bastões verdes. Quase o estádio inteiro está balançando o item. Atrás dos cantores, dois elevadores estão erguidos nas laterais do telão central e é deles que descem os tigres. Han “Peanut” Wang-ho, Hae “Cry” Sung-min e Kang “GorillA” Beom-hyeon de um lado, Song “Smeb” Kyung-ho, Kim “PraY” Jong-in e Lee “Kuro” Seo-haeng do outro. Quando param, vão até a plataforma do meio e aguardam ao lado do troféu.
Embaixo deles, uma grande parede arredondada com a foto dos jogadores da kt começa a girar. Finalmente, Score e companhia aparecem em meio à nevoa e confetes, todos de braços cruzados. Eles se viram e encaram os inimigos, certamente pensando no que gostariam de fazer com eles dentro do Rift.
A série começa com um stomp da ROX. Kuro domina de Taliyah, acertando Empurrões Sísmicos em diversas lutas e usando o Muro da Tecelã de forma inteligente. Song “Fly” Yong-jun, porém, responde na mesma moeda e também impressiona com a campeã. Esse toma-lá-dá-cá continua e, duas horas e meia depois, os narradores anunciam que haverá um quinto jogo.
A partida decisiva é equilibrada, na maior parte do tempo. As esquadras procuram criar jogadas, mas nada de muito sangrento acontece. Contudo, a kt está num timer, uma vez que tem Gangplank e Sivir do outro lado. Eles precisam encontrar uma abertura e o fazem aos 34 minutos. Acham Peanut na selva, o matam e vão direto para o Barão. A vida do monstro cai com velocidade e a Barragem de Canhão do Gangplank é ouvida. E então…
“O Barão é feito… Ó, feito por Smeb! Smeb roubou o Barão, Smeb roubou o Barão”, brada Erik “DoA” Lonnquist em espanto. Score errara o Smite por dois de vida e agora precisa correr enquanto Fly, Arrow e Ha “Hachani” Seung-chan se sacrificam. Era a chance de solidificar uma liderança de ouro e finalizar, mas é a ROX que, logo na sequência, vira a mesa e dá o GG.
Score aparece uma última vez para receber o prêmio de melhor KDA da posição. Sem expressão facial, um olhar vazio e cabisbaixo. Engolindo as lágrimas e tentando esconder dos apoiadores a decepção do ocorrido. Ele recebe o cheque e o buquê de flores, agradece e volta a ficar absorto em pensamentos. Sabe que essa derrota é por conta dele.
22 de abril de 2017. Sem supresas, a oponente é a SKT. Mas as line-ups estão remodeladas e em volta do caçador foi construído um supertime com Smeb, Heo “PawN” Won-seok, Kim “Deft” Hyuk-kyu e Cho “Mata” Se-hyeong. Uma máquina feita para bater uma tricampeã mundial com Heo “Huni” Seung-hoon e Peanut.
O Incheon Samsan World Gymnasium, com capacidade para mais de sete mil pessoas, está cheio. As luzes estão apagadas e só dá para enxergar os jogadores lá na frente. Eles parecem deuses por causa dos faróis, estão num patamar acima dos meros mortais e prontos para digladiar. O enredo daquela final se baseia em volta de Faker e Mata, de como o suporte tem boa marca de vitórias contra o meio e pode alcançá-lo. Então são eles que ficam mais próximos ao troféu.
No regular, as organizações travaram embates disputadíssimos, decididos no último detalhe. A kt nunca levou a melhor, perdendo os dois encontros por 2 a 1, mas a campanha até a final foi promissora. Derrotaram de forma limpa MVP e Samsung Galaxy. Então, quando Faker aparece no palco sentado em um trono, cria-se esperança de que enfim poderia ser derrubado.
Mas não dá nem pra mover um fio de cabelo do melhor da história. Em dois de três jogos, Score cria uma vantagem para si e às vezes para os companheiros, mas a diferença de habilidade entre os mid laners é enorme. Faker simplesmente acaba com o antigo algoz. Carrega o primeiro mapa de Fizz e depois consegue se destacar com campeões de suporte como Karma e Lulu.
E mais uma vez Score perde uma final.
As luzes do Incheon Samsan World Gymnasium estão apagadas. Uma melodia lenta e triste reverbera pelos alto-falantes e todos na arena instantaneamente ficam em silêncio. Eles sabem o que aquilo significa: é a última final organizada pela OGN, que em 2019 terá que entregar o torneio para a Riot Games. O narrador Jeon Yong-jun prossegue com a introdução até que fogos estouram ao redor das cabines. Nesse momento, o palco começa a emitir fortes luzes em formato de engrenagem, que rodeiam e iluminam o ambiente inteiro.
Antes que dê para se dar conta, os nove jogadores da kt estão organizados na área em frente à taça. Cada um faz uma pose e Score reverencia a câmera timidamente. Ele ostenta um corte de cabelo novo, com um leve topete em vez de franjas. O sexteto da Griffin — antagonista da vez — vem em seguida e se desloca para o lado oposto, ficando cara a cara. Está tudo pronto para a decisão.
Os meninos de Oh “ZanDarc” Chang-jong tiveram vantagem sobre os de Kim “cvMax” Dae-ho durante a etapa. Foram a única formação capaz de bater nos novatos nos dois Rounds do Verão e por isso conseguiram a classificação direta para a final. Mas a Griffin vem preparada com campeões extremamente tanques como Cho’Gath, Zac e Urgot mid. Fica difícil para o Viktor de Son “Ucal” Woo-hyeon e a Jinx de Deft perfurar a Placa Gargolítica deles. Então, Park “Viper” Do-hyeon se aproveita disso, tira onda de Kai’Sa e o primeiro game termina em derrota.
Score tem outros planos, entretanto. Com certeza não quer perder e seleciona Taliyah para o segundo. Com as sidelanes vencendo, domina Lee “Tarzan” Seung-yong e não permite que ele encoste em um único Aronguejo. A vitória, assim, vem com relativa facilidade. É como se estivesse lendo o oponente como um livro.
Mas logo tudo se complica. A Griffin tira o terceiro jogo e deixa a kt à beira do precipício. A situação piora quando eles entregam várias kills no início da partida quatro. Se fosse em 2017, seria o fim da linha. Colapso mental e explosão de Nexus. Nunca que o supertime conseguiria ser disciplinado o suficiente para retornar de um déficit. Às vezes, até mesmo quando tinham dez mil de ouro à frente tratavam de entregar. Eles teriam ficado no quase outra vez.
Mas a kt de 2018 não é de largar o osso, nem se o prédio estivesse desmoronando em volta dos players. Eles optaram, no início do ano, por continuar juntos apesar do fracasso, no intuito de garantir um título para Score e alcançar alturas nunca antes percorridas por ninguém no cenário. Então, mesmo contra todas as expectativas, eles se mantêm unidos e focados na resolução do problema em questão: o Malphite de Choi “Sword” Sung-won e o Gragas de Son “Lehends” Si-woo.
Mata faz um engage heróico de Alistar de forma a parar a execução de Barão da Griffin. Smeb impede todo e qualquer flanco por parte dos inimigos. Ucal elimina Jeong “Chovy” Ji-hoon enquanto este tenta dar recall para defender a base. Score compra tempo suficiente para os carries nascerem. A kt faz tudo basicamente perfeito para voltar para o jogo e rouba a vitória das mãos dos novatos.
Na cabine da Griffin, semblantes de confusão. Tarzan tem os braços levantados como se estivesse derrotado e com a energia drenada. Na da kt, sorrisos e abraços que normalmente só acontecem ao final de uma série. “A kt consegue sentir!”, exclama Christopher “PapaSmithy” Smith ao ver essa imagem. E eles realmente conseguem. Tanto que, no quinto mapa, eles agarram a liderança de ouro e não soltam mais. Só largam os equipamentos aos quarenta minutos, quando quebram o Nexus.
“Go Dong-bin! Go Dong-bin! Go Dong-bin”, clamou a torcida espontaneamente quando chegou a hora de Score falar na entrevista. Smeb e Mata, empolgados pelo amigo, se uniram ao coro. Era a forma de levantar uma lenda que ficara na seca por 78 meses.
Torcida presente na final da #LCK grita “Go Dong-bin”, nome de Score, jungler da KT. pic.twitter.com/k2OEDQnWPP
— Mais e-Sports (@maisesportsbr) September 8, 2018
Ele era de longe o maior jogador a nunca ter vencido na carreira. Por três anos consecutivos foi o melhor caçador do mundo e só precisava de um troféu para legitimar esse argumento. Vencer a Griffin, um time de novatos — Chovy é quase uma década mais novo que ele — serve para mostrar que as mecânicas do veterano de 26 anos não estão deteriorando.
Falha após falha, era inevitável questionar se Score penduraria mouse e teclado. Quanto mais velho um pro gamer fica, mais próximo ele está de ser substituído por alguém mais novo e melhor. Ou então de ser convocado para o exército. Mas ele foi sempre capaz de se reinventar. Trocou até de posição na época do Êxodo Coreano. É até poético que a pessoa jogando há mais tempo ganhe a última final da OGN.
Esses últimos doze meses vêm sendo os da redenção. Kang “Ambition” Chan-yong levantou a Summoner’s Cup, Jian “Uzi” Zi-Hao conseguiu seu primeiro e não parou mais e agora Score terminou a perseguição implacável por um campeonato. Não só isso, mas também foi o MVP da final. Será que ele consegue o Mundial em outubro?